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As Jovens Polacas leva às telas a história das escravas brancas do Rio de Janeiro

Alex Levy-Heller fala ao Omelete sobre o filme que ele dirige com base no livro de Esther Largman

05.11.2017, às 11H04.
Atualizada em 05.11.2017, ÀS 12H04

Disputado por cineastas desde sua publicação, em 1992, o livro Jovens Polacas, uma pesquisa de Esther Largman sobre europeias transformadas em escravas sexuais na rota de prostituição do Rio de Janeiro no início dos anos 1900, enfim virou filme, sob a direção de Alex Levy-Heller. Ele fala ao Omelete sobre a adaptação, que está sendo realizada na capital fluminense.

Realizador do documentário O Relógio do Meu Avô, sobre memórias do Holocausto, o cineasta passa em revista nesta produção de baixo orçamento uma outra diáspora, esta feminina, de judias que chegaram ao Brasil com promessas de trabalho e acabaram transformadas em garotas de programa. Uma lenda do humor no país está no elenco: a veterana atriz Berta Loran, que interpreta Dona Sarita, fonte viva dos fatos que passaram com as "polaquinhas". A fama do livro, sobretudo no ambiente universitário e entre as associações judaicas, faz do projeto - já rodado e em fase de edição - um dos filmes nacionais mais aguardados para 2018.

"Li o livro de Esther aos 13 anos e fiquei encantado com aquele relato, sobretudo por sua força feminista, uma vez que as 'polacas' se uniram para construir um cemitério, no bairro de Inhaúme, onde pudessem ser enterradas com dignidade, em sua fé, uma vez que não podiam frequentar sinagogas por conta de sua ocupação. Essa é a história de mulheres enganadas pela promessa de uma vida melhor no Mundo Novo que o Brasil representava. Essas judias chegavam ao Rio de Janeiro, vindas de diferentes partes da Europa, e iam parar em prostíbulos, forçadas a servir sexualmente clientes dos homens que a importavam", diz Levy-Heller nas instalações do filme na Vila Mimosa, lendário conjunto de prostíbulos a céu aberto do Rio. "Nós encontramos um casarão nas imediações da Vila e tentamos recriar lá, com o máximo de capricho e com um tom poético, aquele universo."

Na trama filmada por Levy-Heller, Ricardo, um jornalista vivido por Emilio Orciollo Netto, realiza uma pesquisa para sua tese de doutorado sobre as ditas "escravas brancas". Conhecidas como polacas, essas mulheres judias do Leste Europeu vinham para cá, muitas vezes, casadas com algum Don Juan profissional cujo dom era seduzir jovens com ilusões de romantismo e de um futuro próspero em solo americano. Ao chegar aqui, descobriam que seus supostos maridos eram na verdade cafetões que as traficavam para a prostituição no Rio de Janeiro. Ao ser entrevistada por Ricardo, a Sra. Mira (papel de Jacqueline Laurence) revela com detalhes a vida e rotina de sua mãe, uma das "polacas", e, dessa maneira, faz as pazes com o obscuro passado. Lorena Castanheira é um dos destaques do elenco, que inclui ainda Flavio Migliaccio no papel de seu Abraão.

"Apesar de forçadas à prostituição, muitas polacas sentiam ciúmes de seus cafetões e brigavam por eles. E havia muita tensão entre elas. Descobri a história de uma polaca que mandava dinheiro para custear os estudos do filho, na Áustria. Um dia, uma colega dela, com inveja, mandou ao menino uma carta revelando de onde vinha o dinheiro e o garoto se matou"
, diz Levy-Heller. "No filme, brincamos com a fragmentação da memória, a partir dos relatos de dona Mira, mas apostamos na força feminina daquele mundo, daquele tempo."

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