Séries e TV

Entrevista

Genndy Tartakovsky mescla Astro Boy e steampunk em Unicorn: Warriors Eternal

Em entrevista ao Omelete, criador fala sobre os bastidores de sua obra e o mercado de animação

Omelete
6 min de leitura
11.05.2023, às 13H00.

O nome Genndy Tartakovsky pode não ser tão popular entre o público brasileiro, mas você com certeza já assistiu a alguma de suas obras. Aos 53 anos, Tartakovsky já preencheu todos os tamanhos de tela com suas séries e filmes animados, entre eles Samurai Jack, Dexter, Hotel Transilvânia, Primal e Star Wars: Guerras Clônicas

O artista conseguiu um feito para poucos: obras precedidas por seu próprio nome. Criando sem parar desde os anos 90, ele chegou a mais uma produção que promete conquistar fãs por todo o mundo. Unicorn: Warriors Eternal é uma animação de dez episódios que estreou na HBO Max recentemente e mescla estética steampunk, magia medieval e contato com o mundo sobrenatural. Peças distintas, que acabaram encontrando uma conexão harmônica nas mãos de Tartakovsky. “Acredito que seja muito diferente do que já fiz anteriormente. Mas é empolgante, interessante e de uma forma diferente”, disse o criador, ao Omelete.

Após tantas produções de sucesso no currículo, fica evidente que o criador trabalha com projetos que vão além do senso comum e do que já foi explorado por outros artistas. E após explorar o universo dos samurais, dos cientistas e até a era pré-histórica, ele diz que é difícil escolher um predileto: “Unicorn não existiria sem todos os outros projetos. Então é difícil dizer qual é meu favorito, como eu disse. Há algo sobre cada projeto do qual tenho muito orgulho”.

Na nova série, que ganha episódios todas às quintas-feiras no streaming, uma força do mal está surgindo nas ruas escuras e densas da revolução industrial de Londres quando um grupo de heróis apelidados de Unicórnio é acidentalmente despertado nos corpos de adolescentes: Melinda, uma poderosa feiticeira, Seng, um monge cósmico, e Edred, um elfo guerreiro. Com memórias distorcidas e sua magia enfraquecida, o trio deve trabalhar com a ajuda de seu robô Copérnico para desvendar os mistérios que revelarão seu caminho para derrotar uma ameaça atemporal.

Você pode conferir a entrevista completa com Genndy Tartakovsky abaixo.

Omelete: Unicorn: Warriors Eternal têm uma estética steampunk, o mago Merlin e viagem entre mundos. De onde veio essa inspiração?

GT: Eu sempre fui fã de steampunk, e queria fazer a minha versão disso. Na época em que comecei a desenvolvê-la, quase 20 anos atrás, não havia muitas coisas com isso, então era algo muito novo e eu queria tentar essa estética. E com o design dos personagens, eu queria manter um estilo da Era de Ouro, algo mais próximo de Astro Boy. Queria unir essas estéticas antigas com um estilo de narrativa mais moderno e contemporâneo. Essa foi a inspiração, e a ideia maior era ter uma metáfora do envelhecimento, com uma criança se tornando adolescente, e o adolescente se tornando adulto. Essa é a parte da história que eu queria contar.

Ah, sim. E depois destes episódios de Unicorn – acho que são cinco, certo? – existe uma história que você gostaria de desenvolver, mas ainda não sabe como?

Bem, temos um total de 10 episódios de Unicorn até agora. E, sabe, eu não tenho certeza do que vem a seguir, talvez mais Unicorn, talvez mais Primal, talvez algo diferente. Tenho muitas ideias que ainda quero explorar. Mas sempre quero dar tempo suficiente para que as novas ideias respirem e existam, para ter várias temporadas e contar mais histórias.

Eu amo Samurai Jack, cresci assistindo Dexter. Mas, entre as animações que você fez, qual é a sua favorita?

