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Círculo de Fogo | Exclusivo! Visitamos o centro de comando dos robôs gigantes!

Estivemos no set do filme e conversamos com Guillermo Del Toro sobre o seu "poema com monstros"

09.07.2013, às 19H01.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H44

Banner Coyote Tango Circulo de Fogo

Assim como o Brasil, a televisão mexicana exibia nos anos 1980 uma extensa produção japonesa à tarde. Era a oportunidade perfeita para os meninos mexicanos assistirem a seriados "tokusatsu" como Spectreman, Ultraman ou animes clássicos, como os filmes de Osamu Tezuka. Guillermo del Toro foi uma dessas crianças, criadas por programas realizados a um mundo de distância. Foi esse conhecimento adquirido na infância que levou o premiado diretor ao filme Círculo de Fogo (Pacific Rim), um "poema com monstros", como ele mesmo o define.

Apaixonado por criaturas e robôs gigantes, o cineasta de O Labirinto do Fauno e Hellboy estava envolvido como produtor em Círculo de Fogo desde o início, mas só decidiu dirigi-lo quando Nas Montanhas da Loucura foi cancelado - depois de anos de negociação. "Ouvi a notícia na sexta e entrei como diretor na segunda", contou-me Del Toro em uma manhã chuvosa em Toronto, quando visitei o set do filme no Pinewood Film Studios (onde o filme era chamado pelo nome-código "Mares Calmos".

Pacific Rim Jaeger Gipsy Danger 12Dez2012

"Resolvi fazê-lo pois precisava dirigir alguma coisa depois de tantos anos fazendo a pré-produção em O Hobbit [que ele dirigiria antes de Peter Jackson assumir] e na adaptação do livro de Lovecraft. Mas era perfeito para mim, pois amo esse gênero". O diretor, porém, confessa que optou por não rever nenhum dos filmes que assistia quando criança, para não realizar homenagens ou fazer nada muito parecido. "Usei as informações que eu guardo em meu DNA dos filmes de monstros japoneses. Se eu não as tivesse dentro de mim, se não amasse essas criaturas, não faria sentido algum realizar este filme", disse.

Essa paixão era sentida em todo o set. Sua atenção ao detalhe, notória em todos os seus filmes, podia ser vista em todos os cenários criados. Todos pareciam absolutamente reais, ainda que repletos das esquisitices adoradas pelo diretor. Visitei primeiro uma rua de Hong Kong, onde um apotecário (Ron Perlman, figura frequente nos filmes do mexicano) vende partes de monstros ilegalmente. Os pedaços espalhados pela loja eram engraçadíssimos, acondicionados em tanques, e exigiram enorme criatividade dos decoradores de sets para produzir texturas e formas.

Depois vi a enorme base de lançamento dos robôs gigantes, enferrujada e gasta; e, enfim, o centro de controle de um dos mechas. Dentro da cabeça do robô gigante chamado Gipsy Danger, os atores Charlie Hunnam e Rinko Kikuchi enfrentavam uma chuva de faíscas, vazamentos d´agua e tremores reais, já que todo o set estava preso em uma enorme base movida por pistões. Cada um, devidamente paramentado com seu uniforme/armadura, tinha os pés presos em um aparato mecânico semelhante a um aparelho de academia de ginástica e as mãos segurando outra haste. A ideia é que os movimentos ali fossem transmitidos ao robô - e Hunnam e Kikuchi sofriam no processo, já que passavam horas no aparato, movendo-se em sincronia.

Circulo de Fogo 24Jun2013 38

Na trama, que lembra temas clássicos do gênero (em especial o anime Evangelion), uma fenda submarina colossal se abre no ano de 2013 no Pacífico (daí o título do filme), criando uma passagem para outra dimensão. Por essa brecha, monstros gigantes, com 25 andares de altura, começam a surgir, primeiro anualmente, depois semestralmente e trimestralmente. Com os ataques aumentando em frequência e intensidade, a humanidade precisa defender-se e países diversos (Rússia, EUA, China e Austrália) criam robôs gigantes, os Jaegers ("caçadores" em alemão) para enfrentar as criaturas. Mas quase uma década depois, cada ataque consome recursos valiosos e sacode a economia mundial, exigindo uma resposta definitiva.

