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As Neves do Kilimanjaro | Crítica

Robert Guédiguian faz de forma grave e sentimental um retrato de choque de gerações na Europa

05.04.2012, às 19H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H37

Há um choque particular de gerações que faz mais sentido na Europa do que em outros lugares do mundo. De um lado, pais e avós que ajudaram, em sindicatos e protestos sociais, a definir as leis de bem estar social que ainda hoje regem países como a França; do outro, filhos criados no neoliberalismo que não conseguem se inserir no livre mercado nem contar com o abrigo do Estado - e, por extensão, demonizam as "regalias" dos velhos "protecionistas" de esquerda.

as neves do kilimanjaro

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Em As Neves do Kilimanjaro, o francês Robert Guédiguian (Lady Jane, Armênia) trata desse choque com seu habitual sentimentalismo. Colaboradores de sempre do diretor, Gérard Meylan e Jean-Pierre Darroussin representam a velha guarda, Raoul e Michel, operários sindicalizados que passam por mais um corte de custos no porto de Marselha. Raoul sobrevive à demissão coletiva, mas Michel, não. Aposentado à força, ele ganha com a mulher, na festa do seu aniversário de casamento, uma viagem para o Kilimanjaro - e aí começa a trama de fato.

Sem entregar muito, digamos que um assalto violento altera não só os planos da viagem como também a imagem que Michel faz dos jovens marselheses (entre eles, um adolescente que também perdeu o emprego). O porto e seus guindastes são uma presença constante no horizonte de As Neves do Kilimanjaro, para lembrar que, neste filme, as relações de trabalho - e as conquistas de direitos implícitas nessas relações - sempre ditam as demais.

O roteiro se diz livremente inspirado em Os Miseráveis, e de fato a subtrama do assalto, que leva à condenação e depois ao perdão, lembra o clássico de Victor Hugo. Guédiguian referencia a obra do século 19 para tentar dar à sua história uma legitimidade, como se coubesse a As Neves do Kilimanjaro defender a longa linhagem do pensamento de esquerda francês. Assim, não só o sentimentalismo marca o filme, mas também uma certa gravidade no discurso, de quem tenta acompanhar e entender as mudanças de mundo ao mesmo tempo em que formula sobre essas mudanças um juízo definitivo.

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