Séries e TV

Entrevista

Justiça | Nova minissérie da Rede Globo aposta em dilemas éticos do país

Programa quer oferecer à TV um formato narrativo inusitado

27.07.2016, às 10H39.

Estruturada a partir de uma reflexão “o que é justo para alguns seria justo para todos?”Justiça, minissérie agendada para estrear no dia 22 de agosto na Rede Globo, promete oxigenar a teledramaturgia nacional não apenas por colocar em xeque dilemas éticos do país, mas por oferecer à TV aberta um formato narrativo inusitado, de tramas autônomas, mas cruzadas por interseções, na qual o coadjuvante em uma pode ser o protagonista da seguinte. Temas como eutanásia, vingança, confianças traídas, sociedades desfeitas em golpes ilícitos e correrias em busca do tempo perdido dão um molho – no limite do trágico – a esta produção de 20 capítulos, em gravação nos Estúdios Globo, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, por cerca de 30 dias, sob a direção de José Luiz Villamarim, grife por trás de sucessos como Amores Roubados (2014) e O Canto da Sereia (2013). Assinado por um dos nomes mais bem-sucedidos da novíssima guarda de autores da emissora, Manuela Dias (responsável pelo sucesso Ligações Perigosas), o projeto junta um elenco estelar em situações limites, ligadas a discussões do tipo “seria justo matar para salvar seu amor?” ou “seria justo desejar a morte do assassino do seu filho?”. Nomes como Cauã ReymondAdriana EstevesDeborah BlochJesuíta BarbosaEnrique Diaz Vladimir Brichta dão vida a uma teia de dramas cotidianos, narrados de mãos dadas ao realismo.

“Aqui não falamos de justiça do ponto de vista jurídico, mas sim por um ponto de vista ético que anda perigosamente próximo da emoção”, explica Villamarim, que rodou parte das imagens em Recife, construindo a fotografia com seu parceiro habitual de set, Walter Carvalho (de Central do Brasil), que também entra no processo dirigindo. “Eu comecei este projeto gravando em locações, nas quais passei por um processo de imersão, buscando um máximo de entendimento dos padrões de comportamento, da geografia, do visual ambiente, e fui encontrando lugares onde classes sociais distintas se misturam. Nesses espaços, eu busquei imprimir uma direção limpa de qualquer estilização, flertando com a estética documental, construída de forma bem direta para compartilhar com o telespectador histórias já muito potentes nas palavras”.

Na minissérie, que vai ao ar de segunda a sexta, com exceção de quarta, Manuela Dias narra os desdobramentos de quatro crimes ocorridos há sete anos, no Recife. São casos pelos quais os culpados foram sentenciados e presos, tivessem ou não responsabilidade por seus atos. Por exemplo, Fátima, empregada doméstica vivida por Adriana Esteves, não era dona das drogas que foram encontradas com ela. Quem plantou os entorpecentes entre seus pertences foi um policial vingativo (Enrique Diaz). Mas mesmo assim, a cadeia foi, durante um bom tempo, um lar para Fátima. Porte de drogas também foi a causa da detenção da jovem Rose (Jéssica Ellen), só que com ela a situação era diferente. O “bagulho” pertencia à sua melhor amiga, Débora (Luiza Arraes), que, durante uma batida policial, deixou Rose (a única negra do grupo) ser condenada e não disse nada.

Mas as mágoas que alimentam Justiça não param por aí: patroa de Fátima, Elisa (Deborah Bloch), cujo objetivo é vingar-se de seu ex-genro, Vicente (Jesuíta Barbosa) assim que ele cumprir sua pena, por ter matado sua filha. Vicente matou por ciúmes, já Maurício (Cauã), não: ele matou a própria mulher, a bailarina Beatriz (Marjorie Estiano) porque esta, paralisada após um desastre, assim o pediu. Na narrativa, vemos os casos que levou cada um à prisão e o que os aguarda fora dela. Só que em algum (ou alguns) ponto(s), estes enredos hão de se trançar.  

“Justiça busca a veia cardíaca das histórias, mas, em nenhum momento, o objetivo é levantar uma bandeira sobre as experiências dos personagens ou categorizá-los como criminosos ou injustiçados”, alerta a autora Manuela Dias. “Não estamos em um tribunal, julgando a aventura de cada um, mas estamos sentados lado a lado com cada protagonista, sentindo com ele. Nesse sentido, a emoção é o fio condutor da narrativa e não o pensamento. Não são histórias para serem entendidas ou julgadas, mas sim histórias para serem sentidas e vividas através de cada personagem. A proximidade com os personagens liquida o maniqueísmo entre bons e maus, são todos apenas humanos”.

Inspirado por cineastas de um realismo próximo do documentário como os irmãos Luc Jean-Pierre Dardenne (Palma de Ouro por A Criança), Villamarim grava Justiça driblando estratégias comuns aos folhetins.

O caráter épico do plano nas narrativas audiovisuais anda desaparecido e eu tentei trazê-lo de volta evitando as tintas fortes do melodrama e buscando um espaço de reflexão para cada um dos dilemas apresentados apostando na simplicidade”, diz o diretor, que lança ainda outubro deste ano, também na Globo, a série Nada Será Como Antes, com Murilo Benício e Débora Falabella“Em Justiça, além da força do texto, eu posso confiar no poder do ator, dar ao meu elenco um respiro mais pessoal. Um ator com a força de um Jesuíta Barbosa, por exemplo, volta aqui, na TV, agora, com um tamanho de protagonista. E com a confiança na força do ator, eu posso fazer uma narrativa mais limpa”. 

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