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Três personagens, três irmãos. O primeiro é um político bem-sucedido, que tenta manter uma frágil vida em família. O segundo, um bibliotecário voyeur e viciado em sexo. O terceiro, a Agnes do título, mudou recentemente de sexo e ainda está se adaptando à sua nova condição feminina. Ao fundo, um pai viúvo com um histórico de abuso infantil.
Com um quadro assim, é fácil construir um filme interessante. Agnes e seus irmãos (Agnes und seine brüder, 2004), do alemão Oskar Roehler, trata do íntimo sexual dos três irmãos, e cumpre bem o que propõe. O estilo da história e a temática lembram um bocado Almodóvar, mas o alemão consegue levar o ótimo elenco com eficiência, e imprime um charme pessoal à película.
São três histórias que correm paralelas às suas próprias crises. Não há um grande enredo, nem discussões profundas sobre sentimentos e perversões sexuais. Os irmãos se ocupam basicamente em resolver os seus dramas pessoais e saciar suas carências, cada um a seu modo.
Werner, o político, é o mais agressivo, encarnando uma macheza construída para esconder sua incapacidade de controlar qualquer coisa dentro de casa e do casamento congelado. Hans-Jörg é o retraído, do tipo que sua frio ao engolir suas perversões e frequenta grupos de auto-ajuda.
A transexual Agnes, apesar do título, acaba se tornando, de longe, a figura menos interessante dos três, apesar do carinho com que é tratada. Enquanto os outros dois irmãos vêm e vão nas suas crises, Agnes tem seu desenrolar feito de forma atropelada no enredo. A culpa é do desenvolvimento descontrolado do diretor, que acaba se tornando a grande falha do filme.
Se uma família desajustada é coisa fácil de se montar e de fazer prender a atenção do espectador, complicado é conseguir lidar com todos os elementos ali presentes. No fim das contas, são tantos os assuntos abordados por Roehler, tantos detalhes importantes que ele quer fazer vir à tona, que muita coisa fica perdida.
Mas, apesar dos problemas, Agnes e seus irmãos não é de todo ruim. Conquista a simpatia do público, principalmente aquele acostumado a se identificar com personagens de sexualidade bizarra. Não é um filme leve, mas é de fácil digestão. O que incomoda de fato é o final previsível.
Autor: Oskar Roehler
Ano: 2004
País: Alemanha
Classificação: 16 anos
Duração: 115 min
Elenco: Moritz Bleibtreu, Herbert Knaup, Katja Riemann