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Artigo

The Good Fight | Vale a pena ver o derivado de The Good Wife?

Spin-Off surpreende e faz uma estreia impecável

21.02.2017, às 15H28.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H38

No mundo das séries, os spin-offs são perigosos. Por mais bem sucedida que tenha sido a série original, isso não é garantia de que o produto derivado será igualmente bem recebido. Há na nossa história exemplos cabais disso, como o mal fadado Joey (derivado de Friends) e The Lone Gunman derivado de The X Files), ambas séries oriundas de grandes sucessos, mas que tiveram uma vida útil medíocre. Geralmente o problema é o oportunismo financeiro: levar adiante uma fonte de renda que tinha grande potencial de ser inesgotável. Em termos artísticos, pouquíssimos foram os spin-offs que tentaram equilibrar qualidade e ambição.

Quando The Good Wife teve seu final anunciado, a especulação de uma série derivada era inevitável. Temas segmentados como dramas médicos e legais são muito aptos a ramificações justamente porque tem sistemas semi-procedurais e um ou outro personagem sempre pode mudar de hospital ou entrar em outra firma. O mundo em volta de Alicia Florrick (Juliana Margulies) proporcionaria esse tipo de caminho para qualquer um dos personagens que estavam em sua órbita. Os dois últimos anos de The Good Wife foram conturbados e os criadores Michelle King Robert King ficaram ausentes por conta da investida em Braindead.

Presa a um ciclo interminável de repetições, The Good Wife terminou de modo controverso. Encerrar tudo e recomeçar do zero teria ajudado, mas como isso seria impossível, um spin-off era uma maneira de fugir do legado de Alicia e, ao mesmo tempo, manter no ar um produto que sempre proporcionou elegância à programação do canal CBS. Assim, The Good Fight nasce para manter vivos elementos da série original, mas com o frescor de poder livrar-se de um peso dramatúrgico que estava diretamente ligado a ela. É recomeçar uma história com velhos conhecidos. Uma iniciativa que acabou se mostrando extremamente competente.

Free Alicia

Nesses bem-vindos tempos de empoderamento feminino, os Kings acertaram ao transformarem Diane (Christiane Baranski) na sua protagonista. Além de ser muito interessante, Diane foi uma das poucas personagens que não sofreram tantos danos no decorrer dos anos ruins de The Good Wife. Acertaram ainda mais ao escolher Lucca (Cush Jambo) – uma personagem que nasceu já bem perto do final da série original – para também estrelar a série. Essas duas mulheres muito fortes são contrabalançadas com a chegada de Rose Leslieque foi escalada para viver Maia Rindell, a advogada recém-formada que se enquadra naquele clássico esquema narrativo de superação: inexperiente, insegura e amedrontada, que aos poucos vai crescendo na profissão.

Apesar da dramática abertura, The Good Fight compartilha toda a essência de sua matéria-prima. A direção é elegante, limpa. O texto é extremamente sagaz e inteligente. Estruturalmente não existe nada de original: Diane está prestes a se aposentar quando um escândalo financeiro a faz perder todo o dinheiro que tinha. Acuada, ela precisa lidar com a realidade de renunciar à firma que criou e unir-se a um novo escritório. Ela leva consigo a recém-chegada Maia, que é filha do homem que foi acusado de ter roubado o dinheiro de seus clientes (inclusive de Diane). Percebam como as semelhanças com The Good Wife são notórias: assim como Alicia, Maia sofre o julgamento moral da mídia e da sociedade por uma coisa que não foi ela quem fez. O pai dela está preso, assim como Peter (Chris Noth) estava preso; e ela vai usar de alguma forma o próprio sobrenome como arma, do mesmo jeito que Alicia fazia.

The Good Vibe

A série precisou ser reformulada depois da vitória de Donald Trump. O primeiro episódio foi filmado antes do resultado das eleições presidenciais e a vitória de Hillary Clinton já era dada como certa no roteiro. De certa forma, os caminhos de redenção e superação das três protagonistas também se relacionam com essa derrota. Diane precisa aceitar a perda do legado que construiu, Lucca precisa vencer as constantes tentativas de fazê-la sombra de alguém e Maia tem o mundo odiando sua família e precisa provar que pode ser uma boa advogada apesar disso. São três pontos de tensão eficientíssimos que os dois primeiros episódios já estabelecem com maestria. É impossível assistir e não torcer por elas.

Com apenas 10 episódios (em contraste com os absurdos 22 da série original), The Good Fight provavelmente terá uma temporada segura e bem planejada. E muito bem embasada nas questões que envolvem a fragilidade do conceito de culpa, o preconceito contra raça, orientação sexual e idade (refletidos respectivamente em Lucca, Maia e Diane); e os aspectos políticos e econômicos que estão em vigência nos EUA. Tudo isso com um time de atores e atrizes que é tão impecável quanto o texto. Embora Alicia e Will sejam citados, o novo tempo proposto pelo trabalho de Michelle e Robert King é cheio de curvas promissoras e identidade própria. The Good Fight faz valer cada minutinho do seu tempo.

Ainda sem previsão de estreia no Brasil, a série exibirá seu terceiro episódio nos EUA em 26 de fevereiro. 

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