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13 problemas de roteiro em 13 Reasons Why

Opções de desenvolvimento ou apenas furos na narrativa?

14.04.2017, às 10H28.
Atualizada em 14.04.2017, ÀS 11H00

Para quem segue tudo o que sai na Netflix, é impossível estar alheio à estreia de 13 Reasons Why. À parte a discussão importante sobre suicídio e o potencial efeito Werther que a série supostamente causaria, 13 Reasons Why continua sendo digno de análise (sem trocadilho), e na galeria abaixo observamos algumas opções narrativas e levantamos para debate 13 furos de roteiro da primeira temporada. Spoilers à frente!

A presença de Clay nas fitas

Ao interpelar os adolescentes sobre a passividade diante do conteúdo das mídias, Clay é constantemente aconselhado a primeiro ouvir a sua fita. O espectador vive junto sua angústia para descobrir o que de fato ele fez que contribuiu para a decisão de Hannah tirar a própria vida. No entanto, ao chegar na sexta fita, descobrimos que Clay é uma exceção. Apesar de estar nas fitas, ele não é um motivo pelo qual Hannah se matou. Se esta é a grande revelação, o que afinal os outros garotos sugerem ao dizer a Clay “primeiro ouça a sua fita”?

Clay: de complexo para superficial

A falsa indicação de que Clay teria um lado desconhecido a ser revelado em sua fita o transforma de um personagem potencialmente complexo para um de personalidade rasa. A revelação de uma faceta obscura em contradição a sua postura de bom garoto abriria uma camada a mais em sua complexidade. Até o episódio 11, as atitudes de Clay davam a entender que o garoto queria acreditar que realizava os últimos desejos de Hannah, quando, na verdade, tentava abrandar o próprio sentimento de culpa. Essa possibilidade foi subtraída assim que Hannah o inocenta e Clay se torna um mero justiceiro da moral.

Por que Clay não ouviu logo as fitas de uma vez?

Para estimular a maratona do espectador da Netflix, as fitas aguçam aos poucos a curiosidade sobre as histórias. Clay estava tão abalado pela perda de Hannah que em dado momento desiste de ouvir as fitas, alegando não suportar a tortura de ouvir a voz de sua amada morta. Ao mesmo tempo, se angustiava para saber o que havia feito para estar nas fitas. No fim, a justificativa para que ele não ouvisse todas as fitas de uma vez tem mais a ver com servir a uma estrutura de série em 13 episódios do que prestar-se à verossimilhança.

Por que Sheri é um dos 13 motivos?

Envolvida no acidente que quebra a placa de PARE em um cruzamento depois de sair de uma festa, Sheri recebe sua parcela de culpa por abandonar Hannah no caminho e por estar indiretamente envolvida no acidente que acontece no local posteriormente. Sheri está nas fitas por fazer Hannah se sentir responsável pela morte de Jeff? Esse seria, por alguma lógica, motivo considerável para uma pessoa que enumera razões para se matar? 

Clay e Sheri: a empatia por um fio

O que Clay queria exatamente quando pede para que Sheri se entregue à polícia? Estereótipo do bom menino, Clay tenta criar na garota um sentimento de culpa simplesmente porque "essa é a coisa certa a fazer". A série quase dá um tiro no pé no quesito empatia pelo protagonista quando Clay se mete de forma incoveniente em um assunto que não lhe diz respeito. Essa cena talvez fizesse sentido se a série abordasse mais diretamente a inconsequência adolescente, falando sobre moralidades pessoais e verdades relativas, como veremos a seguir. Mas, novamente, tudo não passa de potencial.

Hannah é ou não uma narradora confiável?

Os jovens citados por Hannah afirmam que ela não fala a verdade em seus depoimentos. No início, isso soava como uma reação de autoproteção. Porém, quando Zach prova uma contradição de Hannah, a série levanta a questão sobre a legitimidade do que ela diz nas fitas. É outro enorme potencial para evoluir Clay enquanto personagem, já que a mentira de Hannah entra diretamente em choque com sua cega lealdade pela garota. Adiante, a confirmação de Justin sobre o estupro de Jessica por Bryce devolve credibilidade a Hannah e a possível inconsistência de sua versão é simplesmente deixada de lado.

Qual é a função de Tony?

