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Vocês, Os Vivos - Festival do Rio 2008

A esquisitíssima obra-prima de Roy Andersson

23.10.2007, às 23H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H30

Com 57 vinhetas divididas ao longo de 94 minutos, o cineasta Roy Andersson deixa sua pegada no tapete vermelho da Sétima Arte. Seu longa Vocês, Os Vivos (You, The Living) é o tipo de filme que os cinéfilos querem ver. É filme que choca, que critica, mas que faz rir - e pensar. É o tipo de filme, também, que reanima as papilas gustativas da mente, amortecidas por tanta bobagem. Depois de Andersson, que sustenta suas excentricidades fílmicas com dinheiro de direção de comerciais, estou pronto para encarar mais uma centena de filmes ruins sem risco de emburrecer.

O cineasta não é suiço, é sueco, mas seu filminhos passam pela tela com precisão de relojoeiro. São em sua maioria planos-seqüência (sem cortes) com monólogos ou diálogos absurdos, muitas vezes embaraçosos. Tudo perfeitamente coordenado e enquadrado com uma câmera fixa, quase sempre a partir de um plano levemente elevado. Os cálculos de Andersson nos forçam a olhar o quadro inteiro - não é só no primeiro plano que acontece a ação, e por trás de toda porta ou toda janela há uma banalidade a ser notada. É como se o diretor fosse uma espécie de deus, afastado, observando seus "vivos", que eventualmente dirigem-se a ele em ambientes desbotados onde a graça (do filme) surge da absoluta falta de graça (do espaço).

Du Levande

None

du levande

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Todos os personagens dessas cenas curtas são caricatos e a maquiagem exagerada, pálida, ajuda a dar esse efeito. Eles trafegam pelo mundo com insegurança, feito mortos-vivos, e se escondem pelos cantos como fantasmas. Sempre em busca de seus objetivos e incapazes de virar a cabeça. Ninguém entende ninguém, afinal, como uma senhora gorda punk faz questão de gritar para o namorado (e todo o bar) ouvir. Essa frase, aliás, dá o tom de todo o filme... Coitado do sujeito que tentava, totalmente deslocado, animar uma festinha. Seu truque de salão acabou por colocá-lo na cadeira elétrica. É que "as louças tinham mais de 200 anos"... como ele iria saber? E como os donos da louça saberiam das melhores intenções do sujeito? E que diabos são aquelas referências à Segunda Guerra?

Cada pequena cena se sustenta sozinha, mas aos poucos algumas historinhas começam a surgir. Não que elas sejam necessárias - o que importa aqui é o que o diretor denomina como o "trivialismo", pequenas ocorrências que pontuam a tragicomédia humana.

A ausência de sentido de Vocês, Os Vivos faz todo o sentido aqui.

EXTRA

Lembra que comentei no início do texto que Andersson ganha a vida fazendo comerciais?

Aqui estão alguns. São maravilhosos e parecidíssimos com Vocês, Os Vivos!

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