Séries e TV

Crítica

Hannibal - 1ª Temporada | Crítica

Um cuidadoso retorno ao serial killer canibal mais famoso de todos os tempos

25.06.2013, às 00H23.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H39

Introduzir um serial killer na TV aberta era uma proposta ousada, ainda mais quando o assassino em questão é Hannibal Lecter, imortalizado por Anthony Hopkins na trilogia cinematográfica. Hannibal não só propôs o retorno do psicopata criado por Thomas Harris, mas entregou grandes promessas com destreza e de forma sutil, mostrando que séries criminais não precisam ser procedimentais para funcionar.

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A trama de Hannibal mostra o psiquiatra antes do cárcere, ajudando o FBI a resolver alguns crimes. Mais importante que isso, no entanto, acompanhamos de perto a peculiar relação entre Hannibal Lecter (Mads Mikkelsen) e Will Graham (Hugh Dancy) como médico e paciente, cientista e experimento, colegas de trabalho e amigos. É o relacionamento entre os dois que faz com que a série se destaque entre tantas outras, os desenvolvimentos em suas personalidades e nas interações com o restante da equipe do FBI.

Co-escrito por Harris e Bryan Fuller, idealizador da série, o ótimo roteiro nunca deixa a desejar. Ao introduzir uma série que incita a presença da fórmula "um crime e sua solução por episódio", a atenção do público estadunidense, que acostumou-se ao formato, está capturada. A partir daí é gradativa a mudança de foco, até que nos percebemos não mais interessados na originalidade dos crimes macabros, mas na delicada manipulação de Hannibal em todas as situações a sua volta.

Um dos grandes trunfos de Hannibal é sua originalidade. Diferindo das histórias apresentadas em Manhunter (1986), O Silêncio dos Inocentes (1991), Hannibal (2001) e Dragão Vermelho (2002), a série prima em introduzir um novo Will Graham, com novas habilidades e problemas. Afastado do FBI para dar aulas sobre investigação forense, Graham é convocado para voltar ao time por Jack Crawford (Laurence Fishburne). Seu retorno vem acompanhado de um psiquiatra, que observará a capacidade mental de Will para trabalhar nos casos que tanto o atormentam e envolvem, afinal, ele tem tendencias psicopatas reprimidas pelo bom senso que podem aflorar a qualquer momento. No entanto, são tais propensões que ajudam o agente a ser eficiente no trabalho de investigação, já que ele consegue pensar como o assassino.

Hannibal funciona como um todo, um grande filme com 13 horas de duração, pois ao nos oferecer uma pista, é necessário tempo para que sua recompensa seja alcançada. Em um ponto, Dr. Lecter diz sentir o cheiro do câncer em uma de suas pacientes só para, alguns episódios a frente, descobrirmos uma grave encefalite que ataca o cérebro de Will. Há uma frieza cirurgica presente em cada decisão tomada pelo serial killer e, ainda asssim, é possível se identificar e sentir piedade de Hannibal quando ele finge sentir qualquer tipo de emoção para sua própria terapeuta, a Dra. Bedelia Du Maurier (Gillian Anderson).

Mesmo que mostre pesadas cenas do crime sem restrições - como, por exemplo, um totem feito de partes humanas, pele das costas que acaba virando asas angelicais e plantações de cogumelos feitas em corpos semi-vivos -, Hannibal é negligente em mostrar o canibal em ação. Ao sugerir as refeições preparadas pelo cuidadoso cozinheiro, qualquer prato carnívoro parece dar ânsia, indicando que ele não somente come humanos, mas também faz com que pessoas próximas saboreiem órgãos abatidos por ele mesmo. Não confunda, porém, a caça com um mero assassinato. Hannibal não poupa aqueles que possam prejudicar sua reputação.

O diverso elenco deve, também, ser considerado como um dos pontos altos da série. As nuances provenientes do dinamarquês Mikkelsen são essenciais para o desenvolvimento da narrativa de Hannibal. Ao perceber que pode ser alvo de qualquer suspeita, é visível uma tênue expressão de preocupação, invisível aos olhos dos personagens mas compreensíveis ao público, que sabem com o que estão lidando. Calmo e calculista em situações difíceis, Dr. Lecter se mostra lúcido quando a mais lógica das pessoas estaria em pânico. É a falta de qualquer abordagem emocional real que faz do Hannibal de Mikkelsen um dos melhores serial killers já vistos na TV.

Hugh Dancy e seu delirante Graham não ficam para trás. Febril e coberto de suor durante a segunda metade do primeiro ano, o agente desafia todos ao se provar mais são do que o resto de sua equipe. Instável, entre momentos de sanidade e ilusão, o britânico usa de diálogos curtos e rápidos para passar a sensação de urgência na qual seu personagem se encontra. É a presença de um alce negro que informa a Graham sua ausência de realidade, nos proporcionando um momento de confusão quando descobrimos que não percebemos quando a cena passou a ser uma visão de Will.

Inferindo a manipulação de Hannibal sob o colega de trabalho e paciente que alega ser seu amigo, é perceptível o poder que há em todas as provas coletadas contra Will. Tudo não passa de uma grande farsa que, sendo uma grande farsa por si, dificulta análises secundárias. Levando em consideração o histório de problemas mentais de Graham, analisados pelo inteligente e sagaz psiquiatra, nada mais justo que um corajoso "olá, Dr. Lecter" para finalizar a bela e cuidadosa construção de Hannibal.

Nota do Crítico
Ótimo

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