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Personal Che - Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Documentário viaja o mundo para definir Che por meio de seus fiéis

21.10.2007, às 20H00.
Atualizada em 06.01.2017, ÀS 02H03

Diante da dificuldade de decifrar o verdadeiro Ernesto Guevara dentro da famosa foto que Alberto Korda fez em 1960, o documentário Personal Che, de Douglas Duarte e Adriana Mariño, vai atrás do Che que existe dentro de cada um dos seus fiéis seguidores.

Em Hong Kong, o único político que não vai ao parlamento de terno e gravata (vai de camiseta com silk do guerrilheiro) discursa alto em cantonês contra a desigualdade social. Na Alemanha, em uma passeata de neonazistas, um dos manifestantes diz que Guevara e Hitler eram nacionalistas, cada um a seu modo. No Líbano, um musical com muita fumaça e canhões de luz reencena vida e morte de Che.

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Personal Che separa uns bons minutos para dizer - embasado em depoimentos de biógrafos e pensadores de Guevara - o que todo mundo já sabe: o homem pintado nas camisetas não é o mesmo que foi executado na Bolívia em 1967. O mito há muito superou o homem, e o ícone se presta hoje a fins os mais variados, sejam pacifistas, anarquistas ou mesmo fashionistas.

A favor de sua investigação, vale dizer que Personal Che escolhe as pessoas certas para entrevistar: é difícil imaginar uma boliviana mais crente num São Che do que aquela que está orando para a câmera, e o taxista cubano que veste os filhos de farda é outro achado bastante emblemático da Febre do Comandante. Mas vale perguntar: ao pressupor que o real Guevara é insondável, o documentário não estaria optando pelo caminho mais fácil?

É uma posição bastante cômoda - para não dizer prepotente - chegar para a camponesa carola no fim do mundo que é a Bolívia e dizer na cara dela que Che era ateu. Fazer um documentário para concluir que a imagem do cadáver de La Higuera não corresponde à verdade é a comodidade; difícil é descobrir que verdade era essa.

Se nesta crítica se cobra um enfoque que Personal Che escolheu não abordar, é porque Douglas Duarte e Adriana Mariño tinham capacidade para ir além. Os dois conseguiram entrevistar Félix Rodríguez! Alguém que chega ao agente da CIA responsável pela caçada ao comunista pode fazer mais do que simplesmente mostrar, com closes nas charges que forram a parede da casa de Rodríguez, que o operativo cubano é um ferrenho anti-castrista.

Duarte escreveu para a revista piauí de outubro uma brilhante reportagem sobre a sua busca ao assassino de Che. Naquele texto, sim, há um olhar novo sobre um assunto vencido. Já Personal Che insiste em enfiar o termômetro numa febre já diagnosticada, cuja cena da discussão nas ruas de Miami, uma cacofonia infinita de versões, é a síntese perfeita.

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