De contrato faustiano Nicolas Cage entende. O ator que aceita atuar em qualquer porcaria para tirar seu nome do SPC - o que não deixa de ser, por si só, um acordo desesperado com as trevas - vende a alma mais uma vez em O Pacto (Seeking Justice).
january jones
nicolas cage
Não trata-se aqui de um acerto demoníaco como o de Motoqueiro Fantasma, mas ainda assim é tentadora a proposta que o bem vestido Simon (Guy Pearce) faz ao professor colegial de Nova Orleans Will Gerard (Cage) na sala de espera de um hospital. A esposa de Will, vivida por January Jones, acabou de ser estuprada. Simon aparece dizendo que conhece o culpado e que pode vingar Will - em troca, cobrará um favor, no futuro.
O momento em que Will aceita a proposta é muito mágico. Ele precisa ir até a vending machine de doces do hospital e comprar dois chocolates iguais - é assim que Simon saberá que o professor concorda com a vingança. Há uma ironia aí, provavelmente involuntária, nessa referência a um objeto industrializado e infantilizado (os chocolates) que diz muito sobre O Pacto, um suspense também enlatado e infantil.
São genéricas e óbvias as formas como o roteiro mostra que o casal é apaixonado (eles tomam espumante numa festa e em câmera lenta Will sussurra que ama a mulher), que eles são gente de bem e esclarecida (ela toca numa osquestra, ele joga xadrex e cita Shakespeare) e que o crime transtorna Will (o flashback constante da cara quebrada de January Jones banalizando a tormenta moral). A única autenticidade vem do humor - também involuntário, provavelmente - de situações absurdas, como quando Will diz para Simon encontrá-lo na apresentação de Monster Truck e o barulho não os deixa falar no celular.
(Aliás, tanto os chocolates e o Monster Truck quanto a frase colorida na geladeira e o clímax no shopping center dão ao filme, decididamente, uma cara infantilizada, em níveis perturbadores.)
O Pacto não é só um filme que despreza sutilezas; é um filme que parece impaciente para tomar todos os atalhos narrativo possíveis e chegar logo ao fim. É como se não suportasse a si mesmo - aliás, outro traço do contrato faustiano.
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