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5 Frações de Uma Quase História

Pura vontade de fazer um cinema diferente, em que a arte prevalece sobre a mesmice

08.05.2008, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H35

Fazer cinema no Brasil é trabalho para poucos. Fazer cinema fora do eixo Rio-São Paulo é trabalho para loucos. Não pela demência em si, mas pelas inúmeras dificuldades extras que são enfrentadas. São estes problemas, porém, que dão um sabor ainda mais gostoso à vitória que é ver um projeto como 5 Frações de Uma Quase História (2008) chegar ao circuito comercial. Seu modelo é diferente do que se vê por aí. Em vez das grandes estrelas das novelas, os seis diretores optaram por rostos menos conhecidos, que não eclipsariam as histórias que eles queriam contar. Histórias, sim, no plural. São cinco delas, cada uma dirigida e atuada por pessoas diferentes, mas que conseguem manter uma unidade em meio a tantas diferenças.

A primeira tem como protagonista Carlos (Leonardo Medeiros), um fotógrafo obsessivo que entrou numa fase podólatra. Sua tara pelos pés das moças é insana e é só um primeiro olhar sobre esse estranho grupo de personagens que estamos prestes a conhecer. Como uma raposa perdida no galinheiro, ele não sabe atrás de qual das presas vai primeiro. Dá um clique aqui, uma ciscadinha naquele outro pé ali e, pouco a pouco, vai mostrando - em um bem coreografado trabalho com a câmera - a sua loucura em cenas não lineares, que podem (ou não) ser parte apenas do mundo insano que está na sua cabeça.

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Ainda mais desequilibrado é o personagem de Luiz Arthur, que sequer foi batizado. Da ponta do controle remoto da TV ele vai viajando para uma realidade que só ele vê e entende. Seu olhar perdido o leva para um mundo sem sentido, em que ele pode até mesmo ser um Brad Pitt indo ao encontro de Thelma e Louise.

Os protagonistas das próximas histórias são mais reais, mas não necessariamente mantêm os pés no chão, principalmente o juiz Abel Fortunato (último papel completo filmado por Jece Valadão). Cheio de poder e dinheiro obtidos de maneiras "não-convencionais", ele precisa agora da ajuda do "carimbador" Akim (Nivaldo Pedrosa). Em troca de um favor, ele oferece ao funcionário uma generosa bolada que pode ensiná-lo a viver. E isso, em uma história de Jece Valadão, tem de envolver mulheres em fartura, é claro. A seqüência em que Jece e Nivaldo se revezam em cena, com a câmera indo e vindo deles para o outro lado do quarto , é de uma rara beleza cinematográfica.

O corte (e que corte!) para a próxima história é rápido, agressivo e bastante sangrento. Isso porque em um piscar de olhos estamos dentro de um matadouro. É lá que conhecemos Antônio (Cláudio Jaborandy), sujeito simples no meio de uma grave crise conjugal. Sem medo de ser diferente, a trama dá ao espectador todas as informações e pistas, deixando a cargo de cada um ligar os pontos como melhor lhe convir. Para provar que nem tudo acaba em pizza, o desfecho acontece em uma churrascada com os amigos do futebol. O final feliz, ou não, fica por conta do cliente.

Para sair do cinema (ele acabou de falar feliz na última linha!) bem, nada melhor do que umas risadas. Lá no começo fomos apresentados a Lúcia (Cynthia Falabella), mais uma solitária , como todos os outros personagens descritos até agora. Deprimida depois de levar um fora do ex-namorado, procura auxílio em um programa de rádio, onde conhece Beto (Murilo Grossi). Ela quer uma relação sólida e ele, como todo homem, só aproveitar. Percebendo a carência da moça, Beto vai fazendo seu jogo, esperando a hora do bote fatal. E é nesse momento que a diversão começa.

Os diferentes estilos de cada uma das histórias e como elas são filmadas não destoam entre si. Toda a trama é muito bem costurada, alinhavando com um forte sentimento de solidão aquele fim de semana suado de aventuras e muito calor, que foi fotografado em Belo Horizonte, mas podia acontecer em qualquer cidade. Com exceção da última, todas as outras partes que formam 5 Frações de Uma Quase História são bastante econômicas nos diálogos, principalmente para os seus protagonistas, que passam mais tempo pensando (ou viajando), contemplando uma realidade própria. E que não me venham falar que isso é uma "mineirice" dos realizadores. É sim uma vontade de fazer um cinema diferente, em que a arte prevalece sobre a fórmula da mesmice.

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