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Star Trek: Discovery | Ainda que se leve muito a sério, produção é tecnicamente impecável

Primeira parte da temporada de estreia entrega série bem feita e instigante

22.11.2017, às 15H30.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H45

Mexer com uma franquia icônica é sempre um negócio arriscado - mesmo se essa franquia for Star Trek, que já conta com 13 filmes e, agora, sete produções televisivas diferentes desde os anos 1960. Referência na cultura pop, a série aumentou sua bagagem através de uma parceria da CBS com a Netflix e já exibiu os nove primeiros episódio de Star Trek: Discovery entre 24 de setembro e 12 de novembro. A série retorna com os seis capítulos restantes da temporada de abertura só a partir de 7 de janeiro, mas a primeira parte da trama já foi material suficiente não só para introduzir o espectador à história da U.S.S. Discovery e de seus tripulantes, mas para cativar o público.

Pela série se propor a abarcar todo um universo - literalmente - de possibilidades, há uma preocupação primária quanto à qualidade do produto final. Nesse contato com a primeira parte do programa, Star Trek: Discovery não deixa espaço para críticas técnicas: todo o conjunto visual é impecável e de alta qualidade. O trabalho de maquiagem, exposto o tempo todo tanto nas - várias - cenas do núcleo Klingon quanto na pele de alguns dos membros da U.S.S. Discovery é um show a parte, que volta para o bis nos momentos que a série precisa lidar com forasteiros. A diversidade de mundos também é muito bem retratada, indo desde o desértico planeta dos Crepusculanos até a idílica Pahvo, com suas encantadoras e perigosas árvores azuladas.

O elenco de Star Trek: Discovery não decepciona: em especial Sonequa Martin-Green, que anteriormente viveu a apagada Sasha em The Walking Dead. A atriz dá vida à protagonista da série, Michael Burnham, uma mulher que carrega o conflito de ser uma humana criada em ambiente vulcano - o tempo todo Burnham demonstra insegurança na hora de colocar razão e emoção na balança. Além dela, Jason Isaacs (Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2) faz um bom trabalho como o capitão Gabriel Lorca mostrando a fagulha de insanidade que o destemido oficial da Frota Estelar carrega no olhar e que se reflete em suas ações pouco ortodoxas. Doug Jones (O Labirinto do Fauno), como o primeiro-oficial Saru, e Anthony Rapp (Rent - Os Boêmios), no papel do tenente Paul Stamets, crescem ao longo dos oito episódios, cativam sem serem personagens exatamente carismáticos e abocanham bons momentos de destaque.

Talvez por tentar se aproximar mais da grandiosidade da estética cinematográfica ou de superproduções da TV como Game of Thrones e Westworld, a nova série soa pretensiosa desde o primeiro episódio e, por consequência, se distancia dos moldes da original. Com raros momentos de respiro, como o divertido sétimo episódio que mostra a U.S.S Discovery presa em um loop temporal, Discovery mantém uma tensão contínua e chega a abordar assuntos pesados como abuso sexual e tortura. Muita gente apontou, por exemplo, que a paródia cômica The Orville parece mais com o programa estrelado por William Shatner e Leonard Nimoy do que a nova série. Há certa fundamentação nessa observação: Star Trek: Discovery se leva muito a sério, mas, pelo menos, faz isso com competência. 

Ainda que tecnicamente a série possa soar mais séria ou mais cara do que deveria para os fãs antigos da franquia, há outros pontos que estão mantidos com maestria - todos eles ligados à lógica de diversidade que sempre permeou Star Trek. A pluralidade étnica ou a diversidade de orientações sexuais entre os protagonistas é apenas um reflexo de uma trama que não trata seus personagens de forma homogênea em absolutamente nenhum aspecto: cada personagem é um universo de possibilidades à parte. Ainda que núcleos como o Klingon demore a cativar a atenção do público (a série ainda não encontrou o melhor caminho para isso), a impressão ao ver os nove episódios é que os tripulantes da U.S.S. Discovery já são velhos conhecidos do espectador. Que venha então os novos episódios do primeiro ano - e a segunda temporada, já renovada.

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