Séries e TV

Crítica

Godless | Crítica

Uma das melhores produções televisivas do ano, série aposta em mudança de gênero do faroeste

18.12.2017, às 17H48.
Atualizada em 18.12.2017, ÀS 18H02

A fórmula do faroeste já é algo que perdura por muitas décadas no cinema. Clássico e relativamente imutável, o gênero explora sempre o século 19, envolvendo nativos americanos e os recém-chegados imigrantes europeus através de embates e duelos por terras, respeito, dinheiro, entre outros bens. Por mais que já tenha tentado atualizá-lo, Hollywood dificilmente traz novos elementos ao gênero - e é aqui que entra Godless, a nova produção da Netflix que mexe em um dos principais pontos do faroeste: o fato da maioria arrebatadora ser protagonizada por homens, deixando sempre as mulheres como prostitutas ou donas de casa.

Ao conhecermos a pitoresca cidade de La Belle, Novo México, um pequeno detalhe é imediatamente apontado: quase não há homens em sua população. Uma explosão na mina local matou praticamente todos os homens, deixando para trás somente as mulheres, crianças e idosos. Porém, por mais que esse seja um fato curioso sobre a série, não é o foco da produção. Godless acompanha, assim como a maioria dos faroestes, o embate entre dois homens: o criminoso Frank Griffin (Jeff Daniels) e seu companheiro que o traiu Roy Goode (Jack O'Connell). O imoral e vingativo Griffin promete destruir a cidade que estiver abrigando Roy, além de matar toda a sua população. Acontece de Roy encontrar refúgio exatamente na aparentemente indefesa La Belle.

Mesmo que mantenha os tradicionais moldes do faroeste, Godless ousa ao introduzir uma dúzia de fortes personagens femininas que variam da ex-prostituta que virou professora Callie Dunn (Tess Frazer), a dona do próprio rancho Alice Fletcher (Michelle Dockery), até a maravilhosa viúva do prefeito que passa a tomar conta ela mesmo da cidade, Mary Agnes (Merritt Weaver, excelente no papel). Cada uma das mulheres de La Belle toma para si os trabalhos que eram de seus maridos e mantém todas as responsabilidades que já tinham. Ainda assim, para todos que olham de fora, a cidade está despreparada e desprotegida para receber e enfrentar alguém como Frank Griffin e sua gangue de mais de 30 homens - e tudo conspira contra essas mulheres.

Com apenas sete episódios, Godless não perde tempo. Cada história, cada momento, cada núcleo e cada personagens serve seu propósito e tem exatamente o tempo de tela necessário. A jornada de Bill McNue (Scoot McNairy), seu envolvimento com Alice Fletcher, toda a história de Roy e sua relação com Griffin - tudo completa o desenvolver da trama. O roteiro de Scott Frank, aliás, costura muito bem todas as histórias, que se complementam o tempo todo para culminar em um dos mais belos tiroteios da TV.

O visual também é algo que Godless preza muito. Criando uma bela linguagem de cores para separar presente de passado e lembrança, Frank, que também dirige, escolhe abusar dos amarelos e marrons do deserto de Santa Fé nas cenas do presente, tirando quase toda a cor quando viaja ao passado em um flashback. As belas cenas que permeiam o P&B explicam relativamente pouco da história de apenas alguns personagens, mas dão o contexto necessário para entendermos exatamente quem são aquelas pessoas.

Godless é uma bela obra que atualiza o faroeste sem mexer muito na essência que o torna um clássico. Com excelentes personagens, uma trama interessante e um visual arrebatador, a produção é uma das melhores de 2017.

Nota do Crítico
Excelente!

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