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O Corvo | Omelete Entrevista John Cusack e James McTeigue

Ator e diretor falam sobre o processo criativo, a influência de Edgar Allan Poe e mais!

17.05.2012, às 17H33.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 17H16

Estreia nesta semana, 18 de março, O Corvo (The Raven). O longa foi dirigido por James McTeigue e tem John Cusack como o escrito Edgar Allan Poe. A trama acompanha um jovem detetive atrás de um serial-killer que misteriosamente mata suas vítimas baseado nas história de Poe.

Nosso correspondente em Los Angeles, Steve Weintraub, teve a oportunidade de conversar com Cusack e McTeigue para a divulgação do filme. Eles falaram sobre como foi o desenvolvimento do projeto, a influência dos livros de Poe na trama e de sua vida particular e muito mais!

Confira:

John Cusack: Consigo sentir pela sua mão que você é um fã do Poe.

Não vou confirmar nem negar essa informação mas eu diria que existe a chance de eu conhecer o trabalho dele. E ser fã.

JC: Posso ver isso em você. Para o público, isso é uma construção que vocês estão ouvindo e não uma serra na minha cabeça. Não é uma tortura mental.

Fale um pouco sobre como você se envolveu com o projeto: ele aconteceu bem rápido ou está se desenvolvendo há muito tempo?

JC: Bom, para mim foi muito rápido. O projeto é do James McTeigue e da agência, então eles devem ter passado por outros lugares antes. Mas a gente se encontrou bem rápido... E o filme foi financiado independentemente. O dinheiro do filme não veio de Hollywoood. E aí mais tarde a Relativity comprou. Então parecia que o risco era meu e do James. Nós tínhamos o dinheiro, fomos para a Sérvia... Não tinha ninguém enchendo a gente. A gente sentia que... Assim que é bom fazer um filme.

Foi um pouco mais sangrento que eu esperava.

James McTeige: Sim.

Mas foi bom.

JMcT: É, espero. Acho que quando você faz um filme sobre Edgar Allan Poe, se você não tiver um pouco de coisas nojentas e sangue nele então você estará desonrando um pouco ele. Acho que algumas pessoas vão dizer: "nossa, é sangrento!" Mas acho que se você rever qualquer história do Poe e espero que quando as pessoas virem o filme elas vão rever as histórias do Poe. Aí irão perceber que aquilo que coloquei no filme é a ponta do iceberg do que o Poe fazia.

Acho que minha pergunta sobre as pesquisas quando você está aprendendo sobre alguém é: o que te surpreendeu? O que você aprendeu que te deixou tipo... Que te surpreendeu ou que você ficou tipo: "tenho que colocar isso no filme". "Tenho que garantir que as pessoas entendam esse aspecto do personagem".

JC: Acho que quando... Quando você faz alguém icônico assim há uma tendência em achatá-lo. Ele se torna um arquétipo, uma sombra arquetípica. E, claro, ele é o padrinho do gótico e é esse Poe sombrio. Ele anda entre os mundos da vida e da morte. Nós temos essa imagem congelada deles. Como o Vagabundo de Charlie Chaplin. Fica um pouco bidimensional. Mas se você olhar para ele em seu contexto com outros escritores e os gêneros que ele criou e... sobre o que ele escrevia, as diferentes coisas que ele escrevia, ele era um pioneiro na questão do subconsciente em vários sentidos. E ele também era um alcoólatra. Ele era da alta e da baixa cultura ao mesmo tempo. Ele escrevia poesia esotérica Mas também escrevia esse suspenses e terrores com gancho para sábado à tarde. Quero dizer, ele não é mesmo esse... Não é só esse coitado, triste e melancólico Edgar. Ele foi torturado de várias maneiras. Ele tinha todas essas... qualidades de um paradoxo. Coisas que não deviam estar juntas estavam dentro dele. E ele era engraçado. Eu não descrevia ele como uma pessoa engraçada, mas suas histórias eram ácidas, absurdas, algumas eram satíricas. Ele brincava com a forma, o gênero e o estilo e provavelmente o crítico mais brutal sobre outros escritores que já existiu. Ele dilacerava outros escritores. Ele dizia: "não pretendo elogiar nada que eu possa falar mal". Acho que ele não disse nada de bom sobre qualquer escritor vivo. Você vê o Hunter Thompson, o Norman Mailer ou o Truman Capote ou qualquer um desses atores que usavam a narrativa em primeira pessoa, no modo de se colocarem em meio aos seus demônios no centro das histórias. Foi ele que começou com tudo isso.

