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Longe Dela

O primeiro e irretocável longa de Sarah Polley

18.10.2007, às 18H00.
Atualizada em 04.11.2016, ÀS 09H04

Sarah Polley já era conhecida pela sua série de acertos em escolhas de papéis. Nos últimos anos atuou tanto em produções pequenas e impressionantes como A Vida Secreta das Palavras, Estrela Solitária e Minha Vida Sem Mim, como em um ou outro filme mais comercial (Madrugada dos Mortos é o mais famoso). Tais participações já davam sinais claros de um enorme talento para análise de roteiro e seleção de bons projetos. Polley, aos 28 anos, agora aplica essa sensibilidade em seu primeiro, e irretocável, longa-metragem.

Longe Dela (Away from Her), baseado em um conto da escritora de ficção Alice Munro, tem roteiro e direção da atriz canadense, e agora cineasta. Trata-se de um debute invejável e triunfal que surpreende por ter sido feito por alguém tão jovem, que ainda não experimentou sua cota de erros.

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Totalmente voltado aos personagens, o filme tem uma trama simples. Sua qualidade vem especialmente das interpretações, conduzidas pela jovem diretora com maestria. E não deve ser fácil comandar um elenco cujas idades passam ao norte dos sessenta anos. Ainda mais verdadeiras lendas da sétima arte como Julie Christie (aos 66 e ainda naturalmente belíssima) e Olympia Dukakis. Mas Polley mostra-se à altura do trabalho e extrai algumas das melhores atuações das longas carreiras das duas atrizes. Impossível não se emocionar com a primeira, ou partilhar da discreta necessidade de distanciamento da outra.

A cineasta também sabe como usar o cenário com significado. A cena em que Fiona sai fazendo ski cross-country sozinha, e termina bem no meio de uma vastidão branca sem qualquer marco, é prova incontestável dessa habilidade. Ela se relaciona com uma seqüência anterior, na qual a mulher começa a "trapacear" sua memória colocando post-its nas gavetas para identificar seu conteúdo sem precisar abrir. A clínica e casa de repouso na qual ela decide se internar também é cheia de pequenas surpresas.

A história é contada do ponto de vista de Grant (Gordon Pinsent), marido de Fiona e professor aposentado. Quarenta anos depois de seu casamento, ele ainda ama a esposa com tocante intensidade. Daí sua relutância em deixá-la ir para uma clínica para pacientes de Alzheimer. Mas a orgulhosa Fiona sente que está desaparecendo e que sua presença na casa será um fardo e uma indignidade. Resta assim ao homem vê-la partir para a clínica... e a idéia de um futuro assustador - a possibilidade do amor dos dois ser lembrado apenas por ele.

Lindo e triste de doer, Away from Her tem uma angústia comovente e inesperada, geralmente atribuída a cineastas mais calejados. Mas Polley parece ter aprendido muito bem o ofício, trabalhando sob a direção de talentos do gabarito de Wim Wenders, David Cronenberg, Isabel Coixet... Já aguardo ansioso seus projetos futuros.

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