Muitos dos filmes de assalto que voltaram à moda depois de Onze Homens e Um Segredo têm o humor como uma válvula de escape, como se, cientes do esgotamento desse subgênero, só tivessem a autoironia como último recurso para justificar sua existência no meio de tantos outros produtos idênticos no mercado.
assalto em dose dupla
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Assalto em Dose Dupla (Flypaper, 2011) é mais uma dessas comédias descartáveis de assalto - nos EUA, saiu primeiro online, on demand, antes de passar desapercebido pelo cinema -, mas parte de uma premissa interessante: está mais para trama farsesca de mistério, no clima dos whodunits da literatura policial da primeira metade do século 20, do que para genérico de Ocean's Eleven.
Na trama, uma caixa de banco (Ashley Judd) e um cliente sob medicação (Patrick Dempsey), unidos pelo acaso, em meio a outros reféns de um assalto a banco executado por dois grupos diferentes, tentam entender o que está por trás dessa estranha coincidência. Como os dois grupos saberiam o momento exato em que o sistema de segurança do local passaria por revisão? Mais importante: quem é o atirador misterioso que, no começo da confusão, matou o agente disfarçado do FBI?
É como se toda a ambientação típica dos whodunits mais baratos - a casa de campo cheia de convidados da aristocracia inglesa, onde o mordomo era sempre o culpado dos crimes - fosse transportada para um banco. Até o desenvolvimento da trama é o mesmo: os presentes morrem um a um, a luz é apagada em certo momento etc. A graça é descobrir quem, no meio de tipos aparentemente inofensivos, é o criminoso no final, daí a expressão em inglês que designa esse tipo de história, whodunit, "quem cometeu?".
Assalto em Dose Dupla opera, portanto, dentro de uma fórmula bastante restritiva, em que o eventual sucesso depende de uma combinação impecável de bom elenco (para dar conta dos diálogos rápidos e dar vida à variedade de personagens caricatos) e direção firme (para manter o pique do mistério). Infelizmente, a comédia fica devendo em ambos.
O elenco tem alguns elos fortes - Tim Blake Nelson se segura no seu eterno papel de redneck e o galês Matt Ryan, boa revelação no papel do bandido britânico, é quem melhor replica falas com rapidez, sem que elas pareçam ensaiadas - mas sofre com a irregularidade de quem deveria puxar o show (Ashley Judd ausente, Dempsey histérico). Falta pulso ao diretor Rob Minkoff, não só para equilibrar esse elenco mas também para impor alguma lógica, mínima que seja, que impeça Assalto em Dose Dupla de se perder nas suas próprias reviravoltas farsescas.
Não é por acaso que o whodunit se consolidou com as histórias de aristocracia britânica. Quando um país tem atores do nível de Alec Guinness, Peter Sellers, Maggie Smith ou David Niven - reunidos na clássica comédia de whodunit Assassinato por Morte, de 1976 - e diretores formados no academicismo, isso resulta não apenas em histórias melhor interpretadas como também dirigidas com mais rigor. No fundo, Assalto em Dose Dupla não convence porque não encara com seriedade nem o próprio ato de encenar.
Assalto em Dose Dupla | Cinemas e horários
Ano: 2011
País: EUA
Classificação: 14 anos
Duração: 90 min
Direção: Rob Minkoff
Elenco: Patrick Dempsey, Ashley Judd, Tim Blake Nelson, Mekhi Phifer, Matt Ryan, Jeffrey Tambor, John Ventimiglia, Pruitt Taylor Vince, Curtis Armstrong, Rob Huebel, Adrian Martinez, Natalia Safran, Octavia Spencer, Eddie Matthews, Rob Boltin, James DuMont, James DuMont, Joseph Nemmers, Victor Palacios, Raymond Rivera, Crystal Kung, Tamara Stuparich de la Barra
