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A esta altura da sua vida você já deve ter visto pelo menos uma vez o filme Caçadores de emoção (1991), dirigido por Kathryn Bigelow e estrelado por Patrick Swayze e Keanu Reeves. Se não viu, deveria, e se continuar lendo esta crítica saberá agora qual como ele termina...
Continua lendo?
Então tá.
Na cena final, Bodhi (Swayze) pega sua prancha de surfe e entra em um mar impraticável em busca da onda perfeita. O que seria algo absurdo para muitas pessoas era para ele o grande motivo de sua existência. No documentário Riding Giants - No limite da emoção (2004), de Stacy Peralta, o que vemos é a busca de diversos surfistas por esta onda gigante e perfeita.
A história começa mostrando o que se especula ser o início do surfe, na Polinésia, passa pelo renascimento e conseqüente modismo do esporte na Califórnia dos anos 1940, e mostra alguns destes californianos se mudando para o Havaí nas décadas seguintes. Chamados por muitos de vagabundos ("surf bum"), tudo o que estes jovens pensavam era em pegar ondas. As roupas eram rasgadas e descuidadas, os cabelos longos, a comida era o que estava à mão. Ao olhar algumas cenas protagonizadas por estes caras, descendo ladeiras rolando dentro de tonéis, é possível dizer que eles eram os avôs do Jackass.
É nesta época que começa a despontar o nome de Gregg Noll. Este californiano se mudou para o Havaí para pegar ondas e acabou se tornando conhecido como o maior surfista de grandes ondas da sua época. Seu ponto era Waymea Bay, onde ainda hoje quebram ondas de botar medo em muita gente. Embora não seja documentada, o recorde da maior onda surfada pertenceu a Noll por muito tempo. Dizem que ele ficou sobre a prancha algo em torno de 15 minutos, vindo lá do fundo e parando só na areia.
Outro importante personagem para o filme é Jeff Clark. Também californiano, Clark se destaca por ser o descobridor de Mavericks, um pico perto de San Francisco que não deve nada ao que se vê no arquipélago havaiano. Clark conhecia o lugar, mas sabia que a proximidade com as rochas tornavam o surfe por ali muito perigoso. Mesmo assim resolveu se arriscar e aos poucos passou a dominar suas ondas. Seus amigos não acreditavam no que viam e resolviam ficar de fora, só apreciando. E assim foi por mais de uma década, apenas Mavericks e Clark, até que a revista especializada Surfer fez uma matéria sobre os dois. Mas, como Peralta fez questão de deixar bem claro quando fala da morte do havaiano Mark Foo (1958-1994) em Mavericks, o risco é constante.
O terceiro retratado é Laird Hamilton, tido como o maior surfista de ondas gigantes de todos os tempos. Hamilton é um dos inventores do "tow-in", em que o surfista é levado de jetski até a arrebentação e pega carona até estar em ondas que nunca teria forças para remar e dropar sozinho. Em um dos momentos mais espetaculares e merecidamente repetidos, Hamilton é mostrado naquela que é considerada a maior onda já surfada de todos os tempos. O tubo em que ele se mete é tão diferente que ele tem que usar a mão trocada para não ser engolido pela força da água. Algo absolutamente inacreditável.
E são cenas como estas que valem a pena em Riding Giants. Peralta, que já havia dirigido o documentário Dogtown & Z-Boys (2002), sobre a cena skatista da qual ele foi uma das principais figuras, mostra bastante intimidade também com o surfe, esporte que ele já praticava antes de partir para o asfalto. A trilha sonora, como não poderia deixar de ser, traz muito rock n roll de primeira e as entrevistas servem mais para ilustrar as cenas do que para acrescentar algo de mais concreto ao roteiro co-escrito por Peralta e o editor da Surfer Sam George.
Como deve ter percebido, o longa é feito para um público específico, que acredita no surfe como algo mais do que brincadeira de criança, ou modinha. Para saber de qual lado você vai ficar, responda com sinceridade à frase que foi dita por um dos giant riders: "Nos chamavam de surfistas vagabundos por perseguirmos ondas, mas se nossa busca fosse religiosa seríamos chamados de vagabundos religiosos?"
Ano: 2004
País: EUA, França
Classificação: LIVRE
Duração: 105 min
Direção: Stacy Peralta
Roteiro: Stacy Peralta, Sam George
