Filmes

Notícia

Novo Mundo

A imigração pelos olhos de Crialese

06.11.2006, às 18H00.
Atualizada em 10.11.2016, ÀS 01H01

Novo Mundo (Nuovomondo), terceiro filme de de Emanuele Crialese, o diretor de Respiro, mostra a imigração italiana do início do século 20 aos Estados Unidos por um ponto-de-vista inusitado. Revela os preparativos para a viagem no local de origem, a travessia do Atlântico num navio lotado e a quarentena na Ilha Ellis, local vizinho à Estátua da Liberdade onde era realizada a triagem das pessoas às quais era permitida a entrada no país (quem viu O Poderoso Chefão II deve lembrar-se do jovem Vito Corleone no local).

Acompanhamos a jornada da Sicília, Itália, até Nova York através dos olhos da Família Mancuso. Salvatore (Vincenzo Amato), o pai, vende tudo o que tem para custear a viagem com os filhos e a velha mãe, em busca de trabalho, oportunidades e as riquezas que o Novo Mundo oferece, como míticos rios de leite, árvores que dão dinheiro e hortaliças colossais. A bordo do navio ele conhece a bela inglesa Lucy (Charlotte Gainsbourg), que viaja ao lado dos italianos com motivos misteriosos.

Novo Mundo

None

Novo Mundo

None

Crialese aborda as dificuldades da viagem de maneira genial. Ele evita todos os clichês do gênero - a começar pelo tema. Geralmente, filmes sobre imigrantes concentram-se na chegada ao país estranho, quase nunca mostrando o que foi perdido ou o que deixou-se para trás, e nas tonterias que os novatos fazem em sua nova e estranha casa. Ao optar por essa nova abordagem, o diretor faz doer na pele do público as agruras da mudança. Igualmente formidável é a maneira com que ele encontra para tratar seus personagens como pessoas que são, sim, inteligentes, mas que simplesmente desconhecem o que encontrarão adiante. Não há tontos, apenas deslocados.

Todos os três momentos são lindamente executados. Há seqüências e planos memoráveis, que têm como semelhança a habilidade do cineasta em sugerir, sem efetivamente mostrar (obviamente, economizando em seu orçamento por conta disso). Exemplos disso são a belíssima saída do navio da Itália (que jamais mostra a embarcação, apenas os dois grupos de pessoas: os que vão e os que ficam), a tempestade oceânica totalmente ambientada abaixo do convés e a primeira visão de Nova York - apenas contada por Salvatore. Sem falar na simples ausência da famosa Cena com a Estátua da Liberdade, presente em 9 entre 10 filmes de imigração.

Alternando momentos de grande emoção - sem apelar jamais ao melodrama, valendo-se apenas da interpretação de seu elenco - com diálogos e cenas engraçadíssimas, o diretor faz um excepcional registro da chegada de pessoas do mundo todo ao Novo Mundo. Aproveita ainda para tecer um ou dois paralelos críticos sobre a atual política de imigração estadunidense com a empregada no passado - ambas, curiosamente, muito distintas do poema de Emma Lazarus inscrito na base da Estátua da Liberdade: Venham a mim as massas exaustas, pobres e confusas ansiando por respirar liberdade. Venham a mim os desabrigados, os que estão sob a tempestade. Eu os guio com minha tocha...

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.