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Crítica

Rio 50 Graus | Crítica

O Lixo e a Fúria na Cidade Maravilhosa

29.09.2014, às 12H10.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

A exemplo dos seus trabalhos mais conhecidos como diretor, os documentários musicais, como O Lixo e a Fúria e Joe Strummer - O Futuro Está para Ser Escrito, Julien Temple faz em Rio 50 Graus uma radiografia do Rio de Janeiro tendo como fio condutor os elementos musicais presentes na formação social e cultural da cidade.

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O filme começa com batuques em meio a cortes rápidos de cartões postais e declarações de amor à Cidade Maravilhosa, e deixa uma má primeira impressão, a de que tomará o caminho chapa-branca. O prefeito Eduardo Paes aparece em cartazes nas ruas e em sua sala de vigilância à moda Big Brother na prefeitura, o que só aumenta a suspeita de um registro oficial, de propaganda.

Rapidamente, porém, Rio 50 Graus começa a problematizar os clichês que seus entrevistados derramam: os lugares-comuns do Rio acolhedor, sensual, da anarquia do bem, o Rio "onde a praia não distingue o pobre do rico", como diz Narcisa Tamborindeguy. Logo percebe-se que Temple escolhe justamente as declarações mais absurdas - como a da senhora da Zona Sul que diz que a ditadura não foi tão ruim assim - para deixar claras as falácias em torno desse suposto Rio de Janeiro templo da democracia racial e social.

Da origem do samba às letras do funk proibidão, tudo no filme é examinado pela ótica da exclusão. Vêm de Marcelo Yuka - cuja tragédia que o deixou paraplégico é recontada no filme - os depoimentos mais contundentes, e fica evidente que Temple tem mais trânsito entre os músicos mainstream do Rio que fazem (ou fizeram, no caso de Dado Villa-Lobos) do protesto uma bandeira.

Se sobra a ridicularização da elite e falta ir mais à fundo nas comunidades - falta, acima de tudo, visitar um único baile funk no morro para entender que calor é esse de que Rio 50 Graus tanto fala - o documentário tem imagens de sobra para mostrar a verdadeira cara da cidade, representada, entre outras figuras à beira do folclore, pela prostituta transsexual que diz gostar de sexo e também de dinheiro, síntese de uma cidade travesti que vive de contradições.

Nota do Crítico
Bom

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