Séries e TV

Artigo

Heroes - pessoas normais em circunstâncias anormais

Chega ao Brasil a série que reuniu 15 milhões de telespectadores na estréia e tomou o lugar de Lost

02.03.2007, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H22

Ser diferente. Especial. Único. Qual de nós não deseja isso? Mas, o que faríamos eu ou você caso, subitamente, e sem explicação, nos tornássemos únicos, gente comum com um poder incomum? Esse é o ponto de partida de Heroes, a série que está sacudindo a TV e, por conseqüência, a Internet, e daí o planeta todo.

Heroes começa simultaneamente em vários pontos do globo. Como nem tudo é perfeito, vários destes pontos ficam nos Estados Unidos. A princípio, as histórias que acontecem em seis cidades: Madras, Nova York, Odessa, Las Vegas, Tóquio e Los Angeles. Em cada um desses lugares, pessoas deparam-se com a realidade de serem humanos "especiais", que têm a capacidade de voar, curar, prever o futuro.

Isaac

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Isaac Mendez

Peter

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Peter Petrelli

Mohinder

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Mohinder Suresh

Niki

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Niki Sanders

Matt

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Matt Parkman

Claire

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Claire Bennet

Hiro

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Hiro Nakamura

Mapa

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O mapa das pessoas especiais, do Prof. Chandra Suresh

O fio que liga estas pessoas especiais é a pesquisa do geneticista indiano Chandra Suresh, que abandonou seu país em busca de um método que lhe permitisse identificar e localizar estas pessoas. A série começa no momento em que seu filho, Mohinder, fica sabendo que o pai morreu em circunstâncias suspeitas, em Nova York.

Você está na lista?

Heroes não tem um ou dois personagens principais e um elenco coadjuvante, como a maioria dos dramas produzidos para a TV. O seriado começa com doze personagens, e agrega outros já na primeira temporada, todos igualmente importantes. Para dar conta da multidão, a produção substituiu a idéia de concentrar cada episódio em um personagem, pelo tempo compartilhado. Cada episódio é um mosaico que mostra as diferentes narrativas que os envolvem. Todas as histórias mostradas no piloto terminam em um momento de suspense que será resolvido em um próximo episódio. Todos os fios narrativos estão interligados e a melhor imagem para a série é a de um enorme dominó em que uma pedra caída leva à queda de outras em um pedaço completamente distante no desenho.

Além da pesquisa genética que permite encontrar os portadores de poderes, Mohinder herda do pai uma relação de trinta e seis pessoas especiais já identificadas. "Você está na lista?" é o nome de um dos episódios e também uma frase que a série está introduzindo na linguagem coloquial, o primeiro sinal de que um programa entrou para valer na consciência popular.

O centro da história é o modo como cada um recebe a notícia de que possui poderes que o tornam único e, portanto, diferente. Em Odessa, no Texas, a líder de torcida Claire Bennet vê seu mundo acabar no momento em que descobre ser capaz de curar-se de qualquer ferimento. O nova-iorquino Peter Petrelli é perturbado por seus sonhos reveladores, enquanto seu irmão Nathan não vê utilidade para sua capacidade de voar e faz de conta que ela não existe. Nathan também não vê problemas em ser um político capaz de tudo para ser eleito. Em Las Vegas, a stripper Niki Sanders fica aterrorizada diante do surgimento de uma personalidade alternativa portadora de superforça. O policial Matt Parkman não sabe bem o que fazer com sua capacidade de ler pensamentos, além de tentar salvar seu casamento. Para o pintor Isaac Mendez, sua capacidade de retratar o futuro em seus quadros é fruto de seu vício em heroína, e ele não vê a hora de se livrar do assunto.

O único a receber com entusiasmo suas novas habilidades é o japonês Hiro Nakamura, capaz de deslocar-se no tempo e no espaço. Preso a um cubículo de escritório e apaixonado por ficção científica, seu diálogo tem um recheio de frases saídas de Jornada nas Estrelas, quadrinhos e Star Wars suficientes para deixar todo o planeta nerd em êxtase. O personagem foi o último a ser definido pelo criador da série, Tim Kring. Em uma entrevista à revista TV Guide, Kring explicou que a série estava tomada por um grupo de personagens abalados pela manifestação de seus poderes. O programa precisava de um personagem que saísse desse modelo, alguém que tivesse passado a vida fantasiando sobre ser diferente e especial, que lesse quadrinhos e assistisse a filmes de ficção. Foi assim que Hiro nasceu, para encarar seus poderes como a melhor coisa que já aconteceu em sua vida e a realização de todos os seus sonhos.

