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Crítica

As Flores de Kirkuk | Crítica

Romance proibido entre curdo e iraquiana revela horrores do regime de Saddam Hussein

22.03.2012, às 21H42.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H37

Talvez a fórmula do amor proibido seja a única que não se esgote. Assim como o romance entre um Montecchio e uma Capuleto revelava preconceitos, fraquezas, limitações e verdades sobre a natureza humana no século XVI, a história de amor entre um curdo e uma iraquiana serve, em As Flores de Kirkuk, para retratar as sutilezas da sociedade sob o regime de Saddam Hussein.

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Partindo das imagens da queda do ditador, em 2003, o filme segue para a década de 80, onde ainda no poder, Hussein comandou o genocídio do povo curdo. Neste cenário, Najla, uma médica iraquiana educada no ocidente, chega ao país em busca de Sherko, rapaz curdo que conheceu durante seus estudos na Itália. Sherko, que viera ao Iraque apenas para visitar a família, decide ficar depois de ver as atrocidades cometidas contra seu povo. Os dois passam então a tocar uma clínica ilegal, buscando amparar os civis destruídos pela cólera e pelo uso crescente de armas químicas. A intolerância da família de Najla, inconformada com o pensamento ocidental da moça, e sua rejeição ao amor do soldado Mokhtar, levam à prisão de Sherko.

Começa então a busca desesperada de Najla para salvá-lo. Contra sua vontade, ela se torna noiva de Mokhtar e aceita integrar as forças iraquianas, onde passa a acompanhar de perto o massacre que, entre 1986 e 1989, matou mais de 200 mil civis curdos. Ali, próxima ao inimigo, a médica testemunha também o lado dos soldados que, de certa forma, são as outras vítimas do regime, forçados a participar de atrocidades como o fuzilamento de crianças. O próprio Mokhtar acaba por se revelar um personagem muito mais complexo que Sherko, mostrando sua sensibilidade e desespero frente à Operação Anfal - nome da campanha liderada por Ali Hassan al-Majid, primo de Saddam - e seu posterior altruísmo em relação à noiva, colocando o bem-estar dela acima das suas vontades.

A flores do título - que aparecem pela primeira vez para representar a cena de amor entre Najla e Sherko na região curda de Kirkuk - surgem em contraste à aridez do país, não apenas no solo, mas nas suas relações sociais. São um símbolo explícito da vida que pode nascer da guerra e da cruzada do diretor curdo-iraquiano Fariborz Kamkari em denunciar ao mundo a ditadura vivida por seu país - o filme parece carregar inclusive uma forte influência do neorrealismo italiano, tanto na sua estética crua, como na sua natureza de arte nascida da guerra. Assim, a fórmula do romance proibido em As Flores de Kirkuk é transformada em obra política para mostrar que, na sua natureza quase sempre trágica, também se revelam as virtudes das relações humanas em situações extremas.

As Flores de Kirkuk | Trailer
As Flores de Kirkuk | Cinemas e Horários

 

 

Nota do Crítico
Bom
As Flores de Kirkuk
The Flowers of Kirkuk
As Flores de Kirkuk
The Flowers of Kirkuk

Ano: 2010

País: Itália, Suiça

Classificação: 14 anos

Duração: 118 min

Onde assistir:
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