Séries e TV

Crítica

O Nevoeiro - 1ª temporada | Crítica

Conflitos interpessoais não conquistam e névoa passa longe de assustar

21.09.2017, às 18H54.
Atualizada em 21.09.2017, ÀS 21H00

Mais uma vez o conto The Mist, de Stephen King, é adaptado para a plataforma audiovisual. Depois do longa de 2007, dirigido por Frank Darabont, dessa vez houve a tentativa de ampliar a história para o formato de série de televisão. O Nevoeiro gira em torno da cidade de Bridgton, no Maine, que é envolvida por uma névoa inexplicável e espessa a ponto de impedir quase totalmente a visibilidade. Como se o fenômeno natural não fosse problema suficiente, os moradores descobrem que os mais diversos monstros se escondem no nevoeiro e começam a deixar um rastro de mortes cada vez maior. Em paralelo a isso, todos precisam lidar com pequenos conflitos prévios, como o estupro de uma adolescente.

Os dois primeiros episódios apresentam uma trama aparentemente despretensiosa, dando as ferramentas para o desenvolvimento de um programa pouco ambicioso, mas simples e divertido na média. Porém, conforme a história avança pela temporada, O Nevoeiro começa a se tornar uma experiência um tanto quanto decepcionante. Parte disso acontece pela quantidade de tempo empregado na missão de focar mais nos efeitos psicológicos da névoa no coletivo do que na fumaça em si. A série tenta desenvolver situações cada vez mais complicadas entre os personagens, mas o resultado disso é um roteiro um tanto quanto irresponsável na hora de lidar com temas sensíveis como estupro, vício em drogas e homofobia.

Há momentos em que a série derrapa violentamente: a parte da trama que se passa em um hospital, por exemplo, é uma bagunça. A relação entre Adrian Garf (Russell Posner) e o mal resolvido Tyler Denton (Christopher Gray) não convence - o caso dos dois começa basicamente no banheiro do hospital com um espancamento que evolui para uma experiência sexual. O arco de Kevin (Morgan Spector) e seu irmão Mike (Peter Murnik), como se já não fosse novelesco o suficiente por conta da fixação platônica do segundo pela esposa do irmão, ainda é coroado com uma cena de cirurgia pouquíssimo convincente. A forma como a história dos irmãos Copeland é encerrada inclusive deixa a impressão que tudo ali foi tempo perdido - na série e fora dela. O embate vigoroso dos dois Bryan Hunts, que minutos antes de começarem a lutar eram basicamente moribundos, é a cereja no topo de um bolo solado.

Mas o hospital não é nem de longe a única coisa problemática da série. Alex (Gus Birney) chateada por ter sido rejeitada pelo Nevoeiro não faz o menor sentido - chega a ser cômico ver Eve (Alyssa Sutherland) tentando consolar a filha por basicamente ter sobrevivido. A maior parte das cenas de terror não funciona. A cena de Mia sendo aterrorizada por mensagens que se escrevem sozinhas nas paredes ou por rádios que tocam sozinhos não desperta uma fagulha de medo, o monstro de fumaça que ataca Alex e a filha de Shelley (Alexandra Ordolis) não assustaria uma criança - são vários os exemplos de tentativas frustradas de fazer terror.

Há arcos bastante clichês também, que, apesar transbordarem obviedade, não teriam sido ruins por completo se fossem melhor aproveitados. É o caso do médico louco usando pacientes como cobaias para entender o que estava acontecendo no nevoeiro ou do fanático religioso tentando subjugar violentamente todos à sua fé. Ambos os casos anteriores se resolvem com certa pressa, mantendo a série no nível superficial padrão e evitando criar arcos psicológicos mais elaborados - uma pena.

O Nevoeiro acaba se tornando a história de um pai desesperado para encontrar sua família. A jornada de Kevin é uma das poucas coisas realmente coerentes na série, mas não salva o programa por pura falta de carisma - tanto do personagem quanto dos seus entes. A trama apresenta vilões óbvios no começo e desconstrói isso ao longo dos episódios, mas isso ocorre de uma forma tão óbvia que qualquer efeito de reviravolta é limado. O Nevoeiro é o tipo de série que começa como algo promissor e opta por caminhos narrativos e gráficos questionáveis, arruinando as chances de sucesso do produto final. O resultado disso é uma série medíocre, no sentido mais etimológico possível da palavra: de qualidade mediana, comum, modesta, na média. Em O Nevoeiro, a névoa não assusta e as dinâmicas interpessoais não agradam - a série soa no máximo como uma última opção para passar o tempo. Um pena, dado o potencial do material que serve de base.

Nota do Crítico
Regular

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