Os poderes estão ligados à personalidade de cada um. Niki é uma mãe que cria o filho sozinha. Sua dupla personalidade nasce da necessidade de literalmente estar em dois lugares ao mesmo tempo. Como todo adolescente considera-se indestrutível, Claire recebeu o poder de cura que a regenera depois dos ferimentos mais assustadores. Matt Parkman tem o poder que todo policial sonha, ouvir os pensamentos alheios.

Narrativa em arcos

Além de não dedicar cada episódio ao destaque de um personagem, Heroes também abandona a narrativa de episódios isolados com começo, meio e fim, e adota a narrativa em arcos, em que o enredo prossegue por vários episódios. O recurso não é inédito, sendo usado com freqüência nos quadrinhos, tanto nos ocidentais como nos mangás, bem como na TV em animês e séries como Twin Peaks, Arquivo X e, mais recentemente, Battlestar Gallactica. Os estúdios evitam o formato por considerarem que episódios isolados são mais fáceis de vender para as emissoras regionais, que exibem os programas fora da ordem necessária à compreensão da história. O principal objetivo do arco é mover o personagem de um estado a outro, o que definitivamente acontece com todos em Heroes.

O primeiro arco da série é "salve a líder de torcida, salve o mundo", outra frase que entrou no vocabulário do público. O enredo envolve uma profecia feita por Isaac, e presenciada por Hiro, de uma explosão atômica em Nova York.

Para produzir os roteiros nesse formato, os escritores da série trabalham em grupo. Todos se reúnem para discutir o episódio e cada um cuida dos diálogos de um personagem. O roteirista creditado como autor do episódio é o responsável por unificar o trabalho do grupo e dar o acabamento final.

Além dos arcos, a série tem episódios apartados do enredo principal. O primeiro deles é "Six Months Ago" ("Há Seis Meses"), que mostra eventos ocorridos antes do início da série, aprofundando o conhecimento dos personagens, incluindo gente que já morreu.

Comparações

O clima de mistério e a multiplicidade de personagens atraíram comparações imediatas com Lost. Uma diferença fundamental entre as duas séries, no entanto, é a falta de um problema central a ser resolvido. O pessoal da ilha quer voltar para a casa, fim do problema. Em Heroes, teoricamente, os personagens não deixarão de ser especiais e devem aprender a conviver com seus poderes para o resto da vida. Dizemos "teoricamente" porque não se sabe que destino Tim Kring e sua equipe darão ao seriado. O que o produtor já avisou é que ninguém está a salvo, e anunciou a morte de personagens para a temporada de pesquisa de audiência, que acontece em fevereiro nos Estados Unidos. A previsão, aliás, foi confirmada. A primeira temporada ainda não acabou e Heroes já tem corpos a contar.

O salto genético representado pelo surgimento de poderes especiais como a telecinese ou superforça também não é inédito. A comparação mais óbvia é com X-Men, em que um professor também localiza pessoas que subitamente revelam poderes fora do normal, seguida por semelhanças com os heróis imperfeitos de Watchmen e pelos humanos despreparados para a posição de portadores de poderes extraordinários de Wild Cards.

O surgimento de poderes como prova de evolução genética também era o ponto principal de Seres do Amanhã (Tomorrow People), série britânica exibida por aqui nos anos 70, em que os humanos que apresentavam poderes eram chamados de Homo superior. A nós restava a posição de "saps", apelido que a série dava aos Homo sapiens.

Quanto às semelhanças com Rising Stars, obra do criador de Babylon 5, J. Michael Straczynzki, o próprio Tim Kring comentou o assunto numa entrevista concedida a Damon Lindelof, roteirista de Lost. No bate-papo publicado no site oficial de Heroes, Lindelof pergunta por que Kring não leu Rising Stars. O produtor explica que preferiu ficar longe do universo de super-heróis e quadrinhos para evitar ser influenciado. Ainda assim, em outra entrevista, Kring enfrentou as comparações, deixando claro que pensou em desistir do projeto quando seus amigos o informaram que vários detalhes da produção já haviam sido usados em algum outro lugar.

