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Will & Grace | Mais política que nunca, série traz nostalgia do passado em roupagem atualizada

Quarteto mantém química e se mostra extremamente atual em críticas a Donald Trump

29.09.2017, às 20H00.
Atualizada em 30.09.2017, ÀS 11H00

Algumas portas na produção de humor nos Estados Unidos foram abertas quando a audiência de Saturday Night Live começou a subir proporcionalmente ao tempo dedicado a fazer piadas com Donald Trump - portas que não serão fechadas após os nove Emmys abocanhados pelo humorístico. Will & Grace retornou 11 anos após seu fim - que, para a alegria e alívio dos fãs, não foi o fim de fato - na esteira do sucesso de comédias cada vez mais politizadas. Confirmando as previsões, a série criada por David Kohan e Max Mutchnick  estreou atingindo a marca de 10 milhões de espectadores, colocando o revival entre as mais expressivas produções da semana de estreias dos EUA.

Mas não basta aproveitar a onda: é preciso fazer direito. Will & Grace poderia colocar oito anos de um clássico em risco, mas fez melhor: voltou com a mesma essência de antes, mas fez o favor de apagar do cânone um encerramento que não condiz com a qualidade apresentada nos 192 episódios anteriores. É claro que o final exibido em maio de 2006 não ia ser simplesmente ignorado: nos primeiros minutos do episódio de estreia da nona temporada o quarteto formado por Will Truman (Eric McCormack), Grace Adler (Debra Messing), Jack McFarland (Sean Hayes) e Karen Walker (Megan Mullally) faz piada da passagem de tempo que aconteceu, ou, no caso, não aconteceu, uma década antes.

Aliás, Will & Grace ganha logo nos primeiros segundos. Aparentemente, o episódio de estreia tem a missão de resolver todas as potenciais dúvidas sobre a capacidade de uma série que fez sucesso em outra década se manter atual. Piadas sobre tirar Caitlyn Jenner no jogo de adivinhação Head’s Up são seguidas por comentários sobre a dificuldade de achar um parceiro no Grindr, aplicativo de pegação voltado para gays e há muito mais: Ryan Gosling, Shonda Rhymes, Michelle Obama e a lista segue por aí. Ou seja, quem achou que Will & Grace era uma série datada mordeu seriamente a língua.

Sobre ser contemporânea, voltamos ao ponto do começo do texto: Trump. Os atores já haviam se manifestado contra o presidente norte-americano diversas vezes antes do programa estrear - Messing, ao receber um prêmio do GLAAD Media Awards, usou seu discurso para pedir publicamente que Ivanka Trump parasse de “defender cegamente o pai” e que, ao invés disso, fizesse “algo importante para a vida de milhares de pessoas que estão sofrendo”. Todo o primeiro episódio gira em torno de piadas políticas, indo desde Roosevelt a Newt Gingrich - isso pode fazer que algumas risadas sejam perdidas por aqui. Trump estar na presidência é, contudo, o pano de fundo do episódio inteiro.

Levando em conta que a ideia de que há imparcialidade no humor é absurda, Will & Grace usa a narrativa para marcar posição contrária ao presidente norte-americano de forma mais clara impossível. Ainda que a comédia leve de outrora seja extremamente efetiva, há uma forte carga política e isso não é menos do que seria esperado de uma série que foi tão importante para a comunidade LGBT no passado e que pretende continuar sendo. Ainda assim, a trama do primeiro episódio que - SPOILERS! - se passa quase toda no Salão Oval da Casa Branca, é uma piada sobre enxergar o comportamento humano sobre óticas maniqueístas.

O resultado desse primeiro episódio de Will & Grace é muito paradoxal: ao mesmo tempo que a série é absolutamente atual, é como se o os 11 anos entre o fim da oitava temporada e o retorno na nona não tivesse passado. A série mantém a qualidade que fez com que ela se tornasse um sucesso absoluto e, com a bandeira em defesa da diversidade levantada mais alto que nunca, tem potencial de se tornar ainda mais interessante. A estreia mostrou que a série consegue balancear o lado leve e o lado político com maestria e ver a química de McCormack, Messing, Hayes e Mullally em cena é um prazer para ser humano - menos, é claro, para Donald Trump.

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