DVD e Blu-ray

Notícia

Billy Wilder - Filmografia Comentada - Parte 1

Para abrir a série, Pacto de sangue e Cinco Covas no Egito

28.11.2007, às 12H50.
Atualizada em 04.11.2016, ÀS 07H01

Billy Wilder dirigiu quase trinta filmes e escreveu cerca de setenta. Assim como os diretores que mais admirava (e com quem trabalhou), Howard Hawks e Ernest Lubitsch, passeou por todos os gêneros cinematográficos, fez comédias, filmes de guerra, suspenses e dramas. Pouca coisa, fora os mais clássicos, estava disponível em DVD ou mesmo VHS no Brasil, mas agora com duas novas caixas e uma série de edições especiais, já dá para pensar em bolar — aos poucos e fora da ordem cronológica — uma lista completa de seus filmes.

Para começar, dois dos seus clássicos:

Pacto de sangue
(Double Indemnity, 1944)

Junto de O falcão maltês (John Huston, 1941) e The big sleep (Howard Hawks, 1945), Pacto de sangue é provavelmente o filme noir que melhor reproduz o espírito desse ramo das histórias policiais nas telas. Mesmo não contando com um detetive casca-grossa como Sam Spade ou Philip Marlowe — ambos vividos por Humphrey Bogart nos filmes de Hawks e Huston —, Pacto de sangue ajudou a definir um gênero de cinema cujo impacto visual e o estilo narrativo se espalharam por todos os outros, seja nas infinitas alusões a salas esfumaçadas e femmes fatales, no narrador também infinitamente imitado e até em filmes que se aproveitaram da mesma estrutura em outros gêneros - como Blade Runner - O Caçador de Andróides (ficção-científica) e O Homem que Não Estava Lá (comédia), por exemplo. Baseado em um romance de James M. Cain, o filme foi escrito por Wilder e Raymond Chandler, o autor dos livros do detetive Marlowe.

Para o papel de Phyllis Dietrichson, a loira (casada e fatal) que seduz o agente de seguros vivido por Fred McMurray, Wilder chamou Barbara Stanwyck. Ao ver a peruca que ela usa no filme, escolhida pelo diretor, o chefe de produção teria dito: "Nós contratamos a Barbara Stanwyck e veio o George Washington!".

No filme, Walter Neff se apaixona por uma cliente durante uma visita de trabalho, e ela o convence a assassinar seu marido. Ambos serão beneficiados por uma cláusula conhecida como "indenização em dobro", que prevê o dobro do valor caso a morte do segurado seja acidental. Mas o chefe de Neff na Pacific All-Risk, vivido por Edward G. Robinson, suspeita da viúva, e inicia uma investigação para desmascarar o esquema. O filme, que é baseado num caso real, tem todos os bons cacoetes de Wilder, como humor-negro, a visão cínica de mundo e os diálogos cortantes, e Edward G. Robinson, conhecido pelo papel do mafioso Rico em Alma no Lodo, é dos melhores atores da época.

Segundo a Wikipedia, uma grande seguradora norte-americana exibia Pacto de Sangue aos seus novos funcionários e pedia a eles um relatório do que aprenderam com o filme.

Cena: Abertura, em que o assassino se revela logo após os créditos iniciais, quando se vê a sombra de um homem de muletas se aproximando da tela.

Objeto de cena: peruca da Barbara Stanwick.

Frase: "Sim, eu o matei. Eu o matei pelo dinheiro — e por uma mulher — e não fiquei nem com o dinheiro e nem com a mulher. Bonito, não é?"

Cinco Covas no Egito
(Five Graves to Cairo, 1943)

Inédito até agora em vídeo e DVD no Brasil, Cinco Covas no Egito é uma pequena obra-prima de Wilder, baseada numa peça do mesmo nome e ambientada durante a Segunda Guerra Mundial. Ao longo de sua carreira, Wilder adaptou inúmeras peças, e era um mestre em explorar os ambientes confinados do teatro dentro da linguagem cinematográfica. Aqui, o soldado inglês John Bramble é deixado para trás depois que o exército britânico perde para a Alemanha no Egito. Ele procura refúgio num hotel no Saara, mas é surpreendido quando os nazistas transformam o local num centro de operações. Pior, o próprio general Rommel, que comandou a ofensiva, irá se hospedar por lá. Obrigado a esconder a identidade, Bramble toma o lugar de um garçom morto, e com a ajuda do gerente do hotel e de uma funcionária, passa a se infiltrar entre os nazistas. Ele então descobre que Rommel tem um plano secreto para o Egito, as tais "cinco covas" do título, que pode mudar o rumo da guerra.

O filme é um misto de suspense e drama, e se passa quase todo no hotel, entre as idas e vindas do espião acidental. Mas como Wilder, com raríssimas exceções, não consegue fazer um filme sem graça, fica evidente mais uma vez o verniz de cinismo e humor-negro da maioria de suas comédias. O resultado disso é que os filmes têm sempre um tom moderno, lidam sem candura com temas polêmicos e nunca se entregam a finais fáceis (ou felizes, muitas vezes). No caso de Cinco covas no Egito, rodado e lançado durante a Guerra (a mãe e a avó de Wilder morreram em Auschwitz), ele consegue ainda escapar da patriotada que rondava o cinema.

Mas o que vale o filme é a atuação de Erich von Stroheim como Rommel, que faz um dos poucos personagens nazistas da época que não é um vilão maníaco e caricatural. Stroheim era um ator e diretor do cinema mudo que ainda trabalharia com Wilder em Crepúsculo dos Deuses, num papel semi-autobiográfico.

Cena: Quando o corpo do verdadeiro Davos é desenterrado dos escombros no meio de um ataque aéreo, tem início uma perseguição entre Bramble e o tenente alemão. A cena termina com uma lanterna caindo no chão e trocando de dono.

Objeto de cena: Bota ortopédica do garçom Davos.

Frase: "Estamos matando os ingleses como moscas! Depois, iremos matar as moscas como os ingleses."

Para saber mais sobre Billy Wilder, leia o excelente ensaio biográfico escrito pelo jornalista Roberto Elísio dos Santos em homenagem ao centenário do cineasta.

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.