As séries de TV americanas alcançaram um nível de qualidade impressionante nas últimas décadas, e a HBO pode ser considerada uma das responsáveis por isso, ao entregar atrações como Família Soprano, Oz, Game of Thrones e a recente Westworld. Logo, há muita expectativa quando o canal aposta em uma nova série e, novamente, o público não vai se decepcionar.
Baseada no livro de 2014 de Liane Moriarty, Big Little Lies mostra a vida aparentemente perfeita de várias famílias da Califórnia, que precisam lidar com seus problemas domésticos, o novo ano das crianças na escola e um assassinato. No centro da história está Madeline Martha Mackenzie, personagem que Reese Witherspoon encarna com uma perfeição que chega a assustar. Com personalidade forte e divertida, ela é a “abelha rainha” das mães perfeitas da cidade, apesar do ex-marido e da filha adolescente com quem não se dá bem.
Junto à ela está Celeste (Nicole Kidman), que representa toda a perfeição frágil daquele mundo: linda, com filhos gêmeos e casada com o galã Perry Wright (Alexander Skarsgard), ela parece ter o que todos desejam, mas também esconde seus problemas particulares depois que todos vão dormir. A mais deslocada do trio é Jane Chapman (Shailene Woodley), uma mãe solteira, recém-chegada na cidade, que não pensa como as pessoas de lá, não se veste como as pessoas de lá e não faz questão de agir como elas. Apesar disso, por conta da enorme simpatia de Madeline, ela acaba envolvida nesse mundo.
[Cuidado com possíveis spoilers abaixo]
Começando no primeiro dia de aula das crianças, a atração aposta em uma narrativa lotada de flashbacks para mostrar que, em algum momento dessa vida perfeita, um assassinato aconteceu e, pelo menos até final do primeiro episódio, não se sabe quem matou e quem morreu. Nesse momento, Big Little Lies se sobressai pelo suspense que causa no espectador: qualquer uma daquelas pessoas “perfeitas” pode ser a culpada. Claro, a narrativa criada por David E. Kelley (Mr. Mercedes, Goliath) quer levar o espectador a concluir algumas coisas: “Madeline é muito esperta, será que ela foi morta?”, “Essa Jane parece estranha, será ela a assassina?”. Porém, pela qualidade do livro, que ficou na lista dos mais vendidos do The New York Times na época de seu lançamento, existe grande potencial para reviravoltas que cheguem a um final surpreendente. Todo o visual também contribui para isso, principalmente nas cenas de final de tarde/noite, que apostam nas belas paisagens da Califórnia para mostrar os personagens pensativos à meia-luz.
Vale citar também que todos os sete episódios têm a direção de Jean-Marc Vallée, responsável por Livre (também com Witherspoon) e Clube de Compras Dallas. Para quem conhece as duas produções, é possível sentir o estilo do diretor nas tomadas, que focam bastante na expressão das emoções no rosto dos personagens.
A qualidade geral de Big Little Lies vai depender muito de como a história será encerrada, e se todo esse suspense valerá a pena. No caso de um final sem emoção, todas essas qualidades serão perdidas e a série se tornará mais uma que poderia ser memorável e não foi. Bem sucedida nas suas intenções, deve agradar em cheio o público, principalmente aquele que cresceu assistindo Meninas Malvadas, Gossip Girl e está acostumado com muitas intrigas, mentiras e joguinhos de poder que, aqui, são mais maduros e bem mais perigosos.
