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Artigo

Gotham | Cinco maneiras de salvar a série na segunda temporada

Programa retorna hoje nos EUA e estreia em 28 de setembro no Brasil

21.09.2015, às 18H45.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H38

Quando estreou, em julho de 2014, Gotham prometia levar um pouco de anarquia ao mundo das adaptações de quadrinhos na TV. Exagerada, com uma ambientação atemporal (criada para incorporar todas as versões das telas do Homem-Morcego), um figurino quase punk e vilões bem escalados - especialmente Pinguim (Robin Lord Taylor) e Charada (Cory Michael Smith) - era bastante diferente das suas colegas do universo DC Arrow e Flash.

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Com uma encomenda inicial de 16 episódios, a série seguiu com fôlego até o décimo capítulo, construindo a sua mitologia enquanto alternava os "casos da semana". O canal Fox, que teve em Gotham o seu melhor debut desde 2000, resolveu aproveitar o sucesso. Encomendou uma temporada completa (chegando a 22 episódios), apostando que o prelúdio de Batman se manteria forte dentro do extenso formato da TV aberta.

Não foi o que aconteceu. Os episódios procedurais se tornaram a regra para preencher o espaço, enquanto o protagonista James Gordon (Ben McKenzie) perdia cada vez mais sua importância dentro da série. A existência do prelúdio não se justificava enquanto vilões se amontoavam sem o necessário contrapeso do Homem-Morcego. Ao invés de mostrar a cidade pelos olhos do policial incorruptível, cada episódio deixava uma inevitável pergunta no ar: "Quando o jovem Bruce Wayne (David Mazouz) vai virar o Batman?". A descoberta de uma pré-batcaverna no final do primeiro ano deixou claro o quanto a série não conseguia mais caminhar sem essa muleta - apesar da declaração de McKenzie sobre Bruce só vestir a capa no último frame do último episódio da série (leia aqui).

Com a estreia do segundo ano, Gotham precisa voltar àquela promessa da sua estreia, aliando conteúdo ao visual. A seguir, listamos 5 maneiras da série salvar sua audiência (que caiu consideravelmente depois do hiato) e mostrar como a história de formação do universo do Homem-Morcego pode ser contada:

1-Abandonar a fórmula do episódio da semana

Uma lição ensinada por Agents of SHIELD: os episódios procedurais não servem bem às adaptações de quadrinhos na TV. Por mais que seja o formato favorito dos norte-americanos, figurando sempre entre as séries de maior audiência, a fórmula não se encaixa tão bem no universo dos heróis. Flash soube usar esse modelo, usando o metahumano da semana para ampliar a mitologia da série, mas a tendência é quase sempre o desgaste pela falta de espaço para o desenvolvimento dos personagens que conduzem a história. Foi o que aconteceu em Gotham. Enquanto a série desenvolvia o caso do serial killer Ogro (Milo Ventimiglia), por exemplo, Gordon só mostrava caras e bocas, alternando a sua forçada honra policial com o recém iniciado relacionamento com a Dra. Leslie Thompkins (Morena Baccarin). O próprio Ben McKenzie admitiu o erro da série, garantindo que a segunda temporada seguirá por um caminho diferente. "Acho que nós cometemos um erro ao introduzir um vilão por episódio e tentar lidar com ele até o final do mesmo. Era capturar, mandar para Arkham e acabou. Isso foi um erro, nós nunca deveríamos ter feito isso (...). O público quer entender quem são esses personagens, viver com eles, sentar com eles e curti-los. Não importa que sejam bons ou maus, eles são divertidos. É o caminho que vamos seguir na segunda temporada. Acho que é exatamente o que os fãs querem ver".

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2- Estabelecer Gordon como protagonista (ou não)

A ideia inicial da série era usar a relação de James Gordon com Bruce Wayne para contar, pelo olhos do futuro comissário, a origem do Homem-Morcego. A falta de sintonia entre McKenzie e Mazouz transferiu essa relação paternal para Alfred (Sean Pertwee), deixando Gordon e Wayne em arcos separados, o que tornou ainda mais difícil para o público aceitar o policial como protagonista. Além disso, McKenzie perdia para o muito mais talentoso Donal Logue (que interpreta o seu parceiro Harvey Bullock) e os vilões da série - Pinguim (Robin Lord Taylor), Charada (Cory Michael Smith) e até mesmo Fish Mooney (Jada Pinkett Smith). Porém, se Batman só vestirá sua capa no último frame da última temporada, a série precisa determinar quem é o seu herói. Se essa será a temporada de ascensão dos vilões, eles precisam de um contraponto. Nos quadrinhos ou no cinema, os vilões são um produto do Homem-Morcego e vice-versa. Sem esse mote, como Coringa e Cia. justificarão sua existência e, mais importante, sua permanência em Gotham? A loucura rege a cidade e Gordon precisa mostrar que pode encarar as ameaças sem ligar o batsinal.

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3- Não ter medo de ser nerd

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Outra lição aprendida com a primeira temporada de Agents of SHIELD: uma adaptação dos quadrinhos para a TV não pode ficar no meio do caminho para agradar a todos. Sintoma do formato procedural, a ideia inicial dos executivos dos canais é sempre levar a série para o maior público possível, incluindo os não iniciados no mundo dos heróis. A série da Marvel, porém, só começou a funcionar quando perdeu a vergonha de ser o que era. A trama então começou a tomar forma, os personagens foram aprofundados e a história ganhou perspectiva (algo essencial em uma série de TV, principalmente nos canais abertos). O mesmo valeu para Flash e deveria ser seguido por Gotham. Ao invés de ficar buscando uma audiência geral enquanto acena de longe para os fãs de quadrinhos com easter eggs forçados, como o encontro entre o pais de Dick Grayson, a série precisa assumir a sua nerdice e acreditar nos seus personagens.

4- Encontrar um tom

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A mistura de humor e cafonice dos primeiros episódios configurava um exagero bem-vindo ao mundo das séries em quadrinhos. Porém, conforme a qualidade do roteiro foi decaindo e a necessidade de uma realidade sombria invadia os episódios, essa mistura desandou. A seriedade dos temas não casa com a canastrice das atuações, a violência se perde em diálogos sofríveis. Parece que a qualquer momento alguém vai sacar um repelente de tubarão durante um banho de sangue da máfia. O segredo não é abandonar o ridículo, mas ter consciência do absurdo. Gotham sempre foi uma festa a fantasia sombria, mas os palhaços precisam saber o que são, mesmo quando armados.

5- Saber o que quer

Objetivo e estrutura são essenciais para qualquer série. Não basta apresentar um conceito - "Gotham antes do Batman pelos olhos do detetive Gordon" - é preciso esmiuçá-lo. Por que contar essa história? Aonde queremos chegar? Como chegaremos lá? Só assim o programa não vira uma enrolação eterna. A segunda temporada promete a ascensão dos vilões, mas como isso vai a acontecer? Por que isso vai acontecer? Gordon bastará para combatê-los? É preciso saber onde cada personagem se encaixa para orquestrar uma história sem furos ou desperdícios. O universo de Batman tem alguns dos melhores vilões dos quadrinhos e Gotham precisa saber o que fazer com eles, principalmente quando um dos grandes atrativos do segundo ano parece ser o jovem Coringa (Cameron Monaghan), além de Senhor Frio, Cara de Barro e Chapeleiro Louco... A série ainda tem ferramentas para cumprir aquela promessa dos primeiros episódios, mas essa é a última chance.

Gotham retorna hoje (21) nos EUA. Já no Brasil a segunda temporada estreia em 28 de setembro, às 22h30, pelo canal pago Warner.

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