Quando Clay recebe as fitas, Tony passa a ser um stalker que observa na espreita da janela de seu Mustang, como quem não tem nada além disso para fazer na história. Tony é uma ferramenta utilitária sem vida própria, que leva o namorado ao Monet’s e surra pessoas para proteger sua família, mas que basicamente não tem uma história para contar. Em uma cena, o tutor das vontades de Hannah leva Clay para a beira de um penhasco, para ele um lugar ideal para o garoto ouvir sua fita. Afinal, Tony queria que Clay se jogasse la de cima ou os roteiristas queriam criar uma situação dramática conveniente? 

Mic drop - o jeito de encerrar as cenas

Muitas opções de roteiro acabam sendo relevadas e justificadas como mero comportamento adolescente. Mas em alguns casos, os roteiristas parecem ter se inspirado na juventude retratada em Malhação. Cenas que terminam com alguém deixando uma frase de efeito e indo embora são muito frequentes. O velho ensinamento de William Goldman sobre a duração das cenas no roteiro - comece tarde, termine cedo - poderia servir como opção para estas cenas, mas o mic drop constante expõe a recorrente falta de recursos de escrita da série.

Por que Marcus coloca maconha na mochila de Clay?

A sequência da prova plantada e descoberta do flagrante é tão questionável que os próprios personagens se indagam sobre a validade da atitude de Marcus contra Clay. Independente de estar ou não suspenso da escola, Clay continua sendo uma bomba-relógio. Marcus justifica sua atitude dizendo que "queria ganhar tempo". Que tempo? Além disso, nenhuma apuração foi aberta pela direção da escola e ninguém questionou se Clay falava ou não a verdade ao se defender, sugerindo que perguntassem a origem da droga para quem o denunciou.

Bryce nunca desconfiou das fitas

Apesar das reuniões em sua própria casa, de Justin ter violado uma correspondência endereçada a seu pai, do recado recebido por Zach na tintura de seu carro, de seus amigos viverem aos cochichos nos corredores e saindo com pessoas com quem não se envolveriam normalmente, Bryce sequer desconfiou que alguma coisa pudesse estar acontecendo debaixo de seu nariz. Em uma das últimas cenas da série, Bryce pateticamente questiona Justin sobre como Clay poderia saber sobre ele e Hannah, como se pela primeira vez tivesse motivos para desconfiar de algo errado. Problemas de verossimilhança.

Redundâncias e repetições

Da mesma forma que O Hobbit transformou um pequeno livro em uma longa trilogia, Os 13 Porquês criou 13 horas de material audiovisual a partir de um livro de 256 páginas. Para tornar esta adaptação viável, os roteiristas tiveram que criar cenas e modificar relações entre personagens. O problema é que a série esgota as possibilidades e recusa potencialidades narrativas. Tanto que passa a repetir cenas (quantas vezes Clay foi perguntar a alguém sobre as fitas que ele deveria estar ouvindo?) e diálogos a exaustão (Seriously?!), para a história render a quantidade de episódios de uma série de TV.

Se as fitas comprometem tanto, por que não agir?

Sob o risco do vazamento das acusações, todas as pessoas citadas por Hannah obedecem às suas exigências: ouvir as fitas e passá-las adiante. Mas se as fitas são tão ameaçadoras, por que o grupo ameaçado não age de forma a eliminar qualquer prova que possa haver contra eles? Não é segredo para nenhum deles que Tony é o guardião dos backups. Ele poderia ter sido oprimido por uma artilharia pesada, que incluiria Bryce e seus métodos criminosos de aterrorizar quem se rivaliza a ele. Ao invés disso, estamos diante de um grupo de antagonistas impotentes. 

Afinal, por que tanta preocupação com o vazamento das fitas?

Ao longo da série, o grupo que conspira contra Clay teme pelo vazamento das fitas como quem tem muito a perder. É intrigante para o espectador imaginar quais seriam os segredos que o depoimento de Hannah está prestes a revelar. Para que a união de jovens tão diferentes entre si faça sentido, o espectador considera que talvez fossem cúmplices de um crime hediondo ou coisa do tipo. Há, no entanto, um criminoso, que por alguma razão é acobertado por todos os outros. No fim, o grande risco que todos correm é o de não serem aceitos nas grandes universidades no futuro, e isso é tudo. 

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