Séries e TV

Artigo

Empire | Cookie continua a salvar a série das enrolações da TV aberta

Porém, clichês continuam a dominar a trama

02.10.2017, às 15H39.
Atualizada em 02.10.2017, ÀS 22H09

Toda vez que um grande drama de um canal aberto se torna um grande sucesso, é quase como se a mesma engrenagem operasse automaticamente no seu DNA. Escolas de roteiristas deveriam ter uma matéria especializada nisso: dramas de canais abertos, que sempre começam surpreendendo a crítica, ganhando prêmios e soando novas e surpreendentes. Como sempre acontece, é só uma questão de tempo até esse drama passar a recorrer a todos os clássicos truques de narrativa que garantem a sobrevida do gênero.

Quem já viu um já viu todos. E todos eles respeitam a mesma métrica. Depois que passa a primeira temporada, personalidades são mudadas de acordo com a necessidade da trama, amores são trocados como se troca de roupa, parentes nunca mencionados surgem com intenções maléficas, o controle de fortunas passa de mão em mão com a maior facilidade do mundo e isso sem falar na enormidade de casamentos, divórcios, partos e paternidades duvidosas. Tudo pode acontecer de uma semana para a outra e esse tudo é sempre parte de um velho conhecido clichê.

Com Empire não é diferente. O grande diferencial da série é o quanto de trabalho da parte musical fica evidente todas as semanas, sem que nada pareça cansado. É fato que não estamos falando de uma série que faz parte do gênero musical, ou seria necessário que os personagens cantassem em todo tipo de situação, dialogando inclusive. A série é mais um híbrido, que coloca seus personagens cantando de acordo com a regularidade disso. Se uma música é necessária em determinado momento, um show, um ensaio, algo assim é providenciado para que ela aconteça. A questão é que diante de tanta liberdade criativa, talvez fosse melhor que a série brincasse mais com o lúdico.

Cookie's Time

Quarta temporada começando e não é só o rosto de Cookie na vinheta de abertura que estabelece o quanto a personagem vem segurando as pontas. Em quase todas as semanas é Cookie quem surge logo no primeiro frame, como se estivesse ali para garantir que o público não mude pro canal adiante. O carisma dela e a maneira como é construída por Taraji P. Henson fazem com que o público continue perdoando as sequenciais barbaridades que os roteiristas promovem só para que haja história para contar enquanto os lucros forem evidentes.

Depois de uma terceira temporada bagunçada que culminou com a absurda perda de memória de Lucious, era de se esperar que o retorno fosse focado no quanto isso afetaria o clã dos Lyon. Esse tipo de recurso é tão tolo que me impressiona que alguém numa sala de roteiristas ainda consiga vender a ideia. Mas, o fato é que por causa disso alguns episódios podem ser preenchidos com as implicações igualmente óbvias. Lucious está vulnerável ao ataque de Demi Moore, que vive uma enfermeira sombria daquelas que cheiram a encrenca de longe. A amnésia veio encomendada. Já que o personagem se redimiu de tudo na finale passada, fazem-no perder a memória para garantir que esses entendimentos continuem sendo adiados. É infantil até.

Mas, olhando com atenção, a série ainda sabe vender seu peixe na organização atmosférica. O episódio foi bem editado, a música distribuída nos lugares certos e a referência equiparada ao aniversário da gravadora Mowtown faz todo sentido no universo do programa. A sequência do jantar em família, no entanto, só reforça toda essa frouxidão na carpintaria do texto. Aquelas pessoas já se amaram e se odiaram tantas vezes, por tantas razões esdrúxulas, que nada que sai delas soa meramente verdadeiro. E aí a série dá uma volta em si mesma, tornando a perda de memória de Lucious até bem situada nisso tudo: ele agora é um olhar que vem de fora e para qualquer um, tudo parece completamente ridículo.

Por fim, os minutos finais foram intensos. De certa forma, a revelação da amputação da perna de Lucious e da autoria da música de Cookiepublicamente, no mesmo momento, deu ao final do episódio um tom de grandiosidade que era necessário para a festa e para essa estreia. Se colocarmos de lado o arco inútil de Hakeena lenga-lenga da vida sempre estúpida de Andre e até a apática aparição de Carlota (da série Star), o que fica é o que sempre salva tudo: a última fala de Cookie, saindo de cena, conformada e certa de que Lucious vai se lembrar quem é ela, afinal, ela é inesquecível.

Muitas semanas de desgaste virão pela frente até que ele recupere a memória. Porém, uma coisa é certa, isso só vai acontecer quando os roteiristas souberem direitinho que já dá pra parar de enrolar o público.

Empire é exibida no Brasil pelo canal pago FOX Premium 1.

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