O rapto do elfo e outras histórias do Anel
Noite em Wellington, Nova Zelândia. Dois homens invadem o quarto de Orlando Bloom e arrancam o astro de O Senhor dos Anéis para fora aos gritos. Dois cúmplices seguram as pernas do ator enquanto um dos seqüestradores segura os braços e o outro lhe dá uns tapas na barriga. Seja bem-vindo à investida de Sean Bean (Boromir) e Viggo Mortensen ao quarto do colega mais novo, com a ajuda de Billy Boyd e Dominic Monaghan, e Elijah Wood como testemunha, que todo mundo daria tudo para poder ver nos extras no DVD.
Por que todo mundo tem tanto interesse nisso? Todo ambiente de trabalho tem brincadeiras. Se Viggo Mortensen encontrou seu trailer cheio de peixes, quem já não deu de cara com uma ratazana de Bombril na gaveta do escritório?
O consenso geral é que somos fascinados pelas celebridades, com um desejo doentio de saber tudo que fazem a cada instante. É verdade, ou Harrison Ford não precisaria ter criado um personagem para sair na rua (quem já viu jura que ele fica irreconhecível).
De fato, o fascínio é com a vida alheia, mesmo que o alheio seja a vizinha que pensa que blusinha de barriga de fora é para quem tem barriga e usa um sapato plataforma que a faz parecer um canário de tamanco. Mas não tem a mesma graça quando os envolvidos não são famosos, nem tem um trabalho tão interessante quanto fazer cinema. E que melhor recheio para antes do filme nesse Natal do que as aventuras do elenco pela Nova Zelândia?
Não tenho o menor interesse em saber se um desses caras está namorando A ou B, a menos que A ou B fosse eu ou alguma amiga minha. Mas é legal saber que Orlando Bloom e Sean Bean ficaram dois dias presos no set por causa de deslizamentos de terra causados pela chuva e que isso os tornou um tanto próximos. Ainda mais aqui em São Paulo, onde todo mundo tem uma história de enchente para contar. Ou duas, ou três. Claro que poucos aqui teriam se metido nessa como Sean Bean, que não quis voar até o local das filmagens por medo e acabou tendo que ser resgatado de helicóptero, segurando o joelho de Orlando Bloom com tanto pavor que quase quebrou a rótula de Legolas. Se bem que com tantos ossos quebrados antes e durante as filmagens, talvez ele nem notasse mais esse. Peter Jackson, no entanto, poderia ter ido parar no hospício com as estrepolias do elenco, que resolveu surfar e voltou com Viggo Mortensen com o rosto estourado depois de atingido por uma prancha. É por isso que nas cenas das Minas de Moria ele só aparece de um lado (e eu que pensei que era porque aquele lado era mais bonito). O outro só servia para O Touro Indomável.
Aliás, não tem coisa mais divertida do que falar como aquele cara coberto de poeira, e que parece que jamais lava o cabelo, é sexy até o talo e as sementes. Faça o teste. É comentar e ver os homens em volta torcerem o nariz. Vai tornar sua fila de espera na bilheteria bem mais divertida. Nem a chefia aqui no Omelete se conforma que a mulherada não pára de suspirar por Aragorn. Perguntaram isso até para a Miranda Otto. Mas veja bem que história: Aragorn conheceu Arwen quando tinha uns 20 anos e recebeu ordem do sogro, Priscila - A Rainha do Deserto, para olhar com os olhos e lamber com a testa até retomar o trono de Gondor, o que só acontece quando ele já está com mais de 80 anos (sim, no filme ele já tem 80 e tantos - cortesia do sangue dos reis). Isso é que é compromisso! Bem diferente de alguém que eu conheço que saiu com uma garota, encheu o latão e, enquanto ela foi ao banheiro, foi embora da danceteria com outra (não, nenhuma das duas era eu). Deu pra entender o motivo de nós gostamos de Viggo Mortensen? É, deu. Mas, os homens não sacaram. Devem ser aqueles neurônios a mais que dizem que eles têm. Devem estar todos reunidos no cotovelo. É por isso que ele dói.
Mas, não se preocupem, até as mulheres da Terra-média sabem a diferença entre meninos para ficar e meninos para casar, e é por isso que Éowyn no final acaba com alguém tão corajoso quanto Aragorn, mas que sempre aparece limpinho no filme.
Isso tudo está parecendo conversa de fã enlouquecido, papo de nerd, ou excesso de panetone? Que seja, mas é bom para ocupar o tempo e não irrita tanto quanto se perguntar por que não temos ingressos numerados no cinema e a versão estendida não é lançada em DVD no Brasil.
