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Crítica

Grey's Anatomy - 13ª Temporada | Crítica

Apesar dos bons momentos a série mais antiga de Shonda Rhimes entrega sua temporada mais confusa e apática

Omelete
5 min de leitura
22.05.2017, às 17H49.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H38

O mundo de Shonda Rhimes, criadora de Grey's Anatomy, é vasto de produções e se tornou uma marca criativa que muitas vezes se sobrepõe ao próprio produto. Pouquíssimos produtores executivos tem essa capacidade de se tornarem tão conhecidos quanto suas séries e geralmente isso tem a ver com a mão pesada dos mesmos na hora de imprimirem sua identidade. Qualquer olhadela nas redes sociais durante um episódio de uma atração de Shonda vai mostrar que entre as milhões de citações à série, há muitas direcionadas especificamente para sua criadora. É como se o sonho de todo autor (ser um pouco como o Deus do destino) se tornasse realidade num âmbito incomensurável.

Grey's Anatomy não encontrou sua identidade imediatamente. O programa foi vendida para a ABC como uma “comédia romântica hospitalar” e sua primeira abertura mostrava bem esse intuito. Nela, um monte de procedimentos típicos se transformavam em cenas de amor entre médicos, enquanto uma canção (da qual ouvimos apenas os acordes básicos até hoje) dizia: “Ninguém sabe como isso vai acabar”. E não sabíamos mesmo... Anos depois a série encontrou seu caminho dentro do subgênero do “drama hospitalar”, ficando mundialmente conhecida por usar os recursos trágicos sem medo de chocar sua audiência.

O formato do programa é daqueles que permite anos e anos sem precisar acabar. A prova disso é que estamos na décima terceira temporada, temos apenas quatro membros do elenco original e mesmo assim a audiência é relativamente estável, o apelo da série nas redes é imenso e um termômetro básico da receptividade do público mostra que ele é capaz de perdoar tudo desde que ela não precise acabar. Ainda que haja o drama pessoal de cada personagem fixo, as histórias dos pacientes permite aos roteiristas preencherem os tempos de episódio com esse cabide procedural, o que os livra de precisarem resolver tudo o tempo todo. Depois de tantos anos, é evidente que vários aspectos da atração já se cansaram.

Page Neuro

Ainda na sua segunda temporada, Grey's Anatomy aprendeu que a morte, o trágico, tinham seu valor de mercado. Shonda Rhimes defende muito bem a ideia de que a vida é cercada de morte, usando o hospital como alegoria de enfrentamento de perdas. Ou seja, para superar as próprias tragédias pessoais, os personagens tentam lutar pela vida de completos estranhos. A figura de Meredith (Ellen Pompeo) é essencial para esse contexto e o público demorou bastante a aceitar o quão forte a personagem era. Dona de uma personalidade introspectiva, sombria, com uma vida cercada de morte para todos os lados, Meredith batalha contra o legado da mãe, contra a própria natureza controversa e se tornou a “heroína” menos romântica que uma série nascida para a ser romântica já teve.

Costuma acontecer em programas com muitos anos de vida, que seus protagonistas essenciais precisem ser enfraquecidos na trama por conta de seus intérpretes, já muito cansados, que pedem aos produtores por mais tempo para viverem suas vidas. Ellen Pompeo é um trunfo imprescindível para a vida útil do programa e para não perdê-la qualquer exigência será concedida. Talvez isso explique porque os roteiristas principais desse ano (já que Shonda raramente assume episódios a essa altura) decidiram apoiar toda a décima terceira temporada numa trama concebida para destacar Alex Karev (Justin Chambers) e que já nasceu rasteira demais para conseguir dar conta de tantas expectativas.

Esse 13º ano demonstrou suas fraquezas desde o começo. A história da prisão de Karev era daquelas em que o roteirista sabe que o surpreendente seria se o personagem realmente tivesse a carreira destruída. Contudo, isso ele não pode fazer, o que torna todo o arco absolutamente inútil, visto que o público inteiro já sabe que muito em breve será como se nada tivesse acontecido. Intuitivamente, o espectador perde a conexão emocional com a história porque já sabe como ela termina e todos os desdobramentos possíveis se tornam enfadonhos e passam a ser aquela parte do episódio que você está prestes a pular com o cursor do player. Mas, apesar do erro de cálculo no plot da prisão de Alex, a série ainda tentou outra alternativa.

Page Cardio

Quando a Dr. Mennick (Marika Domincyzk) chegou ao hospital, parecia que os roteiristas tinham encontrado um caminho seguro. Durante todos os anos, as relações entre atendentes e residentes sempre beiraram a loucura e isso sem falar no tanto de relações construídas em cima da dinâmica médico-paciente, o que também não é lá um grande exemplo de ética. O texto da série sempre romantizou tudo e fez parecer que decisões ruins ou mesmo estúpidas eram fruto de impulsos emocionais válidos. Então, parecia inteligente que um personagem novo chegasse para “colocar ordem na casa” e dizer: “espera aí, isso aqui tá uma bagunça e alguém precisa fazer alguma coisa”. Era uma ideia ousada, mas que precisaria de muito cuidado para funcionar.

Não funcionou. Mennick foi introduzida de uma forma agressiva, os roteiristas tomaram partido dos personagens e os defendiam de um “vilão” que deveria ajudá-los. Grey's fez os fãs odiarem a personagem e odiava junto com eles. A solução foi tentar humanizar Mennick unindo-a com Arizona, mas o estrago já estava feito e eles precisavam só empurrar o plot com a barriga até que a finale chegasse e eles pudessem se livrar do problema. Magicamente, no último minuto, Bailey (Chandra Wilson) ganha uma compreensão a respeito do quanto aquela bagunça do hospital precisa ser mantida e demite a doutora. Pronto, segundo arco principal da temporada eliminado como se nunca tivesse existido.

Contudo, todos que acompanham Grey's Anatomy sabem que ela é emocional, cheia de impulsos humanos que se justificam no instinto. Sabemos que a série já criou sua própria “muleta” dramatúrgica e sempre inventa um desastre quando precisa chamar a atenção de seu público (talvez agora só falte uma invasão alienígena). Mas, ela sabe desarmar nossas defesas e mesmo vendo que muita coisa está errada, ainda nos emocionamos com Meredith feliz por ver um grande amor sendo devolvido a quem o achava perdido, com a despedida forte de Edwards (Jerrika Hinton) - que sempre foi uma personagem promissora - e com outras pequenas coisas que ainda nos comovem mesmo depois de tantos anos.

Grey’s Anatomy é um dos poucos casos em que mesmo cientes dos problemas, sentimos como se fosse impossível dizer adeus.

Nota do Crítico
Bom
Grey's Anatomy
Em andamento (2005- )
Grey's Anatomy
Em andamento (2005- )

Criado por: Shonda Rhimes

Duração: 18 temporadas

Onde assistir:
Oferecido por

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