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Show de Bola

Um olhar estrangeiro sobre o batido mote do sonho de jogar futebol

14.08.2008, às 17H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H38

No material que a Imagem Filmes distribuiu à imprensa antes da exibição de Show de Bola (2005), o diretor alemão Alexander Pickl diz que sofreu muita resistência por ser um estrangeiro querendo contar uma história tipicamente brasileira. Para Pickl o que importa é o olhar novo que só um estranho é capaz de dar - e nesse ponto ele está certo. Nada como uma perspectiva diferente sobre um assunto gasto.

Pena que o olhar de Pickl sobre a realidade de uma favela carioca esteja carregado de estereótipo. A co-produção Brasil-Alemanha não acrescenta muita coisa a esse subgênero batido do indivíduo puro sufocado pelo vício do ambiente em que vive, que já rendeu depois o sucesso de Cidade de Deus uma meia-dúzia de similares.

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Desde que se entende por gente e joga bola descalço na terra, o órfão Thiago (Thiago Martins, de Era uma vez...) sonha em ser profissional de futebol. Ele vê seus amigos do morro serem cooptados pelo tráfico, vê a mãe doente sofrer na cama em silêncio, vê o irmão mais velho ganhar pouco num trabalho banal - o esporte é o que lhe resta. Com alguma ajuda do chefão do tráfico, Tubarão (Lui Mendes), Thiago arruma um lugar na peneira do Fluminense. O problema é que o tráfico uma hora cobra o favor.

É ao som de Marcelo D2, com câmera portátil tentando seguir a bola, que Pickl começa o filme, encantado com a imagem do craque-malandro. Na montagem, cortam-se os planos ao ritmo do rap, como se fosse um videoclipe. A certa altura, quando o drama de Thiago se intensifica, ele dorme na rua, só com a roupa do corpo, mas não desgruda de sua bola de futebol. Não dá pra condenar Pickl - ele não é o único que toma esse clichê-de-exportação como se fosse a realidade.

Retrato manjado à parte - o vilão Tubarão chega a repetir um bordão à la Zé Pequeno... - a própria execução de Show de Bola é bastante primária. Opta-se pela filmagem em vídeo digital e pela transferência para película de 35mm na hora da exibição, o que deixa o filme com cara de tosco, desbotado. A iluminação é a mais prejudicada: na cena do restaurante, com o enquadramento fechado na mesa de jantar, a escuridão sugere que estão à noite, à luz de velas; daí abre para o plano geral e o salão está iluminado como se fosse duas da tarde.

De genuíno, Show de Bola tem a disposição de mostrar a criminalidade sem muitos filtros: prostitutas nuas, crianças mexendo com maços de 50 reais. Não há ali uma preocupação em poupar ninguém - o que antes de mais nada não é uma qualidade nem um demérito, mas talvez mais um sintoma de como o estrangeiro nos vê, ou uma tentativa de filiar o filme a essa ficção-verdade, próxima do documentarismo. Inegável mesmo é o talento de Thiago Martins, ator em ascensão, carismático, que faz de Show de Bola um programa assistível.

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