Séries e TV

Crítica

Frontier - 1ª Temporada | Crítica

Presença de Jason Momoa não segura o roteiro irregular da nova produção da Netflix em parceria com o Discovery Channel Canada

23.01.2017, às 11H56.

Por volta de 1700, o comércio de peles na América do Norte era um dos grandes pontos de conflito do início do "novo mundo". A Hudson's Bay Company (que existe até hoje, impressionantemente) detinha o monopólio desse comércio e aos poucos foi perdendo espaço para franceses e holandeses, deflagrando um período longo de enfrentamentos sangrentos que também atingiam os nativos e formavam uma rede de pressões que se marcou na história. As primeiras noções de capitalismo, envoltas em doses cavalares de intimidação, no que se poderia entender como os primeiros sinais da cultura de violência dessa parte do continente.

O que a série Frontier fez foi usar como base esse período histórico para contar a história de Declan Harp (Jason Momoa), um ex-soldado que, após perder a mulher e o filho nas mãos de Lorde Benton (Alun Armstrong) - o rosto por trás da Hudson's Bay -, transforma essa disputa de mercado na sua cruzada de vingança contra seu algoz. Basicamente, Declan vira uma máquina de morte que se torna notória entre aqueles territórios, o que faz com que sua captura logo se torne uma questão vital para a empresa. Com ele morto, as chances de evitar o comércio indireto de peles se torna bem mais significativa.

Assim, a série tem nas mãos dois caminhos possíveis: manter a narrativa dentro de um âmbito distanciado, partindo da premissa histórica para manter a dramaturgia segura, sem julgamentos ou maniqueísmos, simplesmente ilustrando um período que também tinha seus enganos e pesares. Ou trazer a narrativa do maior para o menor, concentrando as expectativas na figura de um personagem "comum". Quase sempre as séries dessa natureza escolhem a segunda opção por conta de ordens práticas e orçamentárias. A jornada de um cidadão acontecendo enquanto o mundo acontece em volta. Teoricamente falando é uma decisão acertada, mas que no caso de Frontier, condena-se por conta das próprias limitações.

As Fronteiras

Um dos grandes perigos de uma série que se propõe a usar história como pano de fundo é esquecer-se de que está usando-a. Frontier começa informando ao espectador que essa será uma trama sobre as acirradas disputas de monopólio na América do Norte daquele século. Mas não demora muito para que o espectador perceba que ele pode incluir a trama de Declan em qualquer outro contexto e a mesma história poderia ser contada sem nenhuma perda. A promessa fica pelo caminho e toda a dramaturgia se concentra em guiar o espectador para um caminho de vingança, em que as motivações pessoais do protagonista são mais importantes que tudo.

Então, dá-lhe maniqueísmo. Lorde Benton parece um vilão da Disney de outrora e só falta ordenar maldades acariciando um gato preto. Já Declan, que no começo é vendido para o espectador como um homem com um implacável e aleatório senso de violência, vai sendo "defendido" pelo roteiro e logo se torna um mártir. Frontier quer fingir que não, mas sabe direitinho com quais cores quer pintar seus personagens. Não se pode esperar nenhuma complexidade criativa, porque outra coisa que a série afirma desde o seu começo é que ela só tem o propósito simples e franco de entreter com aquelas velhas sagas de vingança bem ao estilo Temperatura Máxima, em que tipos de Bruce Willys, Steven Seagal e Chuck Norris estavam sempre combatendo grandes vilões para vingarem famílias mortas.

Tecnicamente falando, também não há nada de surpreendente. Nenhuma atuação é realmente marcante (nem a de Momoa), mas Grace Emberly (Zoe Boyle) surge como uma personagem catalisadora que lá pela metade da curta temporada já roubou todas as atenções. Tudo se converge nela, que compra informações com cerveja e dissimulação.

Entretanto, o trabalho dos criadores Peter e Rob Blackie é confuso, espalha núcleos demais que não têm tempo de desenvolvimento e atrapalha os poucos que têm potencial para verdadeiro interesse (como a boa história envolvendo o personagem de Landon Liboiron, que chega até a América de modo completamente acidental). As cenas se atropelam e em boa parte da temporada as lindas locações e a paisagem fria são desperdiçadas para darem lugar a inúmeras sequências de planos sendo feitos e refeitos.

Enfim, nenhum problema se compara ao tamanho do embuste que é o episódio final. Espera-se que numa trama que se conduz em torno de uma grande rivalidade, o embate final seja o projeto derradeiro. Porém, Frontier termina com um anti-clímax acachapante, não resolve nenhum de seus arcos e nos deixa com uma sensação de que algum capítulo foi perdido.

Graças a sua segunda temporada já anunciada, aqueles que se interessarem poderão prosseguir na jornada. Infelizmente, a série é daquele tipo que se torna translúcida em poucos dias e muito provavelmente não nos lembraremos dela uma semana depois de a termos visto. Frontier não é um erro completo, não é uma série indigna, mas tampouco chega perto de alcançar as fronteiras da relevância.

Nota do Crítico
Ruim

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