Múltiplos heróis, multiplos vilões

Numa série que ousa em vários pontos, o vilão não poderia ser uma coisa simples. Além dos problemas gerados por seus novos poderes, os personagens têm de enfrentar dois oponentes: Sylar e o Homem de Óculos.

Sylar surge no momento em que Matt Parkman descobre ser capaz de ler pensamentos. No início, ele é apenas um nome, e o FBI sequer acredita em sua existência, mas, o público percebe que seus crimes só podem ser cometidos por um dos portadores de poderes especiais. E um homem especial que não tem as dúvidas e escrúpulos de Claire ou Niki, e já está sendo comparado com Hannibal, o vilão de Silêncio dos Inocentes.

O outro vilão da história é o Homem de Óculos, conhecido dos fãs da Internet pela sigla HRG (Horned Rimmed Glasses, o homem de óculos de tartaruga). Parte de uma organização ainda desconhecida, ele captura os portadores de poderes. Para alguns especiais, o homem de óculos é o responsável pela manifestação de seus poderes. Seu principal ajudante é o Haitiano, um homem silencioso e capaz de bloquear a ação de outros poderes, apagar a memória de suas vítimas e que, como tudo o mais em Heroes, não é o que parece ser a princípio.

Apocalipse e segunda temporada

Perguntado se sabe para onde a série está indo, Tim Kring garante que antes de começar a produção ele traçou um esquema em que o relacionamento de todos os personagens foi delineado. Ele também informou que tem a linha geral do que vai acontecer ao longo de cinco anos. A capacidade da série chegar ao quinto ano, no entanto, só pode ser vista por Hiro em alguma viagem ao futuro.

Heroes estourou na estréia e enfrentou bem o desafio de encarar dramas estabelecidos, como 24 Horas. Os números garantiram à série a renovação para a segunda temporada quando os escritores ainda planejavam os episódios finais do primeiro ano. Isso deu à equipe a chance de introduzir no enredo questões que só serão resolvidas na temporada 2007/2008. Para os fãs que não gostam de esperar, Kring garante que a ameaça vista por Hiro no futuro será solucionada na primeira temporada. Basta torcer para o mundo não acabar antes disso.

Poderes que virão

Com trinta e seis nomes na lista e espaço para muito mais, o público tem de estar preparado para a entrada de novos personagens, portadores de poderes diferentes. Alguns morrerão pouco tempo após manifestarem seus poderes, vítimas de Sylar, do Homem de Óculos ou de si mesmos. Aqui vão as características de alguns dos personagens que surgirão após o piloto em ordem alfabética para não estragar a surpresa:

  • Absorção de poderes: para alguns personagens, ser especial é ser capaz de absorver o poder alheio.
  • Aprendizado instantâneo: um poder útil para todos os especiais, mas, somente um o possui. Até agora.
  • Comunicação com máquinas: a capacidade de "conversar" com sua impressora pode poupar um bocado de aborrecimento.
  • Comunicação sem fio: a habilidade de captar e-mails, mensagens de texto e qualquer outra coisa transmitida via satélite.
  • Concentração de radiação: como viver quando tudo o que você toca é morto por radiação?
  • Invisibilidade: esqueça os espiões com máscaras ou relógios especiais.
  • Persuasão: o poder de convencer qualquer pessoa a fazer o que você quer, inclusive morrer.
  • Pirocinese: a capacidade de controlar temperaturas e, portanto, criar chamas, numa pessoa surpreendente.
  • Telecinese: capacidade de mover objetos à distância

INFORMAÇÃO ADICIONAL

Olho vivo

Alguns detalhes tornam o seriado mais interessante e exigem olhar atento do público. Se você vai começar as noites de sexta assistindo a Heroes, fique de olho em:

A cicatriz
Até o momento, três pessoas apresentam a cicatriz causada por uma pistola de vacinação usada pela equipe do Homem de Óculos. Não se sabe se as drogas injetadas forçaram o desenvolvimento dos poderes especiais ou se é apenas uma forma de inserir um localizador para acompanhar os passos dos especiais.

