Retratado como uma mistura de Bruce Lee com Rimbaud no documentário Gimme Danger, de Jim Jarmusch, exibido fora de concurso no 69° Festival de Cannes, o cantor performático Iggy Pop transformou sua passagem pela Croisette no evento mais concorrido - e engraçado - de todo o evento, desde seu início, há nove dias. Desbocado, cheio de energia e aberto a qualquer polêmica, o músico arrancou gargalhadas ao falar de sua longa jornada de loucuras pela estrada do rock'n'roll.
"Quando Jim me procurou para fazer o filme, atrás de material de arquivo meu, tudo o que eu tinha era uma foto dos meus pais, pois sou do tipo que joga coisas fora. Veja... na maior parte das imagens em que vocês vão me ver em Gimme Danger, eu estava sob efeito de algum barato. Era LSD muitas vezes. Mas apesar disso, minhas memórias ficaram. Tenho muito para contar", orgulhava-se Iggy, chamado por todos em Cannes de Mr. Pop. "Quando ficava doidão, eu parecia agressivo nos primeiros cinco minutos da onda, mas logo ficava doce, mansinho".
No filme de Jarmusch, o cantor relembra sua parceria com a banda The Stooges, que mudou a cena do rock no fim dos anos 1960 ao misturar jazz e R&B a seus acordes, demarcados nos palcos por uma postura ousada. A montagem do longa é assinada pelo paulistano Affonso Gonçalves, editor de Carol e da primeira temporada de True Detective.
"Nós, que fomos Stooges, somos uma metamorfose contínua nas memórias do rock. O que criamos não tinha lastro porque sabíamos muito pouco do mercado fonográfico. A gente chegava ao ponto de creditar na autoria das músicas qualquer cara bacana que nos ajudasse. Era um tempo distinto desse mercado digital de hoje, que me assusta", disse o cantor. "Um disse desses, eu estava numa praia, numa boa, e um garotão me abordou dizendo: 'Cara, que doido, eu adoro sua música. Escuto neo techno, eletro, mas tambem curto velharias como a tua'. Responder o que prum cara desses".
Sobre drogas, Iggy disse ter dado um tempo:"Todo mundo que transa drogas deveria largar essas merdas. Hoje, só vou de vinho. Tem gente que se dá muito bem com maconha. Mas o problema com erva é que, ao dar um tapinha, você sempre atrai uma rodinha dizendo: 'Ah! Tá na maconha? Prova este cogumelo aqui. Ah! Tá no cogumelo? Prova essa mescalina aqui.' A vida é dura".
