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Favela Rising | Crítica

Favela Rising

10.08.2006, às 00H00.
Atualizada em 07.11.2016, ÀS 21H02

Favela Rising
EUA, 2005, 80 min
Documentário

Direção: Jeff Zimbalist, Matt Mochary

Participações: José Junior, Anderson Sá

Documentários sobre o Brasil produzidos por estrangeiros resvalam sempre naquele velho problema da superficialidade: ou se apegam aos clichês exportados e moldam a realidade através deles ou deturpam os fatos para piorar os registros. Raramente há um meio termo. Mas Favela rising, festejado documentário da dupla Jeff Zimbalist e Matt Mochary, vai um pouco além dessa problemática.

Em um primeiro momento, para um espectador desavisado, o filme pode parecer fruto desvirtuado daquela glamourização da favela causada pelo boom mundial de Cidade de Deus. As imagens iniciais citam o dicionário americano, explicando ao seu público alvo o que quer dizer favela, sobre imagens alteradas dos morros do Rio de Janeiro. A manipulação digital faz aquele ambiente parecer um cenário digno de Matrix, incomodando quem sabe o que se passa por ali. Logo se pensa que vem por aí um documentário fantasioso e maniqueísta, pintando as favelas como um medonho antro de criminalidade ou como um destino exótico para turistas.

Mas a impressão dura pouco, e o filme demonstra uma crueza ímpar. O trecho inicial contextualiza a audiência, explicando didaticamente como é a rotina na favela, utilizando-se das palavras de um narrador anônimo e de imagens captadas in loco. A tela dá pouca folga ao imaginário externo, retratando com habilidade o embate entre traficantes e policiais e a vida da população, que sobrevive no meio do caminho. Até mesmo quando comenta sobre moradores assassinados, a câmera não vira o foco - pelo contrário, utiliza-se de detalhes que raramente se vê nos jornais noturnos.

A virada acontece exatamente quando se vê mais corpos na tela, e se entende do que o filme veio falar. O narrador até então inominado é Anderson Sá, um dos coordenadores do grupo cultural Afro Reggae no morro de Vigário Geral. Anderson é apresentado como um jovem da favela alegórico ao clichê da rendição. Típico moleque que trabalha para o tráfico, seu ponto de virada pessoal acontece logo após a chacina de Vigário em 1993, quando um grupo de policiais subiu o morro para vingar quatro colegas mortos por traficantes, assassinando 21 moradores no caminho, incluindo aí pessoas bem próximas ao narrador. Dessa capitulação vem o seu envolvimento com o então recém-formado AR.

A partir daí, a narrativa de Favela rising se confunde entre a história pessoal de Anderson e o crescimento do grupo para além do quintal, entre percalços e dramas individuais. Além de todo o trabalho de conscientização típico da juventude local, Anderson é vocalista da banda Afro Reggae, fruto da oficina de percussão, miolo da ação social. Ao longo do filme, ele apresenta o projeto - hoje já desmembrado para outras comunidades além-Vigário - e disseca a realidade do morro.

Apesar de esbarrar na pieguice e no quase sensacionalismo, Favela rising é um documentário esclarecedor, mapeando a realidade de uma parcela da população carioca que vive no alto, mas à margem. Útil não só aos estrangeiros que acham que Buenos Aires é a capital brasileira, mas aos tupiniquins que têm tão pouco contato com esse mundo para além do Globo repórter.

Nota do Crítico
Bom
Favela Rising
Favela Rising
Favela Rising
Favela Rising

Ano: 2005

País: EUA, Brasil

Classificação: 12 anos

Duração: 80 min

Direção: Matt Mochary, Jeff Zimbalist

Elenco: Andre Luis Azevedo, Jose Junior, Michele Moraes, Anderson Sa, Zuenir Ventura

Onde assistir:
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