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As Testemunhas

Início da AIDS, nos anos 80, é tema do novo trabalho do veterano André Téchiné

29.09.2007, às 12H00.
Atualizada em 08.01.2017, ÀS 19H03

As Testemunhas (Les Témoins, 2007) é uma ótima oportunidade para descobrir como foi o inicio da epidemia da AIDS, nos anos 80. O veterano diretor André Téchiné realiza uma obra sensível sem ser piegas envolvendo relacionamentos dos mais diversos gêneros. Impressiona como ele trata o assunto sem cair nos clichês ou na tentação de polemizar um tema que merece atenção e respeito.

A história acontece no verão de 1984. Manu (Johan Libéreau), rapaz de vinte anos, desembarca em Paris em busca de trabalho. Ele divide com a irmã Julie (Julie Depardieu) um quarto num pequeno hotel. Enquanto ela estuda canto lírico e vive mergulhada na música, Manu sai à noite com freqüência. Certo dia, ele conhece Adrien (Michel Blanc), um médico gay de 50 anos, culto e extrovertido. Os dois compartilham uma alegre amizade e, na companhia de Adrien, Manu descobre um novo estilo de vida. Numa viagem de barco no Mediterrâneo, Adrien apresenta ao rapaz os recém-casados Mehdi (Sami Bouajila) e Sarah (Emmanuelle Béart), que acabam de ter um filho.

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O complexo ser humano

Téchiné, que co-escreveu o roteiro com Laurent Guyot e Viviane Zingg, é um especialista nas relações humanas. Seus filmes costumam investir fundo na descoberta das camadas que formam um individuo. A sociedade tem papel fundamental durante a abordagem. Não pelos dogmas, mas sim pela convivência diária entre as pessoas. Através desse olhar, percebe-se que o cotidiano de cada personagem vive em constante intersecção com o de outros. Pequenas causalidades determinam os futuros acontecimentos. Sentimentos como o amor, amizade e seus opostos são dissecados para provocar uma reflexão sobre a própria existência.

O cineasta equilibra os contrastes utilizando a personalidade de cada uma de suas figuras dramáticas. As características pessoais formam um jogo cênico em que a inocência preenche a experiência, o desejo afaga o preconceito e o ciúme confronta a insegurança. A diversidade sexual sempre é tratada de forma corriqueira e não como algo errado e doentio. Não há buscas por uma explicação psicológica dessas escolhas. Cada individuo procura dar asas aos seus sentimentos.

Téchiné utiliza certos maneirismos técnicos para justificar a filosofia através das imagens. Temos, por exemplo, a maneira como Sarah sempre é capturada com uma luz predominante amarela. Completando o quadro, o cenário e os elementos de cena abusam do mesmo tom. Isso demonstra que Sarah possui um universo singular dentro da trama. Apesar de participante, tem um distanciamento. Isso se materializa através das funções que exerce durante a narrativa. Ela está escrevendo um livro e às vezes funciona como uma espécie de narradora da história.

E a escolha do elenco não podia ser mais perfeita. Todos interpretam com requinte as nuances complexas que permeiam o ser humano. As motivações são reais e os sentimentos apresentados dialogam com a vivencia de cada espectador. Percebe-se que Téchiné trata seus personagens como testemunhas trágicas de suas idéias. Analogicamente, o público participa da mesma forma. Uma interessante maneira de apresentar um reflexo de nossa realidade.

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