Quem quer um programa? Pipoca da Ivete e a fábrica de apresentadores da TV

Créditos da imagem: Arte/Omelete

Séries e TV

Quem quer um programa? Pipoca da Ivete e a fábrica de apresentadores da TV

Fui convidado para acompanhar as gravações do novo programa de Ivete Sangalo.

Omelete
5 min de leitura
15.07.2022, às 19H22.
Atualizada em 22.08.2022, ÀS 17H12

Quando a coluna Ovo Mexido foi convidada para presenciar parte das gravações do novo programa de Ivete Sangalo, de uma coisa era impossível se ter dúvidas: seria divertido. Ivete Sangalo é daquelas artistas que podem não ter a escola, mas têm o instinto. Com humor e carisma, ela dá conta de ser atriz, apresentadora, o que vier, desde que tenha liberdade para derramar seus litros de simpatia no público. E deixa sem sono um batalhão de profissionais da área que com anos de microfone, ainda sofrem para fazerem seus projetos funcionarem. A Pipoca da Ivete é quase – eu digo quase – um investimento de retorno garantido.

Depois de sermos recebidos com um almoço num dos restaurantes mais prestigiados dos Estúdios Globo, entramos pelos fundos do palco e encontramos uma plateia aquecida e disponível. Ivete entrou fazendo comentários sagazes sobre a presença dos jornalistas e brincou com a plateia o tempo todo. Assistiríamos à gravação do começo do programa 1 e a um número musical com Diogo Nogueira. Ivete fez um monólogo emocionado sobre apresentadores que lhe ajudaram (entre eles Faustão, Xuxa e Mara Maravilha) e repetiu o número com Diogo algumas vezes. Os poucos minutos foram suficientes para estabelecer o clima de descontração e camaradagem.

À vontade, Ivete situou o programa onde ele realmente precisava ser situado: num lugar da festa. “As pessoas me associam à diversão”, disse ela, certeira. Desde seu trabalho no The Masked Singer Brasil, Ivete já dava sinais de que seu futuro na TV tinha atravessado a fronteira de ser convidada por apresentadores para se tornar uma. O formato - que inclui também um pouco de dramaturgia (Ivete vai recriar cenas clássicas das novelas) - foi pensado para abraçar seus pontos fortes e agradar uma parcela da audiência que ainda sintoniza seus aparelhos aos domingos em busca de variedades. Não é difícil pensar um programa para Ivete, e Boninho (que estava presente) sempre soube disso.

A Globo, contudo, nem sempre tomou as decisões certas sobre esses atores e cantores que foram feitos apresentadores em algum momento. Enquanto nomes como Fautão, Silvio Santos, Luciano Huck e Ana Maria Braga descenderam direto de áreas próximas da apresentação, alguns outros como Sabrina Sato, Marcos Mion, Tais Araujo, Andre Marques, Marcio Garcia e até a própria Ivete foram colocados nessas posições e experimentaram essa imprevisível roleta de resultados a curto prazo. E não é que os artistas não estivessem prontos para viverem suas personas de apresentadores; muitas vezes o problema está no que precisa ser apresentado.

Um exemplo dessa desorganização conceitual é o que tem sido feito com Fernanda Gentil, que, oriunda do esporte, amarga um projeto mal concebido atrás do outro. Boninho sempre teve essa ousadia de escolher atores, atrizes e jornalistas para serem apresentadores; e produziu marcos da televisão brasileira (como a única semana de Marisa Orth apresentando o BBB). A trinca de jornalistas que apresentou o reality funcionou (Bial, Leifert e Schimidt), mas André Marques, por exemplo, amargou a terrível apresentação do No Limite e saiu de cena sem que ficasse claro até que ponto os problemas eram de seus níveis de empolgação ou se a direção estava indo para o lado errado.

Nas outras emissoras a dinâmica não é muito diferente. Rodrigo Faro pode ser visto na reprise de O Cravo e a Rosa como uma promessa de galã da casa. Agora, é conhecido como um apresentador popularesco, naquela melhor vibe anos 90 de fabricar furos esdrúxulos e pedir para conferir se a audiência está alta no meio de um lamento. Entretanto, Record, SBT e Band assumem poucos riscos, preferindo os clássicos de outrora e as posições em reality shows. Mesmo o streaming acaba também sendo mais cauteloso. Sandy, que apresentava um inexplicável programa de culinária, já sumiu do catálogo da HBO Max.

Parece que as empresas encaram a presença do apresentador como única garantia de sucesso. E nesse raciocínio colocam Sandy para fazer comida, Angélica para fazer mapa astral, Gentil pra fazer gincana, Xuxa para imitar a Ellen e por aí vai... Existe uma diferença grande entre o desafio e a teimosia. A sensação de adequação que a Pipoca da Ivete traz vem de um lugar simples: o lugar certo. Ivete vai fazer humor e carnaval, que é exatamente o que ela sabe fazer.

No dia 24 o programa estreia, mas se você quiser dar uma olhadinha no que vem por aí, é só dar play logo abaixo. 

Está definido que...

... a temporada atual do Master Chef segue demonstrando a força do programa. Ana Paula Padrão, inclusive, é outro exemplo de jornalista que foi parar no entretenimento e tem estado muito confortável por lá. O programa escolheu bem seu elenco, tem nomes interessantes, alguns, como sempre, dados ao papel de vilania e outros extremamente carismáticos, cujas eliminações já causaram revolta. A direção continua sendo elegante, bem cuidada e com provas criativas. Embora tenham eliminado aquela dinâmica absurda do mezanino salvar alguém da berlinda, algumas decisões como mandar de volta para eliminação alguém do grupo que foi melhor, continuam sendo esdrúxulas.

... que embora o No Limite tenha melhorado ao abraçar um pouco mais as regras do Survivor, ainda há muito o que fazer para melhorar o ritmo do portal e da eliminação. Mas, Fernando Fernandes foi uma ótima escolha para a apresentação.

Está a definir...

... se daremos outra chance ao Encontro Patrícia Poeta (não Encontro COM Patrícia Poeta) depois do fiasco daquela estreia. Nos dias de hoje, uma equipe de direção que permite aquele absurdo é algo completamente inconcebível. Manoel Soares não merecia aquele tratamento e a coisa toda acabou colocando Patrícia na reta da rejeição da internet.

... se um dia voltaremos a ver o Caldeirão do Mion, depois das mudanças que aproximaram o programa do pior do gênero. O quadro de colocar a mão numa caixa com alguma porcaria dentro é pura idiotice.

Sobre a coluna Ovo Mexido 

Há muito tempo que a televisão não é mais a mesma, mas uma coisa sobre ela é irrefutável: ela persiste. O conceito de Omelete é quebrar ovos e transformá-los numa mistura homogênea que sirva ao consumidor com o gosto de familiaridade que ela tem. Um ovo mexido não é tão homogêneo assim, mas dentro de sua irregularidade, pode agradar pela proposta de novas texturas. Aqui na coluna o assunto será a TV em todas as suas épocas, formas e transições. E é isso que vamos servir para quem é apaixonado por entretenimento tanto quanto nós.

Todo mês, a coluna falará sobre tudo que diz respeito à televisão – da aberta ao streaming – com novelas, séries e realities; um espaço para “prazeres culpados" sem culpa nenhuma. 

*Henrique Haddefinir é colaborador do Omelete desde 2013, também é roteirista, dramaturgo, escritor e mestrando em teoria e crítica

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