É difícil. É como perguntar qual filho é o seu favorito. Eu amo todos, sabe, cada um por diferentes motivos. Dexter sempre será o número um, porque foi o que lançou minha carreira. Sem Dexter, provavelmente eu não estaria aqui. Tudo o que aprendemos naquela série ainda é lembrado e as pessoas falam dela de maneira carinhosa há quase 30 anos. Isso é incrível, ter essa longevidade. Claro, Samurai Jack foi onde fiz algo mais artístico, e a ação foi além do que já tínhamos feito antes. Então, isso me trouxe muito sucesso. E, você sabe, eu estava realmente orgulhoso de Titã Simbiônico. Foi interrompida, mas quando começamos a fazer, achei que seria incrível. E então Primal… você sabe, tenho muito orgulho de Primal porque é tão diferente. Cada projeto me ajudou a descobrir que tipo de contador de histórias eu sou. Com Primal, foi o exemplo puro do que faço, uma ideia simples executada sem diálogos, bem visual, intensa, violenta, emocional, e sinto que foi onde realmente comecei a aprimorar minha voz. Unicorn é completamente diferente, mas não existiria sem todos os outros projetos. Então é difícil dizer qual é meu favorito, como eu disse. Há algo sobre cada projeto do qual tenho muito orgulho.

E todas as suas histórias são muito bonitas, a animação e as cores… Qual é a sua opinião sobre o uso de inteligência artificial para em produções animadas? Você usaria IA para fazer suas séries ou filmes?

Eu não usaria. E acho que é muito perigoso de certa forma, pois estaria pegando emprestado o que outras pessoas fizeram. Sabe, há algo em olhar para uma pintura do Frank Frazetta, por exemplo, e ser inspirado por ela e fazer minha própria versão, em vez de alimentar o computador com todas as pinturas do Frank Frazetta e deixar o computador me dar aquilo. Você entende? A diversão está em fazer isso, em desenhar você mesmo. Pelo menos é assim que vejo. Eu não quero trapacear, quero me desafiar. Não há nada mais satisfatório do que desenhar algo, animá-lo e, em seguida, você assistir e rir ou sentir emoção. Essa é a gratificação. Claro, poderia fazer de uma maneira muito mais fácil, sem precisar fazer nada sozinho. Mas é isso que eu gosto. Se o computador fizesse todo o trabalho e eu apenas programasse, seria algo completamente diferente. E de certa forma, seria como roubar, porque é diferente quando, como eu disse, olho para algo e o traduzo. Todos nós temos inspirações e pegamos coisas emprestadas de outros artistas, mas passamos pelo filtro das nossas mãos. Não é um roubo

E todas as suas histórias fizeram muito sucesso no Brasil. Qual é o segredo para fazer tantas histórias boas?

A sinceridade é a chave. Sempre fazemos as coisas com sinceridade, como se estivéssemos fazendo para nós mesmos, porque eu não sei o que você ou qualquer outra pessoa gosta, mas eu sei o que eu quero ver na TV, como quero me sentir. É criar um programa que me dê isso e, felizmente, começou com Dexter, onde as pessoas assistiram ao que eu queria fazer. E continuei sendo sincero com o público. Se eu disser "Oh, acho que piratas estão muito populares agora, vou fazer um programa de piratas", é quando vai falhar. Porque, de repente, não está vindo do coração, as histórias não vêm do que eu quero ver. E Unicórnio era algo que eu realmente queria ver. Queria ver esse estilo, essa narrativa, esse tipo de drama na animação. E acho que esse sempre foi o motivo do sucesso dos meus programas: eles são honestos, de certa forma, e não estão falando com você como se você fosse inferior, não importa qual seja a sua idade. Há um mistério que se desenrola e isso te prende.

E você tem muitos fãs no Brasil. Pode enviar uma mensagem sobre Unicorn para os leitores do Omelete?

Acho que a mensagem é: espero que vocês assistam. Acredito que seja muito diferente do que já fiz anteriormente. Mas é empolgante, interessante e de uma forma diferente. E obrigado por assistirem a todas as séries. É incrível poder comunicar ideias para um público totalmente diferente, com uma cultura diferente e que fala uma língua diferente. Isso significa que somos bem-sucedidos em um nível humano, não importa quem você é ou o que você é. Então, sou muito grato por isso. Muito obrigado.

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