O símbolo
O símbolo em forma de S cortado, que lembra uma seqüência de DNA, é uma presença constante na série. Ele aparece sob a forma de jóias, tatuagens, objetos de decoração, formado por objetos no fundo de uma piscina, em anúncios e em telas de computador. Num dos episódios, Ando revela que o símbolo é composto por dois caracteres japoneses: sai e yo, que significam "grande talento" e "enviado por Deus".

O eclipse
Além de ser parte do logotipo da série, um eclipse acontece no primeiro episódio e aparece numa figura no apartamento de Mohinder. É o suficiente para chamar a atenção.

Pequenos detalhes

Depois que uma série envolvendo um homem que parece fazer parte de uma organização secreta começa, todo detalhe parece ser a chave para um grande mistério. Mas, alguns detalhes estão lá apenas para dar graça ao cenário. Durante as cenas em que Hiro e seu amigo Ando jogam num cassino, preste atenção ao nome do estabelecimento. A dupla está no Montecito, o cenário da série Las Vegas. Ainda numa cena com Hiro, atenção para a placa do carro do pai do herói. Essa você nem vai precisar de explicação.

Fãs de quadrinhos vão reconhecer os quadros de Isaac Mendez. Eles foram criados por Tim Sale, artista responsável por Batman: O Longo Dia das Bruxas.

Universo em Expansão

Heroes usa e abusa da Internet como forma de passar aos fãs mais detalhes sobre o enredo e os personagens. O site oficial da NBC tem, além das tradicionais entrevistas com elenco e produção, um gibi online desenhado por Tim Sale. O espaço é levado tão à sério que uma personagem importante estreou nos quadrinhos antes de aparecer na TV.

Além do site oficial, a produção criou o site da Primatech, a empresa em que trabalha o Homem de Óculos. Por trás de um site comum de uma fábrica de papel, estão ocultas senhas que levam aos dossiês de portadores de poderes especiais. Para entrar na área reservada, o internauta tem de passar o mouse no logo da empresa, o que faz aparecer o onipresente símbolo em forma de S. Os fãs podem, também, receber informação por e-mail e mensagens de texto depois de preencherem um formulário de pedido de emprego na Primatech, coisa que só um lunático faria.

Os poderosos - elenco e produção

Visíveis: o nada misterioso passado do elenco da série, ou, onde é que você já viu esse pessoal

  • Adrian Pasdar (Nathan Petrelli): para quem gosta de uma viagem no tempo, ele está em Top Gun - Ases Indomáveis
  • Ali Larter (Niki): esteve em Legalmente Loira, Resident Evil e Premonição 2
  • Greg Grunberg (Matt Parkman): era parte do elenco fixo de Alias e participou de dois episódios de Lost. No piloto sua cena não foi creditada. No episódio "Exodus", sua cena foi cortada.
  • Hayden Panettiere (Claire): apareceu em Ally McBeal como Maddie, como Ângela Agnelli em Law & Order: Special Victims Unit e foi a voz de Dot em Vida de Inseto.
  • Jack Coleman (Sr. Bennet): foi Steve Carrington em Dinastia, e isso foi um assunto e tanto naquela época. 
  • James Kyson Lee (Ando): foi Joon Ho Park em um episódio de Las Vegas
  • Masi Oka (Hiro Nakamura): ex- técnico de efeitos especiais da Industrial Light & Magic, foi visto antes em Quero Ficar com Polly e Austin Power - O Homem do Membro de Ouro, além de ser extra em Scrubs
  • Milo Ventimiglia (Peter Petrelli): você o viu como o namorado rebelde de Rory Gilmore
  • Noah Gray-Cabey (Micah): Apareceu em A Dama da Água e em um episódio de Ghost Whisperer
  • Santiago Cabrera (Isaac): apareceu na minissérie Empire e na série britânica Spooks
  • Sendhil Ramamurthy (Mohinder Suresh): o ator, que não nasceu na Índia, apareceu em um episódio de Numb3rs
  • Zachary Quinto (Sylar): foi Adam Kaufman em 24 Horas

Invisíveis: o pessoal da criação e produção

  • Tim Kring: o criador da série tem em seu currículo Crossing Jordan, Providence e Chicago Hope
  • Jeph Loeb: ex-produtor de Lost, Smallville e Os Sete Monstrinhos

Heroes estréia hoje 02/03, no canal por assinatura Universal, às 21 horas. A partir do dia 9 de março o canal promete mostrar às 20h00 o episódio da semana anterior.

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