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Entrevista

Black Mirror | "Temos um bom tema quando estou rindo e a produtora está chorando", diz criador

Conversamos com Charlie Brooker e Annabel Jones sobre Jon Hamm, o sucesso da série e a nova temporada

Omelete
5 min de leitura
21.10.2016, às 11H44.
Atualizada em 27.10.2016, ÀS 10H49

Poucas pessoas fora do Reino Unido se lembram do exato momento em que Black Mirror foi lançada. A série criada por Charlie Brooker, originalmente exibida a partir de 2011 no pequeno canal local Channel 4, ganhou força quando chegou ao catálogo mundial da Netflix.

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A convite do canal de streaming, fomos ao TCA, apresentação das emissoras para a Associação de Críticos Televisivos dos EUA, para uma entrevista exclusiva com Charlie Brooker e a produtora executiva Annabel Jones, sobre a nova temporada da série, a origem das histórias de Black Mirror, a escolha dos elencos e uma curiosa história sobre a contratação de Jon Hamm para "White Christmas", especial de Natal que encerra a segunda temporada da série. Confira:

Como vocês inventam as histórias? Elas parecem tão reais e, ao mesmo tempo, distantes de algo que realmente poderia acontecer nas nossas vidas.

Charlie Brooker: Elas aparecem em conversas. Na maioria das vezes, são ideias que surgem de 'e se isso acontecesse?' e me fazem rir inicialmente. Eu venho originalmente da comédia, eu era roteirista de comédia, mas na maioria das vezes em Black Mirror a gente não tem comédia -  às vezes um pouco de humor negro… Mas geralmente o que acontece é que, durante uma conversa, me vem uma ideia louca que me faz rir. Aí eu explico para a pessoa e passamos a falar sobre as horrendas consequências dela!  É assim que sabemos quando temos uma boa história, é quando [Annabel] fica aterrorizada.

Annabel Jones: Quando eu estou aterrorizada ou chorando, é aí que ele pensa 'OK, agora estou pronta para começar a escrever'.

CB: Geralmente é assim. O que não fazemos é nos juntar e forçar associações,  tipo 'qual seria a versão de Pokémon GO de Black Mirror?' aí não funciona. As ideias realmente vêm quando estamos pensando em outras coisas idiotas.

Como foi o processo de oferecer a série ao Channel 4? Porque são somente três episódios, é uma coisa bem concisa...

CB: Acredito que inicialmente tínhamos dito que seriam oito episódios. 

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AJ: Quando eles eram de meia hora de duração.

CB: Quando eles teriam meia hora, é verdade. 

AJ: Existe um histórico no Reino Unido de, primeiro, séries de antologia.

CB: Tales of the Unexpected, Hammer House of Horror

 AJ: Além disso, a maioria das nossas séries dramáticas têm seis episódios, não somos como os Estados Unidos que fazem 13. Outros programas também podem fazer três capítulos, passando a sensação de ser um evento. Então não era uma coisa muito diferente para eles. Para nós, como a série teria apenas só três horas, queríamos ter a certeza de que acertaríamos o tom e o que queríamos realmente fazer com ela. Foi aí que decidimos seguir com apenas três episódios.

Então foram duas temporadas de três episódios e aí um especial de Natal com Jon Hamm. Eu queria falar com vocês sobre isso, porque esse episódio saiu depois de Jon Hamm já ser uma estrela em Mad Men. Como foi essa aproximação?

CB: Foi estranho, porque ele que entrou em contato com a gente. 

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AJ: Não acho que a gente jamais teria imaginado que haveria qualquer chance de Jon Hamm querer fazer a série. Nós sabíamos que ele era fã [do programa]...

CB: Ele estava em Londres [na época]...

AJ: E ele entrou em contato com a gente e nós combinamos um jantar. Jon é um homem muito humilde e nos disse que se aparecesse um papel, ele adoraria fazer. Eu quase comecei a chorar porque ele é tão maravilhoso e também pelo fato dele ter oferecido seus serviços para nós. Imediatamente começamos a pensar em um personagem para ele - qualquer coisa! E eu preciso estar nesse episódio também! Tem que ser uma história de amor! 

CB: O interessante é que, na época em que tivemos a reunião, eu estava escrevendo aquele episódio ["White Christmas"] e quando ele disse que estava disponível, comecei a pensar que ele seria perfeito para o papel! Uns dias depois eu mandei o roteiro para ele e ele me respondeu muito rápido dizendo que adoraria fazer. Aí eu meio que reescrevi o personagem para ele, mas ele é tão bom! Ele interpreta uma versão mais sombria e deliciosa - ele se divertiu tanto. Foi basicamente o timing perfeito. 

O que acontece após o roteiro finalizado?  Cada episódio tem um processo específico? 

AJ: É sempre uma colaboração com o diretor. Uma vez que Charlie escreveu o roteiro, nós começamos a abordar diretores que achamos que podem gostar do material e podem ter um estilo e visão específicos para aquele universo. Quando temos o diretor, nos reunimos para discutir quem achamos melhor para os papéis para só então contatarmos os atores. Quando temos diretores no mesmo calibre dos que temos para essa temporada, fica bem mais fácil atrair os talentos porque eles veem um bom roteiro e um bom diretor. Também acho que exista um nível de confiança por terem visto os outros episódios, eles sabem o quanto nos importamos com cada filme.

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CB: Quando temos bons diretores e bons atores, eles acabam fazendo o meu roteiro ficar melhor - é só sucesso para mim!

Seus roteiros são incríveis!

CB: Você deveria vê-los antes deles começarem a trabalhar neles. [risos] Estão escritos em giz de cera. [risos]

Eu conversei com o elenco de Mr. Robot há um tempo…

CB: Eu amo Mr. Robot.

É uma ótima série! Ela fala sobre a tecnologia e os problemas de segurança social que enfrentamos com câmeras, mídias sociais e etc. Uma coisa que eles me disseram e eu não consigo parar de pensar é 'nós nunca pensamos que faríamos uma daquelas séries', se referindo a um programa de sucesso que é reconhecido por sua qualidade, como Breaking Bad ou Mad Men - além de Black Mirror. Você chegou a pensar que faria uma série que seria uma daquelas?

CB: Eu não sabia que tínhamos [uma daquelas séries]! Não, [nunca achei].

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AJ: Nossa série era para o Channel 4, uma rede pequena no Reino Unido. Achávamos que seria uma produção local, focada na realidade britânica. Isso foi ingênuo da nossa parte, porque os temas que abordamos na série são universais. É interessante saber que Black Mirror é relevante em países como o Brasil, só reforça o fato de existem pessoas no mundo que vivem as mesmas vidas modernas. Mas não acho que tivemos essa aspiração ou crença de que a série pudesse chegar a tantas pessoas.

CB: É bem surpreendente. Venho originalmente da comédia e muitas das séries que fiz são voltadas para a realidade do meu país. É gratificante fazer algo que as pessoas assistem no Brasil, ou na China, ou em qualquer outro lugar. É bem estranho.

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