O thriller independente Encurralados (Butterfly on a Wheel, 2006) supostamente visava ajudar o ex-007 Pierce Brosnan a livrar-se da figura do espião. Não funcionou muito bem... Na época ele já havia realizado o bacana O Matador, papel muito mais interessante do que o interpretado aqui. O esforço acabou parecendo um tanto repetitivo e não houve qualquer interesse pelo longa. Outra prova disso é a presença de Gerard Butler como o protagonista - quando 300, no qual ele interpretou o Rei Leônidas, estreou, falou-se bastante do trabalho dele em Fantasma da Ópera, mas ninguém lembrou de Encurralados.
Mas se o filme é um tanto esquecível e descartável, tem lá seus méritos.
encurralados
Encurralados
O roteiro de William Morrissey se concentra em um casal aparentemente perfeito (Mario Bello e Butler) cuja filha é sequestrada. No decorrer de um dia, ao lado do captor da menina (Brosnan), a vida da família desaba. O suspense é razoável, mas funciona muito mais pelo desejo de ver desvendado o mistério intrigante - quem é o sequestrador, o que ele quer? - do que pela tensão que ele consegue criar. Afinal, fica difícil se importar com o destino dos personagens sem dar grande valor a eles. O começo apressado - provavelmente para mostrar Brosnan rápido - não cria a ligação do público com seus protagonistas e o filme acaba justificando-se apenas pelas razoáveis reviravoltas.
Com esse roteiro mediano nas mãos, o nada expressivo diretor Mike Barker (Falsária) até que consegue alguns momentos estilosos. Ele desenha Chicago como um labirinto, com muitas tomadas aéreas, reforçando a sensação de desespero pela situação e equilibrando a carência dos personagens. Ele também usa com habilidade os reflexos. Em mais de uma ocasião gira a câmera de um ponto para outro, revelando reflexão e imagem real, criando uma certa confusão sobre qual seria a verdadeira. O recurso é batido no cinema, mas segue funcionando bem como uma metáfora para os dois lados dos personagens, tema central e importantíssimo de Encurralados.
O melhor elogio que imagino para esse filme de vingança é que ele me lembrou em alguns momentos o bacana O Jogo (The Game), de David Fincher (não se preocupe - a comparação não entrega qualquer segredo). Aliás, o papel de Gerard Butler é o tipo de personagem que Michael Douglas fazia aos montes nos anos 1980 e 1990. Acontece que 10, 20 anos se passaram... E esse tipo de filme e personagem já não tem grande apelo. Parece um eco de uma era passada - e que nem foi tão relevante assim.