Como foi, neste projeto em particular, em termos de como começou até o que eu vi na tela. Quanto que o roteiro mudou? Se é que mudou.

JMcT: O roteiro mudou um pouco. Quer dizer, a premissa que a Hannah Shakespeare e o Ben Livingston escreveram sempre foi a premissa. Sabe, tem o Edgar Allan Poe. Vamos misturar fatos e ficção. Vamos colocar uma estrutura ficcional onde Poe vive. Você aprende um pouco sobre a vida dele mas também aprende sobre suas histórias. E aí colocamos tudo em um contexto fantástico. Acho que a motivação do assassino mudou, era um pouco diferente no início. Era esse cara lutando exaustivamente contra a industrialização. Essa era sua motivação para matar. E eu achei que isso não funcionava. E aí comecei a pensar: "e se fosse algum fã obcecado? E se o Poe estivesse tendo um bloqueio criativo? E se na mente desse cara doido ele quisesse que o Poe voltasse a escrever e o jeito que conseguiu foi colocando o Poe no meio dessas histórias? Ele idolatra o escritor mas chega um ponto que ele acha que é igual ao escritor". Eu achei que era um conceito interessante, já que o Poe é propenso a colocar um sonho dentro de um sonho. No fim o Poe está olhando para ele mesmo como um doppelgänger. "Quem é esse cara? Ele é eu ou um psicopata?" Sempre tentando voltar a... O elemento artístico é que você é responsável por aquilo que você escreve. Você pode escrever "Dexter" sem ser responsável por um serial killer por aí? Não, faz parte da criação. Acho que é bom se fazer essas perguntas. Acho legal discutir isso na sociedade.

Você filmou em película ou usou digital? E por quê?

JMcT: Eu filmei em película porque senti que o clima do filme pedia isso. Quer dizer... No momento eu filmei algo com a Alexia, semana passada. Eu amei. É incrível e as coisas estão indo nessa direção. A película sempre estará por aí... O filme sempre estará por aí assim como o vinil, por exemplo. Então eu filmei em película porque no fim pensei que em película o preto ficaria mais forte. Para mim muita coisa no filme era o que estava fora do quadro. Conversei muito com Danny Ruhlmann, nosso diretor de fotografia, e decidimos que seria película. E eu acho que os tons do rosto ficam melhores em película ainda. Um é um processo químico, o outro é electrónico. Não conseguiram deixar parecido ainda. Mas estão perto. Sabe, me perguntaram o que eu achava de ver as máscaras de "V de Vingança" no Ocuppy Wall Street. Eu disse que era ótimo. Eu realmente achei ótimo porque pude ver... esta é outro geração de pessoas politizadas. Se a máscara deu a eles uma forma de fazer isso então eu acho que é fantástico. Quando eu fiz aquele filme foi por esse motivo. Nós estávamos naquele clima pós-11 de Setembro, ou você estava com a gente ou contra nós. E foi ótimo poder dizer: "sabe, esse é um filme estilo anos 1970, no meio atual, que é 'não diga nada contra o governo'". E eu fiquei muito contente em fazer um filme que dizia: "sabe, o governo não está certo".

Também estão no elenco Alice Eve (Sex and the City 2), Brendan Gleeson (In Bruges) e Oliver Jackson-Cohen (Faster). O roteiro foi escrito por Hannah Shakespeare (Obsessão, Ghost Whisperer) e Ben Livingston.

O Corvo já está em cartaz. Leia a crítica.

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