Desde o fim de Seinfeld uma sitcom estadunidense não conseguia ser tão engraçada.
Não estamos falando nem de Everybody loves Raymond, Everybody hates Chris, Scrubs, Two and a half man, That 70's show ou The new adventures of old Christine. Estas séries são (ou eram, no caso de Raymond e That 70's) muito boas, possuem episódios memoráveis e piadas hilárias, mas não têm a mesma sutileza de My name is Earl. É a sutileza de um elefante, vale dizer, mas o paquiderme em questão parece ser algo tão cotidiano para Earl (Jason Lee), seu irmão Randy (Ethan Suplee) e os demais personagens, que fica difícil não cair do sofá de tanto rir.
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Um dos grandes problemas da série, porém, é que ela é exibida no Brasil pelo fraco canal pago FX, que frequentemente apresenta até problemas de sincronia de áudio (pois é, eu também pensava que era só na minha TV, até descobrir que isso também rolava na casa de vários amigos). Por isso, a melhor saída é aproveitar que a primeira temporada acaba de sair em DVD. São quatro discos, com 24 episódios e alguns extras.
Desde o episódio piloto a série já prova que não chegou para ser apenas mais uma comediazinha na grade de programação. Aqui, quando o tal do politicamente correto aparece é sempre da forma mais incorreta possível, como quando Earl, esforçado, chama um gay de "homossexual american". Não é por mal. Eles realmente não têm a menor noção da realidade. Vivendo em uma pequena cidade no sul dos Estados Unidos, Earl passou toda a sua existência praticando vilanias. E sempre se deu mal! Certo dia ele ganha 100 mil dólares em uma loteria instantânea. Ao sair comemorando pela rua, é atropelado e perde o bilhete.
No hospital, ele descobre o lema que vai mudar a sua vida. Um tal de carma, que diz que se você faz coisas boas, boas coisas acontecem pra você e que se você faz coisas más, a sua situação só vai piorar. Colocando sua vida em perspectiva, ele começa a sacar que só está naquela situação porque fez tudo o que poderia fazer de pior até aquele momento e decide se retratar. Escreve então uma lista com tudo o que fez de errado até o momento e parte para pedir desculpas, ou arrumar o que estava errado por causa dele. A lista é grande e vai desde fumar, até arruinar o natal dos seus filhos, se desentender com seu pai, roubar o carro de uma mulher perneta e muito mais.
Além do talento dos atores, que formam o elenco mais engraçado da TV atualmente, o grupo de roteiristas consegue criar novas situações hilárias a cada cena. O curioso é descobrir, nos extras, que Earl tem muito do pai do seu criador, Greg Garcia. O Earl de verdade também se envolvia em pequenos golpes e se casou com uma mulher quando ela estava grávida de outro cara e viu sua esposa dar à luz um segundo filho, desta vez mulato, tal qual Joy (Jaime Pressly), ex-esposa de Earl na série. Na telinha, o pai da criança, Darnell "Crabman" (Eddie Steeples), descobre-se depois, faz parte do programa de proteção à testemunha e tem um intelecto bem superior aos demais personagens. Porém, como eles não entendem o que o Crabman fala, simplesmente o ignoram, desdenhando-o com frases do tipo "deve ser papo de negro". Olha a incorreção de novo aí...
O sucesso da primeira temporada, que foi a estréia mais vista em 2006 e ganhou o prêmio de melhor nova série eleita pelo público e indicações a Globos de Ouro e Emmy, garantiu a sua continuidade. Atualmente está sendo exibida nos Estados Unidos a segunda temporada e a terceira já está encomendada. Estão em desenvolvimento também produtos paralelos, como uma história em quadrinhos, que está sendo feita por um dos roteiristas do show.
E depois que você assistir a todos os episódios, ainda há um extra especial, feito exclusivamente para o DVD. Algumas cenas do episódio piloto são refeitas e mostram uma segunda alternativa para a série. Neste mundo paralelo, em vez de descobrir o carma, Earl fica sabendo de uma teoria de que as coisas estão dando errado para ele por culpa dos outros e que para se livrar deste mau agouro ele tem que sair por aí se vingando das pessoas que o ferraram. Em uma palavra: sensacional!
