Mais decisivo do que a reunião de Jesse Eisenberg e Kristen Stewart, que contracenaram em Férias Frustradas de Verão e atuarão juntos de novo no próximo filme de Woody Allen, é o encontro em American Ultra (2015) do roteirista Max Landis, de Poder sem Limites, com o diretor Nima Nourizadeh, de Projeto X. O talento dos dois para pensar e executar filmes em torno de cenas de ação com efeitos visuais contemporâneos é o forte de American Ultra.
Na trama, ambientada numa cidadezinha modorrenta da Virginia do Oeste, Mike (Eisenberg) é um maconheiro desmotivado, caixa de uma loja de conveniência, que está esperando o momento certo para pedir sua namorada (Stewart) em casamento. Para isso, porém, eles terão que sobreviver a uma noite de terror quando Mike descobre que, na verdade, é um assassino hipertreinado que teve sua memória apagada pela CIA.
Nourizadeh se esmera em transformar seu orçamento de US$ 28 milhões em cenas de ação que aproveitem a estética de efeitos visuais dos found footage como Poder sem Limites, em que a coreografia de luta tradicional é substituída por intervenções digitais. American Ultra é um filme cheio de firulas de câmera e montagem, mas não deixa de ser interessante ver como Nourizadeh resolve, com essas intervenções, em falsos planos-sequências, cenas como a batalha climática dentro do supermercado. Um diretor que consegue transformar Jesse Eisenberg num Jason Bourne, ademais, tem mesmo que levar todos os elogios.
O que American Ultra não consegue é achar um tom próprio, entre sua premissa farsesca (que lembra bastante o Southland Tales de Richard Kelly, mas numa chave mais modesta) e sua visível homenagem aos filmes-modelos de contestação dos anos 90, como Assassinos por Natureza e O Grande Lebowski. As camisas de flanela de Kristen e Eisenberg não são por acaso: a nostalgia do grunge e do niilismo da emaconhada Geração X, que tem crescido nos últimos anos agora que se esgotou a nostalgia dos 80, é o motor de American Ultra.
Mas é preciso um certo comprometimento, um flerte com a destruição, para fazer um filme como Assassinos por Natureza, sempre no limite do caos. O que Landis e Nourizadeh fazem em American Ultra é uma versão calculadamente impressionista, controlada, desse caos. Os efeitos da violência nunca deixam de ser "de mentirinha", seja na brincadeira dos fogos de artifício, seja na maquiagem de próteses em Eisenberg, exagerada de propósito.
No fim, embora busque estabelecer um diálogo com outros cineastas dos anos 1990, talvez este seja o filme em que Max Landis melhor trabalhe com a herança de seu pai, John Landis, que fazia nos anos 80 e 90 terrores, comédia e filmes policiais com o mesmo apelo farsesco. Ver as fisionomias deformadas dos heroís de American Ultra e lembrar do velho Landis da época de O Lobisomem Americano em Londres ajuda a dar ao filme de Nourizadeh um estofo que ele talvez não tenha.
Ano: 2014
País: Estados Unidos/Suíça
Duração: 96 minutos min
Direção: Nima Nourizadeh
Roteiro: Max Landis
Elenco: Kristen Stewart, Jesse Eisenberg, Topher Grace, Tony Hale, John Leguizamo, Walton Goggins, Connie Britton, Bill Pullman, Michael Papajohn, Monique Ganderton, Lavell Crawford, Nash Edgerton, Teri Wyble, Don Yesso, James Moses Black, Wayne Pére, Johnny McPhail, Vic Chao, Jim Klock, Lyle Brocato, Sope Aluko, Ilram Choi, Philip Fornah, Tyler Forrest, Stuart Greer, Freddie Poole, Michelle DeVito, Douglas Wilcox II, Nicolas Bosc, Sam Malone, Kyle Crosby, Mary Elizabeth Runyon, Alexander Eldimiati, Paul Andrew O'Connor, James Bendishaw, Garrett Hollingsworth, Joseph Fischer, Gabe Begneaud, Rachel Wulff, Jack Yang, Nick Stanner, Eyad Elbitar, Trace Cheramie, Isaac Hughes, John Bernecker
