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Dá até pra imaginar John Duigan, o roteirista e diretor de Três vidas e um destino (Head in the clouds, 2004), tendo as primeiras idéias de seu filme: "Épicos românticos de guerra existem aos montes, mas estou com vontade de fazer um, então preciso enfiar algo diferente nele. Que tal um ménage à trois?".
A premissa até que não era tão ruim. Uma artista plástica rica e libertina, um professor idealista e uma enfermeira espanhola ex-prostituta vivem um amor socialmente inaceitável no turbilhão cultural que era Paris às vésperas da Segunda Guerra Mundial. No entanto, o péssimo desenvolvimento da relação e a total falta de sensualidade entre os três condenam o filme ao esquecimento.
Charlize Theron, Penélope Cruz e Stuart Townsend vivem os protagonistas, mas os dois últimos não conseguem em momento algum sair da sombra da atriz vencedora de um Oscar por Monster. No papel de Gilda Bessé, Theron é tão mais linda e interessante que os outros dois que fica difícil acreditar que aquela relação realmente existiria. De fato, é muito mais verossímil o momento em que a personagem se envolve com um oficial nazista (Thomas Kretschmann) durante a ocupação alemã na França. Ironicamente, a atriz está prestes a se casar com Townsend na vida real... o que prova que há algo de muito errado com o ator, já que ele não consegue expressar nas telas um amor que já carrega.
Mas o fracasso não deve ser atribuído apenas aos atores. Um diretor precisa ter pouquíssima visão pra não aproveitar a oportunidade e apimentar sua cria com as cenas de sexo do trio - algo que certamente atrairia público para o longa. Afinal, a censura já era 18 anos de qualquer forma e o sexo não seria gratuito, já que faz parte da história. Mas não... o filme é menos sexy que um comercial de shampoo. Nem as sugestões funcionam.
Sem o ménage, vira só mais um filme de guerra. Sem os conflitos do romance coletivo, a personagem de Cruz, Mia, fica absolutamente dispensável. Sem orçamento para mostrar a escala do conflito, o diretor se restringe a uma morna trama de espionagem, quando o professor idealista - Guy - começa a auxiliar a Resistência Francesa.
Pra encurtar a conversa - algo em que John Duigan certamente não acredita, dado o tanto de tempo que ele leva pra dizer nada - salva-se apenas Paul Sarossy. O diretor de fotografia, colaborador frequente de Atom Egoyan, faz um trabalho de encher os olhos em Três vidas em um destino. Pena que beleza não é nada sem conteúdo.
Ano: 2004
País: EUA
Classificação: 16 anos
Duração: 132 min
Direção: John Dugan
Roteiro: John Dugan
Elenco: Charlize Theron, Penélope Cruz, Stuart Townsend, Thomas Kretschmann, David La Haye, Steven Berkoff, Karine Vanasse