A Netflix continua sua investida no audiovisual brasileiro. Quase quatro anos após a ficção científica 3% iniciar a leva de produções nacionais no serviço, o streaming agora retorna com mais uma produção de gênero: o terror satírico Reality Z.
A série é baseada em Dead Set, uma minissérie britânica de 2008 criada por Charlie Brooker, que alguns anos depois ficou conhecido como o responsável por Black Mirror. A premissa mostra a casa de um reality de confinamento, tipo Big Brother, como o único refúgio em meio à um apocalipse zumbi. O que muda na adaptação nacional é que, diferente da inglesa, o programa aqui vai além dos muros da casa vigiada, e introduz outros arcos, como um que acompanha a relutante criadora do programa, e outro com um deputado covarde que abusa de seu poder para sobreviver.
Quem comanda o projeto é Cláudio Torres, diretor conhecido por filmes nacionais de gênero, como Redentor (2003) e O Homem do Futuro (2011). Em entrevista ao Omelete, o cineasta explica seu carinho pela fantasia mesmo em momentos delicados: “A série se tornou contemporânea e ligada ao nosso momento, mas é uma distopia. É uma fantasia, e é por isso que eu gosto tanto do gênero, e do cinema fantástico. Você cria um universo, uma situação e ela espelha a realidade, e não tenta recontar o que tá acontecendo ou reproduzir fidedignamente para poder falar dela. O mundo da fantasia permite que você seja poético e, ao mesmo tempo, fazer uma reflexão sobre o mundo que vivemos atualmente [...] Eu acho que eu fui chamado pela Netflix um pouco por conta disso, por ser um diretor que acredita no gênero fantástico.”
Cláudio Torres no set de Reality Z
Mas não é só de comentário social que se faz uma obra de zumbis. É preciso de sangue. Nesse aspecto, Reality Z não decepciona. Além dos mortos-vivos conquistarem pela nojeira e agressividade, há boas cenas em que eles são eliminados das formas mais grotescas possíveis, como tendo a cabeça explodida por um extintor de incêndio em plano explícito, em gloriosos detalhes.
“Por causa do histórico da [produtora] Conspiração, que sempre acreditou muito na pós-produção, a gente tem dentro da própria produtora uma divisão de efeitos especiais, chefiada pelo Cláudio Peralta”, explica Torres. “Eu sabia que a gente podia lidar com bons efeitos especiais. São da casa, é o nosso DNA [...] Sabia que a gente tinha capacidade de produzir um show de nível internacional, de igual para igual com o que existe de tecnologia e modernidade. Estaríamos pau-a-pau com produções de fora. Já tinha viajado no tempo, já tinha feito o Pedro Cardoso levitar. Já tinha lidado com situações inusitadas antes.”
É visível que Reality Z quer ficar no mesmo patamar de outros obras do gênero que estão na plataforma. Para Torres e a produção, o caminho não é apenas replicar a obra original, mas sim fazer um remix, juntando a estrutura britânica com o tom e personalidade brasileira. “Até o quinto episódio é um reboot, reorganiza o Dead Set de uma maneira que dê continuidade. A partir do sexto, é puro Brasil”, garante Torres “É o que a gente fez com a premissa do Charlie Brooker. Parte de um ponto muito universal, que são os personagens que habitam em torno de um reality. O diretor, o assistente de produção e os participantes são parecidos em todos os lugares do mundo, mas a partir do capítulo 6, os personagens brasileiros e inéditos assumem a narrativa. É a nossa contribuição para a obra original.”
Com 10 episódios, Reality Z estreia na Netflix em 10 de junho.