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Sem Notícias de Deus | Crítica

<i>Sem notícias de Deus</i>

22.04.2004, às 00H00.
Atualizada em 03.11.2016, ÀS 04H27

Sem notícias de Deus
Sin noticias de Dios
França/Itália/Espanha/ México, 2001
Comédia - 95 min.

Direção: Agustín Díaz Yanes
Roteiro: Agustín Díaz Yanes


Elenco: Victoria Abril, Penélope Cruz, Demián Bichir, Fanny Ardant, Juan Echanove, Gael García Bernal, Emilio Gutiérrez Caba, Cristina Marcos, Gemma Jones, Bruno Bichir, Elena Anaya, Peter McDonald

Espanhóis são chegados num exagero. A sua cultura vai além do habitual calor latino e chega a uma impulsividade quase insana. Só uma cidade como Barcelona abrigaria a delirante Igreja da Sagrada Família de Gaudí. Poucos cineastas foram capazes de flertar com o Surrealismo como Buñuel. Aliás, o Surrealismo deve a sua popularização à obra de Dalí. Já a característica básica de todo Picasso é a emotividade e a radicalização. Por sua vez, a dança de Joaquín Cortez não tem as sutilezas do cinema de Pedro Almodóvar, mas ambos buscam sempre situações limítrofes. E as touradas portuguesas são brincadeira de ciranda perto do jogo de morte das arenas hispânicas.

Mas como separar a legítima experiência passional da manifestação que somente ecoa o estereótipo espanhol? A vocação metafísica e a religiosidade burlesca de Sem notícias de Deus (Sin noticias de Dios, 2001) fazem o filme se adequar bem à verve nacional, mas o que de fato o diretor Agustín Díaz Yanes tem a oferecer de novidade?

Na trama, o céu está à beira da falência: não há almas novas para sustentar a estrutura faraônica do paraíso. Já no inferno, a superlotação, as más condições de higiene e a igualdade de tratamento incomodam os megaexecutivos norte-americanos e ingleses que se imaginam superiores às centenas de africanos, asiáticos e latinos. Para mostrar serviço, o gerente do inferno (Gael García Bernal) envia à Terra a agente Carmen (Penélope Cruz) para buscar uma alma toda especial, a do boxeador decadente Manny (Demián Bichir). O céu contra-ataca: a gerente (Fanny Ardant) escolhe a angelical Lola (Victoria Abril) para encarnar na esposa de Manny e, assim, tentar trazê-lo para cima.

Já dá para visualizar: a seleção eclética de astros e estrelas surgirá em situações absurdas, personagens assumidamente caricaturais provocam desenlaces fantasiosos. Mas a história não tem nada de ingênua, como pode parecer. Pelo contrário, o diretor e roteirista Yanes não esconde a sua pretensão. Ele dá o recado sem perder tempo: o céu é uma Paris em preto-e-branco, como um musical dos anos 50 em que só se fala francês. Enquanto a Terra vive dilemas debatidos em espanhol, a língua oficial do inferno, lugar tomado por homens briguentos e mulheres vulgares, é o inglês.

Quanto maior a ambição, maior o risco do tombo. E se pensarmos naquela pergunta acima, a respeito da originalidade, o filme começa mal. A seqüência de abertura - um diálogo existencialista que precede um assalto - remete imediatamente ao início não-linear de Pulp Fiction (1994). A sombra de Tarantino persiste até o fim, mas são igualmente recorrentes as citações de filmes norte-americanos de boxe e mafiosos. A estética e a trilha sonora moderninha também seguem a linguagem hollywoodiana, como uma tentativa de impor o chamado cenário cool. E o que dizer de outra "coincidência": em Corra Lola, corra (Lola rennt, 1998), a heroína também se chama Lola, e faz de tudo para livrar a cara do seu amado metido em revenda de jóias, que também se chama Manny.

O fato do filme condenar os norte-americanos ao inferno e, ao mesmo tempo, recorrer ao imaginário daquela cultura para sustentar-se, é a menor das contradições. O grande problema de Sem notícias de Deus é não encontrar uma identidade toda sua em meio a esse acúmulo de pequenas paródias.

A participação de Penélope Cruz é a síntese desse problema. Apesar de ter uma beleza quase insultante, a atriz não tem mais personalidade do que um manequim - e acaba escalada justamente para o papel que exige mais personalidade, presença de espírito. Excessivo em todos os aspectos, falta ao filme justamente um espírito.

Nota do Crítico
Regular
Sem Notícias de Deus
Sin noticias de Dios
Sem Notícias de Deus
Sin noticias de Dios

Ano: 2001

País: Espanha/França/Itália/México

Classificação: 14 anos

Duração: 95 min

Direção: Agustín Díaz Yanes

Roteiro: Agustín Díaz Yanes

Elenco: Victoria Abril, Penélope Cruz, Gael García Bernal, Fanny Ardant

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