Alguém já disse que Hollywood é um lugar de obsessões disfarçadas pelas lentes das câmeras. Essa compulsão sempre ajudou muita gente a dar certo por ali - e quem se tornou um nome de sucesso ganhou uma estrela para a posteridade no concreto da mítica Calçada da Fama.
Mas o lugar também é um moedor de novos talentos, que chegam à cidade para trabalhar na indústria do cinema e terminam tendo que lidar com uma carreira fracassada.
confissões de super-heróis
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São esses os personagens de Confissões de Super-Heróis, este ótimo documentário dirigido por Matthew Ogens. Quatro conhecidos com uma coisa em comum: são atores que ainda não deram certo, vivem de sonhos e passam o dia fantasiados de super-heróis. Eles fazem parte de um costume já clássico na Calçada da Fama: pessoas que encarnam personagens e tiram fotos com turistas em troca de uma gorjeta.
Sob uma trilha sonora e fotografia cuidadosas, Ogen nos apresenta a um Hulk negro e ex-sem teto, à Mulher-Maravilha nascida numa cidadezinha do Tennessee e a um sósia de George Clooney, que mantém a fantasia de Batman mesmo nas visitas ao seu terapeuta e frequentemente é preso por brigar com turistas.
Mas o personagem principal de Confissões é Christopher, que encarna o Super-Homem há mais de 10 anos no Hollywood Boulevard. Magricela e com um quê de Christopher Reeves (que encarnou o herói no cinema), ele é um dos mais famosos e queridos fantasiados da calçada - e, certamente, o mais doido.
Chris tem uma obsessão imensa pelo personagem que homenageia. Do tipo que tem uma casa entupida de memorabilia, passa horas arrumando seu pega-rapaz e age no dia-a-dia como o herói, com a moral certinha e (aparentemente) inabalável. Como um bom Super-Homem, ele faz a linha de "juiz" do calçadão estrelado, ajudando a manter o controle dos personagens - como quando convence o Motoqueiro Fantasma novato a não fumar em frente aos turistas e acalma uma Marilyn Monroe raivosa que não concorda com as regras do lugar.
Sai daí um prato cheio para o documentário. Ex-viciado em metafentamina, Chris é casado com uma PhD em psicologia e jura que é filho de Sandy Dennis (ganhadora do Oscar por Quem tem medo de Virginia Wolf?, em 1966). A família da atriz nega o parentesco, mas o kryptoniano não se abala. E protagoniza um dos melhores momentos do filme, ao viajar para uma convenção dedicada ao Super-Homem.
Os personagens não são fáceis - pelo contrário, às vezes se mostram um bocado pirados - e seria bem fácil fazer humor cruel com todos eles. Mas o diretor é justo e seu filme não se esforça em zombar dos seus retratados. O retrato é fiel, de pessoas que acham que ainda vão realizar seu sonho de fama e fortuna, e que estão seguindo o caminho mais difícil. No final das contas, é impossível não criar uma conexão com esses quatro losers da indústria cinematográfica.