"Eu tenho que me lembrar constantemente dos personagens, de que este é um filme sobre pessoas com problemas que precisam enfrentar monstros gigantes", continuou Del Toro, em um raro momento de tranquilidade no set, já que dirige duas unidades de filmagens quase que simultaneamente.

Circulo de Fogo 24Jun2013 16

Para escolher o elenco, o cineasta empregou um de seus truques: um caderninho que carrega consigo o tempo todo, em que anota nomes e opiniões sobre atores e atrizes que assistiu e que lhe chamaram atenção. Ele selecionou nomes que achou que funcionariam para Círculo de Fogo e pediu informações a conhecidos sobre como eles são no set, se são fáceis ou não de trabalhar. "O estúdio não impôs grandes nomes e eu pude contratar todo mundo que queria", disse.

Para preparar o elenco, Del Toro realizou uma bateria de ensaios. Primeiro individuais, seguindo biografias detalhadas que ele criou para cada personagem. Depois fez ensaios em dupla, em trio e, enfim, em grupo. Para ele, a integração no set deveria espelhar um conceito fundamental de sua aventura futurista: o "drifting".

Pelos robôs serem colossais, dois pilotos são exigidos: um para comandar a parte esquerda, outro para a direita, como se fossem hemisférios do cérebro. Assim, as duplas precisam de uma harmonia além do comum. "Normalmente são pai e fillho, irmãos ou coisa assim, mas nosso filme acompanha dois pilotos que não se conhecem e que precisam aprender a trabalhar juntos. O drifting é difícil, pois conecta as duas mentes - e ambos partilham das experiências um do outro - é um processo muito íntimo", explicou.

Circulo de Fogo 29Mai2013

Por trás das câmeras

O diretor tem um estilo de direção orgânico, tendo frequentemente ideias no set e as incorporando no trabalho quase momentaneamente, desenhando storyboards na hora, mesmo que a ideia seja complexa. "As vezes parece que ele está doido, que não sabe o que está fazendo, mas aí percebemos que na verdade ele é o único que sabe o que está fazendo", comentou o produtor-executivo Callum Greene.

Para o produtor, um dos grandes apelos que o filme terá com as novas gerações, que não conhecem a tradição dos monstros contra robôs gigantes japoneses, será a relação com os videogames. "Guillermo quis colocar o público dentro da luta - no comando desses robôs".

Circulo de Fogo 24Jun2013 04

Para viabilizar esse épico, era necessária tecnologia de ponta e a escolha da Industrial Light and Magic como estúdio responsável pelos efeitos especiais deu-se por três fatores. O primeiro é que Del Toro, como todo bom nerd, é grande fã da empresa. Além disso, quando pediram orçamentos para diversas empresas de efeitos, a ILM fez um teste de cena elaboradíssimo, que mostrou um monstro destruindo um quarteirão e avançando. Vemos no reflexo de um desses prédios de vidro espelhado, tão comuns em centros empresarias, um dos mechas correndo para enfrentá-lo - e ambos se engalfinham em socos. Del Toro ficou impressionado. O último fator foi a experiência da empresa em duas técnicas que seriam muito exigidas em Círculo de Fogo: criação de superfícies orgânicas (para os monstros) e metálicas (para os robôs). Para a primeira, o filme de Del Toro aproveitou-se de ferramentas utilizadas em Piratas do Caribe (especialmente no personagem Davey Jones). Para a outra, o que a ILM aprendeu realizando os três Transformers.

Essa experiência foi aplicada em mais de 1700 cenas com efeitos especiais, sendo que quase 20 minutos do filme são 100% gerados por computação gráfica. "A ILM está tendo orgasmos nerds com este filme", concluiu.

Depois de quatro anos sem filmar, Del Toro teve em Círculo de Fogo a oportunidade de despejar sobre o público outra de suas grandes paixões. "Sou um workaholic que gosta de monstros", concluiu, garantindo que assim que terminar de divulgar Cículo de Fogo começa seu próximo projeto, Crimson Peak.

A estreia de Círculo de Fogo está marcada para 12 de julho nos EUA e em 9 de agosto no Brasil. Confira o painel de Círculo de Fogo na Comic-Con e a entrevista que fizemos com Del Toro em San Diego.
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A estreia de Círculo de Fogo está marcada para 12 de julho nos EUA e em 9 de agosto no Brasil. Aguarde mais entrevistas exclusivas no Omelete!

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