Minha Irmã e Eu é comédia despretensiosa que cumpre o que promete

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Filmes

Crítica

Minha Irmã e Eu é comédia despretensiosa que cumpre o que promete

Carisma de Ingrid Guimarães e Tatá Werneck é o grande trunfo do filme, que deixa a desejar no drama

Omelete
4 min de leitura
08.01.2024, às 14H07.

Nova promessa de blockbuster da comédia nacional, Minha Irmã e Eu é um filme que conhece bem seus pontos fortes e escolhe um caminho certeiro e seguro para o diálogo com o grande público. Indo do drama familiar - uma história simples e de identificação universal - aos momentos cômicos que surgem dos imprevistos típicos de um filme de estrada, o longa dirigido por Susana Garcia dá espaço de sobra para suas protagonistas, Tatá Werneck e Ingrid Guimarães, brilharem.

A trama gira em torno das irmãs Mirian (Ingrid) e Mirelly (Tatá). Enquanto a primeira vive uma vida tranquila com a família em Rio Verde, no interior de Goiás, a outra ostenta uma rotina de luxo no Rio de Janeiro pelas redes sociais. O fato é que nenhuma das duas está satisfeita com as mentiras que criaram para si.

Mirian se ressente de não ter vivido mais do que o casamento com o namorado da adolescência e de ter passado boa parte da vida adulta cuidando da mãe, Márcia (Arlete Salles). Mas o anúncio da matriarca, em sua festa de 75 anos, de que vai morar com a caçula põe em risco a farsa criada por Mirelly, que finge ser amiga dos famosos e não tem dinheiro nem para pagar o aluguel. Ao descobrir que é motivo de discórdia entre as duas, a mãe some, e as filhas tentam, juntas, resolver a situação.

Duas craques da comédia, as atrizes aproveitam cada momento em cena. O estilo verborrágico de Tatá já conhecido da TV está lá o tempo todo, para o bem e para o mal: sendo bem-sucedido ao tirar sarro dela mesma e de sua fala na “velocidade 2x”, e também se estendendo além da conta em alguns improvisos, tirando um pouco o espectador da história.

Mas a intérprete se sobressai mesmo é no humor físico, que vai muito além das brincadeiras com a própria altura: sua performance corporal e gestual é divertida por si só e merece ser explorada no cinema. Um exemplo é a sequência com o boi, em que teoricamente ela é apenas coadjuvante, mas que acaba se tornando um dos pontos altos do filme. 

Apresentado nessa cena, o cowboy vivido por Leandro Lima aparece ainda em um momento de destaque de Ingrid, que provoca risadas sem nem precisar de fala, apenas tentando fazer um “carão” durante uma paquera. Além disso, a atriz se sai muito bem na tarefa de carregar a parte mais dramática da trama, na pele dessa mulher que guarda muitas frustrações e vai se descobrindo ao longo da jornada.

Minha Irmã e Eu também acerta ao fazer graça com o próprio showbusiness, seja comparando uma prisão de três meses a uma participação no “Big Brother Brasil” ou afirmando que “famoso não fica compadecido com ser humano, só com cachorro”. Mas nem sempre as piadas se justificam, e o ritmo da narrativa acaba prejudicado aqui e ali para o desenrolar de um novo esquete, como acontece em sua reta final.

Se na aventura há obstáculos, o filme se mostra ainda mais frágil no drama, pois falta desenvolvimento para os personagens e o mínimo de aprofundamento nos temas que menciona apenas superficialmente, sempre no registro cômico, como na abordagem de relacionamentos tóxicos.

É bem provável que o objetivo nunca tenha sido arriscar entrar em temas espinhosos, já que a produção mira em uma audiência de massa, mas nem mesmo o que deveria ser o coração da história, a relação conflituosa entre as irmãs, é bem fundamentada no roteiro assinado por Ingrid, Susana, Verônica Debom, Célio Porto, Leandro Muniz e Fil Braz. Em vez de trazer novas nuances para as protagonistas, as cenas de flashback da infância das “irmãs sereias inseperáveis” causam apenas estranhamento, com suas mudanças bruscas de tom na narrativa.

Outra questão que compromete o resultado final é a falta de suspense - e até de interesse de Mirian e Mirelly, muitas vezes - sobre o sumiço de Márcia. No melhor estilo Thelma & Louise (referência citada pelo próprio filme), as duas caem na estrada para... para que mesmo? Às vezes, com tantas distrações, é difícil lembrar. Por mais que elas digam que estão preocupadas com a mãe, suas atitudes não demonstram isso. 

Sem falar no desperdício que é não aproveitar mais a personagem incrível que é a matriarca - seu passado na música e sua vida amorosa -, que está na mão de uma grande atriz. Em vez disso, o filme está mais interessado em investir na participação especial de celebridades. No caso de Lázaro Ramos e Taís Araujo, a brincadeira funciona bem, mas não dá para dizer o mesmo de Chitãozinho & Xororó, dupla claramente fora da sua zona de conforto.

No fim das contas, Minha Irmã e Eu é uma comédia leve e despretensiosa que cumpre o que promete, mas deixa a sensação de que a comédia nacional de apelo popular tem potencial para ir mais longe se não subestimar seu público.

Nota do Crítico
Bom
Minha Irmã e Eu
Minha Irmã e Eu
Minha Irmã e Eu
Minha Irmã e Eu

Ano: 2023

País: Brasil

Direção: Susana Garcia

Roteiro: Ingrid Guimarães, Susana Garcia

Elenco: Tatá Werneck, Ingrid Guimarães

Onde assistir:
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