Séries e TV

Artigo

Dark Matter e os truques da ficção científica na TV

Visitamos o set da série do SyFy em Toronto

14.08.2017, às 18H18.

Para viabilizar a sua nova série, a dupla Joseph Mallozzi e Paul Mullie, da franquia Stargate, seguiu a atual rota da TV: Dark Matter virou HQ em 2014, publicada pela Dark Horse Comics. Era preciso que os investidores visualizassem o conceito: um grupo de seis pessoas acorda com amnésia a bordo da nave Raza. Eles não sabem quem são ou de onde vieram e são batizados pela ordem do seu despertar - Um (Marc Bendavid), Dois (Melissa O'Neil), Três (Anthony Lemke), Quatro (Alex Mallari Jr.), Cinco (Jodelle Ferland) e Seis (Roger Cross).

A série, atualmente na sua terceira temporada no canal SyFy, lida com com a luta desses indivíduos para recuperar o seu passado e, ao mesmo tempo, confrontar as suas antigas personalidades, que nem sempre se revelam agradáveis. A premissa, situada em uma realidade dominada por grandes corporações, abre questões filosóficas - Já se nasce mau? Ou são escolhas que determinam quem são os mocinhos e vilões? - e lembra o espiríto de novos clássicos como Firefly

Ginásticas da Ficção Científica

A convite do canal SyFy, o Omelete visitou o set de Dark Matter em Toronto, no Canadá, e descobriu como Mallozzi e Mullie deram vida a uma ficção científica complexa, que aparenta ter um alto custo de produção, mas é fruto de muito planejamento (e alguns truques). Ao contrário de muitos showrunners, Mallozzi acompanha as gravações de perto, supervisionando cada passo da sua criação.

São dois estúdios que recebem a série, que trabalha com sets criados para se adaptar às necessidades do roteiro. Nada é fixo, nem mesmo a nave Raza. Seus quartos e corredores foram desenhados para se transformar - uma sala de reuniões vira uma enfermaria e o quarto de um personagem vira o de outro com apenas algumas trocas de acessórios. As paredes são móveis para facilitar as mudanças, que levam até um dia para serem concluídas.

O elenco original: Quatro (Alex Mallari Jr.), Seis (Roger Cross), Três (Anthony Lemke), Dois (Melissa O'Neil), Um (Marc Bendavid), Cinco (Jodelle Ferland) e a androide da nave Raza (Zoie Palmer)

 

Para da consistência ao universo de Dark Matter, é preciso preencher cada canto da nave, além de situá-la corretamente no espaço. Internamente, luzes e adesivos criam a ilusão de uma tecnologia avançada, enquanto algumas telas ativas são adaptadas para mostrar informações relevantes para a trama, de fichas médicas a criminais. Melissa O'Neil, a Dois, conta que não há muita lógica na forma como os atores lidam com os aparelhos da Raza. “Se não está no roteiro como devemos apertar os botões, improvisamos”. Externamente, a ilusão do espaço por um tecido preto com pontos pretos e prata. “Truques antigos acabam funcionando melhor”, diz Mallozzi. O chroma key é usado apenas pontualmente, na chegada da nave a algum planeta ou quando alguma ameaça se aproxima.

Mallozzi explica que é fundamental conhecer o set e o elenco para contornar possíveis problemas de produção e manter o orçamento, que fica em torno de US$ 2 milhões por episódio (um valor modesto comparado a outras séries do gênero, como a nova Star Trek: Discovery, que investe cerca de US$ 5 milhões por capítulo). Assim, sobras de antigos cenários se transformam - a cama de outra série foi desmontada e pintada para se transformar nos ornamentos de um palácio, por exemplo. Cuidados também são tomados para não destruir os sets - ao invés de usar sangue falso e manchar o chão, por exemplo, a equipe usa um "tapete de sangue", que imita o movimento do líquido (como nas brincadeiras com vômito falso). A alma de tudo, porém, é o cronograma da série, com diversas etapas acontecendo ao mesmo tempo. Enquanto o elenco principal grava em uma misteriosa nave, uma parte da equipe fotografava atores que apareceriam apenas em fichas nas telas dos computadores.

Dark Matter atesta que a criatividade é uma das armas da ficção científica, seja no roteiro ou nos bastidores. Mallozzi tem 5 anos planejados para a série e seu trabalho no set revela um programa que merece ser acompanhado pelos fãs do gênero, tanto pelos desdobramentos da trama, quanto pelo esmero na sua produção. 

Dark Matter é exibida às quintas no canal por assinatura SyFy.

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