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Há uma grande paixão na comédia romântica infantil ABC do amor (Little Manhattan, 2005). É a paixão que os novaiorquinos sentem por sua cidade. Em sua narrativa em primeira-pessoa, Gabe (Josh Hutcherson) não diz, assim, com todas as letras, que ama Nova York. O que bate mais forte para ele é a palpitação que dá quando Rosemary (Charlie Ray) aparece na sua frente. A menina sempre estudou com ele na mesma escola, mas só agora, com onze anos, é que Gabe começa a prestar atenção nela. O sentimento é arrebatador e cresce quando eles passeiam pelo Greenwich Village, pelo Central Park, pela Broadway... Um clássico primeiro amor, não há dúvidas. Mas pela lente do diretor Mark Levin não é difícil perceber qual é a outra declaração de amor que se faz na tela. A geografia da região descrita no título original, avenidas 3rd e 5th, cortadas pela rua 57th, surge idealizada na tela: sem carros congestionados em vias arborizadas, sem stress ou correria, lugar em que um garoto como Gabe pode andar com seu patinete sem encher a mãe de preocupações. É a Nova York civilizada que abraça a todos: o cantor do restaurante chique é indiano, o menino que faz judô com Gabe e Rosemary é árabe... Assim, como uma sugestão, Levin monta na tela a metrópole perfeita, tolerante e apaixonada. Surpreende, diante de tanta coesão de idéias e conceitos transmitidos via subtexto, saber que este é apenas o primeiro filme do diretor. Mas um ponto alto em seu currículo sugere de onde veio tanto know-how: Anos incríveis. Levin era co-produtor e editava alguns roteiros da cultuada telessérie infanto-juvenil. Na comparação fica evidente. As narrações em off, o mundo adulto visto pelo pré-adolescente, as desilusões como cimento do caráter, tudo em ABC do amor lembra Anos incríveis. E Hutcherson, que aqui tem muito mais espaço para aparecer do que no emperrado Zathura, sai-se muito bem como o Kevin Arnold da vez. Da série o filme empresta mais um elemento: a noção consciente de momento histórico. Os incríveis anos 60 eram marcados pelo começo do fim do american way. ABC do amor capta bem a vontade novaiorquina de apagar o terror, de dar a volta por cima e revalorizar a auto-estima. Tem algo a ver com a história do pequeno Gabe: neste simpático libelo pró-superação, o que importa no primeiro amor não é ganhá-lo, mas aprender com ele.
Ano: 2005
País: EUA
Classificação: LIVRE
Duração: 90 min