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Compra da Fox pela Disney deverá causar fortes impactos na Netflix; entenda o porquê

Compra pode render problemas para serviços de streaming

Omelete
6 min de leitura
15.12.2017, às 19H15.
Atualizada em 04.07.2019, ÀS 17H43

Após semanas de negociações e especulações, a The Walt Disney Company confirmou finalmente a compra de várias divisões da 21st Century Fox, não apenas aumentando exponencialmente a influência da gigante do entretenimento como também gerando problemas para concorrentes - em especial, para a Netflix e outros serviços de streaming. O mais óbvio motivo disso é que esses serviços, além da produção própria, funcionam sobretudo como distribuidores de conteúdo e, agora, ficam ainda mais dependentes de uma única empresa para obter as séries e filmes que fazem o catálogo soar interessante ao público pela diversidade de programação.

Isso por si só seria um grande problema, mas há mais coisa: a compra vem na esteira do anúncio de que a Disney lançará seu próprio serviço de streaming, não renovando o acordo de licenciamento com a Netflix após ele ser encerrado em 2019. Isso significa que, a partir de 2019, o acervo de filmes e séries da empresa do Mickey Mouse será retirado do catálogo da gigante do streaming e, com a compra de divisões da Fox, isso poderá impactar na perda de 19% dos programas televisivos mais populares disponíveis na Netflix dos Estados Unidos, de acordo com a Folha de S. Paulo

Outro ponto nisso é que o conteúdo popular da Disney na Netflix supera em quantidade a própria produção ou distribuição exclusiva internacional através do serviço de streaming, hoje em 15% dos programas de TV do ranking IMDB 500 - separadamente, Fox tem 12% e Disney tem 9%. E não é só a Netflix que fica com parte do conteúdo ameaçado: 9% dos 500 programas mais assistidos no catálogo da Amazon Prime são da Fox e da Disney. No caso do Hulu, a questão é mais complexa, mas aparentemente menos ameaçadora: com a compra, a Disney se torna controladora do serviço, com 60% das ações da responsável por The Handmaid's Tale, ganhadora do Emmy de Melhor Série em 2017. Já se sabe que ele não será transformado no tal serviço de streaming que a Disney lançará - aparentemente, a ideia é que o novo serviço e o Hulu sejam complementares, focados em públicos diferentes.

Ainda que seja grande o impacto que a Netflix sofrerá com a compra, não é como se a gigante do streaming estivesse sendo atingida de surpresa: há um plano de que, até 2020, 50% de todo o conteúdo disponível seja produzido pela própria empresa ou licenciado diretamente dos produtores. Essa meta faz parte de uma política adotada ainda em 2013 para se tornar cada vez menos dependentes de empresas gigantes do audiovisual, como a Disney ou a Fox, por exemplo.

Alguns especialistas também analisam esse período de integração entre as duas companhias como um terreno fértil para a Netflix, já que os desafios da fusão deixariam a Disney menos disponível para investir diretamente em medidas contra a concorrência, abrindo certa vantagem para a empresa de streaming. Mas é claro que isso é um dado isolado: a Netflix também tem suas próprias questões para resolver. Por exemplo, a empresa deu indícios claros de um reposicionamento quanto à relação entre custo e audiência de suas produções - Sense8, The Get Down e Marco Polo foram cortadas em sequência, essa última após um prejuízo de US$ 200 milhões, segundo o The Hollywood Reporter. Ao mesmo tempo em que foca em produções de custo reduzido, a empresa planeja ampliar seu catálogo original - tudo isso em meio ao processo da Disney se tornar sua mais expressiva concorrente, o que não parece um cenário exatamente confortável.

E é claro que a Disney não vai pegar leve quando lançar seu serviço de streaming: ainda que a Netflix tenha conquistado uma fidelização invejável de público, a Disney tem bagagem de sobra para atrair assinantes. A empresa já revelou que tem projetos para o novo serviço envolvendo Monstros S.A., High School Musical e alguma produção original da Marvel, que não teve detalhes revelados - saiba mais. Além disso, mostrando que não está disposta a apostar baixo, a Disney planeja produzir série de TV live-action de Star Wars para seu serviço de streaming - saiba mais.

Enquanto o destino das produções da Disney na Netflix é quase certo - ainda que o serviço de streaming já esteja negociando manter os direitos de exibição de filmes da Marvel e da Lucasfilm, perdendo apenas filmes dos estúdios da Pixar e da Disney a partir dos lançamentos de 2019 -, há uma questão que tem deixado os fãs inquietos: as séries da Marvel na Netflix. Tudo o que se sabe até agora é que elas estão garantidas pelas próximas temporadas renovadas, mas nada impede novas remessas de episódios até 2019 pela Netflix - o que, aliás, mesmo em meio a esse processo, é bem provável.

Entenda toda a trajetória

A Netflix começou suas atividades em 1997 como uma espécie de delivery de locadora e, conforme a internet se tornava mais relevante, ela modificou sua lógica e passou a fornecer conteúdo online - hoje a empresa tem a receita anual de mais de US$ 11 bilhões. A questão é que isso não parecia ser um problema para a Disney, já que para ela era ótimo que o serviço de streaming quisesse distribuir seu material, dando à empresa outra forma de rentabilidade. Em 2012, portanto, a Disney assinou um acordo permitindo à Netflix exibir grande parte de suas produções, o que parecia um ótimo negócio para ambas.

Contudo, conforme crescia, a Netflix passou a representar uma ameaça a outra fonte de renda da Disney: TV a cabo, já que muitas pessoas deixaram suas assinaturas tradicionais pela mensalidade mais barata e mais interessante do streaming. Como se isso só já não fosse ameaça suficiente para a Disney, a Netflix passou também a produzir conteúdo original. Além de concorrência de serviços, a empresa de streaming se tornou competitiva também do ponto de vista de conteúdo.

Em um primeiro momento, parecia que a Disney se empenhou em surfar na onda da Netflix - as várias séries da Marvel foram um indício disso. Mas, o que parecia ser uma parceria pode ter sido um teste preliminar para não fazer parte da Netflix, mas para entender como também ser a Netflix. Enquanto a gigante do streaming começou construindo uma base de consumidores para depois empurrando seu conteúdo original para essas pessoas, a Disney seguirá pelo caminho contrário: ela já tem uma montanha de conteúdo, o que precisa agora é arrastar pessoas para seu próprio serviço de distribuição de conteúdo online.

O ponto é que antes dos anos 1980, nos Estados Unidos, empresas que produzem e distribuem o conteúdo seriam proibidas por leis antitruste, que basicamente eram responsáveis por punir práticas anticompetitivas que usam poder de mercado para restringir produção e aumentar preços. Isso significa que algumas décadas atrás, nem a Netflix poderia produzir filmes e séries e distribuí-las, nem a Disney poderia fazer o mesmo com seu vindouro serviço. Isso mudou depois dos anos 1980, quando se entendeu que empresas nessa lógica também poderiam competir com outras empresas nessa lógica.

A questão é que na teoria isso pode acontecer, mas na prática Disney se torna cada vez mais competitivas - de acordo com o The Week, a gigante formada pela Disney somada à Fox seria dona de 40% dos filmes de maior bilheteria de 2017, acumulando 31% de todas a receita do ano em bilheteria. Esse sucesso e alcance refletido na nova plataforma online pode ser um panorâma difícil de ser batido tanto pela Netflix, quanto por outros serviços de streaming - não seria uma surpresa se, assim como a Fox, eles também acabassem absorvidos.

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