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Amém | Crítica

<i>Amém</i>

09.10.2003, às 00H00.
Atualizada em 04.11.2016, ÀS 09H08

Amém
Amen, 2002 - 132 min.
França, Alemanha, Romênia, EUA
Drama/Guerra

Direção: Costa-Gavras
Roteiro: Costa-Gavras, Jean-Claude Grumberg, Rolf Hochhuth


Elenco: Ulrich Tukur, Mathieu Kassovitz, Ulrich Mühe, Michel Duchaussoy, Ion Caramitru, Marcel Iures, Friedrich von Thun, Antje Schmidt, Hanns Zischler, Sebastian Koch

Neste fim de semana de feriado religioso, três estréias abordam o tema de maneiras diferentes. Padre Marcelo Rossi homenageia Nossa Senhora, Amos Gitai escava o conturbado nascimento do Estado judaico e Gosta-Gavras investiga o silêncio do Vaticano diante do Holocausto nazista. Escolha difícil, hein? Pois pense duas vezes antes de descartar, ou eleger, Amém (Amen., 2002). O polêmico cartaz que mescla a suástica e a cruz, assinado por Oliviero Toscani, autor das campanhas da grife Benetton, sugere uma ofensa que o filme não ostenta.

O cartaz impacta pela violência simbólica. O filme analisa e convence pelo racionalismo.

Baseado na peça The Representative (Der Stellvertreter), do dramaturgo alemão Rolf Hochhuth, encenada pela primeira vez em 1963, Amém acusa, de fato, a Igreja Católica de silenciar. Em certos momentos até acusa de cooperar com a perseguição anti-semita da SS, o exército do III Reich. Mas o método de denúncia é cauteloso, paulatino e, sempre que possível, baseado em fatos históricos. Constantin Costa-Gavras faz um cinema acessível, sem grandes floreios ou hermetismo. Poderia ser confundido com um daqueles inúmeros filmes sobre a Segunda Guerra, não fosse o conteúdo explosivo e inédito.

A narrativa é conduzida por dois personagens, o primeiro verídico, o segundo ficcional. De um lado, Kurt Gerstein (1905-1945), tenente da SS, perito em química - interpretado por Ulrich Tukur. Do outro, Riccardo Fontana (Mathieu Kassovitz), jesuíta, filho de um conde de enorme influência junto ao papa Pio XII. Criador do gás Zyklon-B, inicialmente desenvolvido para purificar a água dos soldados em campo de batalha, Gerstein assiste, pasmo, a um novo fim dado à fórmula: acelerar a morte dos prisioneiros nas câmaras de gás dos campos de concentração.

Cristão fervoroso, Gerstein se revolta. Procura os seus amigos protestantes, acaba encontrando ajuda em Riccardo. Mas o jovem jesuíta, mesmo munido de farta documentação e do testemunho do tenente, não consegue mobilizar a alta cúpula do Vaticano. A justificativa do papa, seus cardeais e bispos é, apesar de revoltante, de fácil compreensão. Mantendo uma boa relação com os alemães que tomaram Roma, evitam que o Vaticano seja invadido, saqueado, desrespeitado. Além disso, se colocar contra o Eixo seria aceitar Joseph Stalin (1879-1953) e os seus comunistas como aliados. Somando a isso a personalidade apaziguadora de Pio XII, configura-se um acordo nefasto de cavalheiros pela não-agressão mútua.

Como Costa-Gavras convence? Criando um exame moral sem posar de dono da verdade, elencando as razões oficialescas da Igreja sem que essas pareçam inverossímeis. Assim, nocauteia o espectador não pelo choque, mas pelo cansaço - o simples fato de exibir a burocracia hierárquica e diplomática da Igreja no seu auge gera uma raiva muito mais eficiente.

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